Economia

Trump poderá prejudicar China se colocar eletrônicos na mira

Os dados mostram que Trump está atacando as importações erradas na tentativa de reduzir o enorme déficit comercial com a China

Fábrica da OnePlus em Dongguan, na China (Qilai Shen/Bloomberg)

Fábrica da OnePlus em Dongguan, na China (Qilai Shen/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 3 de março de 2018 às 08h00.

Última atualização em 3 de março de 2018 às 16h19.

As tarifas propostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, para o aço e o alumínio não prejudicarão muito a China.

Se ele realmente quiser abalar a maior potência comercial, ele precisaria colocar na mira os produtos eletrônicos, brinquedos e têxteis.

Os metais corresponderam apenas a 5,1 por cento das importações feitas pelos EUA da China em 2016, mostram dados do Banco Mundial, mas as máquinas e os produtos eletrônicos representaram 48 por cento.

Artigos diversos, como móveis e brinquedos, representaram 16,5 por cento das importações. Têxteis e roupas equivaleram a 8,6 por cento.

Os dados mostram que Trump está atacando as importações erradas na tentativa de reduzir o enorme déficit comercial com a China: para conseguir isso, ele precisaria tomar medidas contra produtos de maior valor.

O problema é que a imposição de tarifas sobre bens como os produtos eletrônicos causariam repercussões para uma ampla cadeia de abastecimento global, prejudicando aliados dos EUA, como Japão, Coreia do Sul e Taiwan.

"Se Trump realmente quiser abalar as exportações da China para os EUA, ele terá que ir além dos painéis solares e pequenos pratos de aço e passar a itens de grande valor, como os produtos eletrônicos e de telecomunicações", disse Louis Kuijs, economista-chefe para a Ásia da Oxford Economics em Hong Kong.

"Qualquer tentativa séria de reduzir o déficit comercial dos EUA com a China precisará se concentrar nas grandes categorias."

Trump disse na quinta-feira que os EUA vão impor tarifas sobre as importações de aço e alumínio para proteger a segurança nacional, uma grande escalada de sua agenda comercial hawkish, que poderia afetar produtores da Europa à Ásia e desencadear uma retaliação global.

Ele disse que pretende assinar uma ordem formal na próxima semana para impor tarifas de importação de 25 por cento sobre o aço e de 10 por cento sobre o alumínio.

O anúncio foi realizado no mesmo dia em que Liu He, o principal assessor econômico do presidente chinês Xi Jinping, tinha programado uma reunião com a equipe econômica de Trump em Washington: o consultor econômico da Casa Branca, Gary Cohn, o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin.

As tarifas podem desencadear retaliações da China, maior produtor de aço e alumínio do mundo. Em uma declaração divulgada nesta sexta-feira, Wang Hejun, chefe da área de remédios comerciais e investigação do Ministério do Comércio da China, disse que as restrições provocariam "um grande impacto" na ordem do comércio internacional.

"Se as medidas dos EUA prejudicarem a China, a China tomará medidas junto com outros países afetados para proteger nossos próprios interesses", disse ele.

Os EUA usam o aço e o alumínio importados da China principalmente em produtos de médio e baixo custo que não afetam a segurança nacional, acrescentou Wang.

Wen Xianjun, vice-presidente da Associação da Indústria de Metais Não Ferrosos da China, também disse que a China e outros países tomarão as medidas de retaliação pertinentes, de acordo com uma mensagem enviada pelo WeChat para a Bloomberg nesta sexta-feira.

Pequim já iniciou uma avaliação sobre as importações de sorgo dos EUA e estuda a possibilidade de restringir as remessas de soja dos EUA - alvos que podem prejudicar o apoio a Trump em alguns estados agrícolas.

Embora a China represente apenas uma fração das importações desses metais nos EUA, o país foi acusado de inundar o mercado global e derrubar os preços.

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