Trump: o plano tributário da Casa Branca pode afetar uma importante fonte de financiamento do setor de energia limpa (Carlos Barria/Reuters)
Da Redação
Publicado em 3 de outubro de 2017 às 17h32.
Nova York - O presidente dos EUA, Donald Trump, pode ter em breve a chance de provar que é errada a tese de que a economia matará a indústria de carvão do país e fará a energia limpa prosperar.
Tramitam duas iniciativas em Washington -- uma em apoio a grandes usinas de energia tradicionais e outra para impor tarifas aos painéis solares -- que podem permitir a Trump virar de cabeça para baixo os mercados de venda de eletricidade no atacado e eliminar a vantagem das fontes renováveis.
As medidas, que invocam leis que não são usadas há uma década, surgem em um momento em que o Congresso analisa um plano tributário da Casa Branca que pode afetar uma importante fonte de financiamento do setor de energia limpa. Juntas, elas levantam dúvidas quanto à possibilidade de a queda dos custos ser suficiente para que as energias eólica e solar continuem prosperando durante o governo de um presidente decidido a respaldar os combustíveis fósseis.
“O rumo, de forma geral, parece bastante claro”, disse Ethan Zindler, analista da Bloomberg New Energy Finance. “E se tudo isso se concretizar a notícia não será nada boa para as energias renováveis.”
A última novidade surgiu na sexta-feira, quando o secretário de Energia dos EUA, Rick Perry, conclamou a Comissão Federal de Regulamentação da Energia dos EUA (Ferc, na sigla em inglês) a ajudar o carvão e as usinas nucleares a competirem nos mercados de energia por atacado. O pedido, citando um obscuro estatuto de 30 anos atrás, é destinado a promover a segurança nacional recompensando as usinas capazes de armazenar 90 dias de combustível em suas instalações.
A proposta pode ajudar as centrais nucleares e de carvão a continuarem funcionando mesmo que suas operações não sejam econômicas, deixando menos oportunidades para que desenvolvedores construam novos parques eólicos e solares, disseram os analistas. Esta seria uma mudança significativa na abordagem da Ferc, em grande parte voltada ao livre mercado, em termos de regulamentação, e não está claro se a comissão formada por três membros -- dois deles nomeados por Trump -- concordará.
“Esta proposta é bastante radical”, disse Miles Farmer, advogado do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais (NRDC, na sigla em inglês). “A Ferc não precisa ouvir o Departamento de Energia -- de maneira nenhuma.”
Associações que representam os setores de petróleo, gás e energias eólica e solar estão unidas em oposição à ideia e apresentaram uma moção conjunta na segunda-feira exortando a Ferc a rejeitar a mudança.
Ao mesmo tempo, existe pressão para a aplicação de tarifas aos painéis solares importados, um assunto que não foi levantado pela Casa Branca, mas que em breve estará sobre a mesa do presidente.
A Suniva, uma fabricante de painéis que entrou em falência, apresentou queixa comercial em abril com base em uma lei que não era usada com sucesso desde 2002. A empresa argumentou que foi prejudicada pela enxurrada de painéis baratos importados da Ásia e de outras partes do mundo. Agora, a Comissão de Comércio Internacional dos EUA tem até 13 de novembro para recomendar o tamanho, a abrangência e a duração de uma possível tarifa a Trump, que tem a palavra final.
A maior parte da indústria solar dos EUA se opõe à iniciativa, argumentando que os painéis estrangeiros baratos estimularam a expansão dos projetos de energia limpa e criaram dezenas de milhares de empregos. Se os preços dos painéis subirem, o desenvolvimento perderá força, dizem as empresas.