Proposta do governo prevê aumento de tributação das bets para 18% como alternativa ao reajuste do IOF (Sergio Lima/AFP)
Publicado em 9 de junho de 2025 às 06h36.
Última atualização em 9 de junho de 2025 às 07h52.
O governo federal decidiu reformular a estratégia de arrecadação fiscal após negociações com o Congresso Nacional. Em reunião realizada neste domingo, 8, na residência oficial presidente da Câmara, Hugo Motta, líderes da Câmara e do Senado ouviram do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a proposta de substituir parte do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) por novas medidas de compensação.
Entre os principais pontos, está o aumento na tributação das empresas de apostas online, as bets, com a alíquota passando de 12% para 18%. A iniciativa busca equilibrar a arrecadação diante da pressão para revogar o decreto que elevava o IOF, anunciado pelo Ministério da Fazenda em maio.
Além disso, o governo pretende encerrar a isenção de Imposto de Renda sobre títulos de renda fixa como Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). Esses papéis passarão a ser tributados com uma alíquota de 5%.
“A Medida Provisória vai nos permitir recalibrar o decreto do IOF, fazendo com que a sua dimensão regulatória seja o foco da nova versão, e nós possamos reduzir as alíquotas do decreto original, que vai ser reformado conjuntamente. Os dois temas vão ser tratados juntos, porque por lei eu preciso dessa compensação”, disse Haddad.
O ministro também anunciou uma proposta de revisão de 10% nas isenções fiscais infraconstitucionais, estimadas em R$ 800 bilhões por ano. O impacto dessas medidas será sentido apenas a partir de 2026, segundo Haddad.
A ideia é iniciar um processo gradual de revisão de benefícios que, nas palavras dos parlamentares, causam distorções no sistema tributário brasileiro.
Haddad adiantou ainda que a arrecadação com o novo pacote será inferior à prevista com o decreto original do IOF, que esperava R$ 20 bilhões. Com a recalibração, o valor deve cair para aproximadamente um terço dessa estimativa.
Também está em análise uma uniformização das alíquotas da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) para o setor financeiro.
Atualmente, há três níveis: 9%, 15% e 20%. A proposta elimina a faixa de 9%, concentrando os percentuais entre 15% e 20%, o que deve atingir especialmente as fintechs.
A Medida Provisória com o novo conjunto de medidas será apresentada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva após sua volta da viagem à França.
“Terça de manhã submeto ao presidente o que foi acordado aqui," disse Haddad.
Haddad também informou que a redução do IOF terá efeitos obre a operações de “risco sacado”. A alíquota será reduzida em 80%. Essa é uma operação que acontece quando fornecedores pequenos e médios tomam empréstimos nos bancos tendo como garantia vendas feitas a grandes empresas.
“O risco sacado vai ser o IOF mais afetado pela MP. A parte fixa do risco sacado desaparece e foi recalibrada a cobrança do diário para manter coerência com todo o sistema de crédito da forma como ele é tributado hoje”, disse Haddad.
A iniciativa do Ministério da Fazenda surge como resposta direta à reação negativa de parlamentares ao aumento do IOF, anunciado no fim de maio.
O decreto original previa arrecadação extra de R$ 20,5 bilhões e um congelamento de R$ 31,3 bilhões no orçamento de 2025, o que gerou críticas de deputados e senadores por ser uma solução sem articulação prévia com o Legislativo.
O presidente da Câmara, Hugo Motta, elogiou a disposição do governo em negociar. Para ele, o novo modelo proposto é menos danoso e marca o início de um debate sobre isenções fiscais.
Já o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, defendeu que o país precisa enfrentar o tema dos benefícios tributários estruturais, que superam, segundo ele, o orçamento combinado de educação e saúde.
O encontro deste domingo, que durou cerca de cinco horas, excluiu a oposição e envolveu apenas parlamentares da base aliada.