Economia

Trump emplacou: BID terá presidente americano pela primeira vez

Movimento quebra tradição de 60 anos de ter um nome da América Latina na chefia do banco. Nome indicado pelo presidente americano teve apoio de 23 países

Bandeira dos Estados Unidos: eleição de Mauricio Claver-Carone para BID quebra tradição de mais de 60 anos (Al Messerschmidt/Getty Images)

Bandeira dos Estados Unidos: eleição de Mauricio Claver-Carone para BID quebra tradição de mais de 60 anos (Al Messerschmidt/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 12 de setembro de 2020 às 17h24.

Última atualização em 12 de setembro de 2020 às 19h24.

Os países que compõem o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) elegeram neste sábado, 12, o americano Mauricio Claver-Carone para presidir a instituição, quebrando uma tradição de 60 anos de ter um nome da América Latina na chefia do banco. A Argentina, europeus e o México chegaram a articular um boicote à eleição do americano, que foi frustrado após movimentos de bastidor do governo dos Estados Unidos para desmobilizar a resistência a Carone.

Desde a criação do BID, em 1959, a presidência do principal banco de desenvolvimento para a América Latina ficou com um dos países da região. Por já serem os maiores acionistas, os EUA costumam ficar de fora do rodízio de presidentes do banco, mas o presidente Donald Trump quebrou a tradição, em um gesto que incomodou parte dos países.

Na sexta-feira, depois que o México desistiu da tentativa de adiar a eleição, os argentinos retiraram a candidatura à presidência do banco e Claver-Carone passou a ser o único candidato para a eleição, que aconteceu neste sábado.

O mandato do presidente do BID, que é visto como um representante da América Latina em Washington, é de cinco anos. O atual presidente, Luis Alberto Moreno, foi eleito em 2005 e reeleito em 2010 e, novamente, em 2015. Claver-Carone assume em outubro a presidência da instituição.

A indicação de Carone atropelou o desejo do Brasil, que vinha trabalhando por uma candidatura própria e esperava ter o apoio dos EUA na disputa.

A proximidade do presidente Jair Bolsonaro com Trump e a rejeição dos americanos a uma indicação do governo do argentino Alberto Fernández pareciam abrir o caminho para a eleição de um brasileiro ao cargo. O posto era visto pelo Ministério da Economia como uma forma de ganhar influência na região.

Em junho, no entanto, os EUA surpreenderam ao anunciar a candidatura própria e o Brasil apoiou a Casa Branca. O País também ficou de fora das mobilizações para conter a eleição de Carone, o que atrapalhou os planos dos demais países.

Para postergar a eleição, seria necessário que 25% ou mais dos votantes estivessem ausentes no dia da eleição. A ideia era postergar a escolha do presidente para 2021, depois da eleição americana.

Claver-Carone não tem afinidade com o candidato democrata Joe Biden. Um porta-voz da campanha de Joe Biden afirmou ao jornal Miami Herald que Carone é "demasiadamente ideológico" e "pouco qualificado" para o posto.

Diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Claver-Carone é responsável pela retórica anti-socialista e pela política mais linha dura do governo Trump com relação a Cuba, Venezuela e Nicarágua.

Ele foi eleito com 66,8% do capital votante e apoio de 23 países da região.

 

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