Engenheiros dizem que não é hora de investir R$ 30 bilhões no trem-bala
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2010 às 21h34.
São Paulo - Uma obra com "carga emocional muito grande" e pouca utilidade prática. É assim que o engenheiro e consultor em transportes Cláudio Senna Frederico descreve o projeto do trem de alta velocidade planejado para ligar a cidade de São Paulo à do Rio de Janeiro. "Em um país onde há tantos problemas a serem resolvidos, ainda não vale a pena gastar 30 bilhões de reais nesta obra", afirmou.
Senna participou de seminário na Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio), no qual foi discutido o projeto do trem-bala brasileiro. Ele insistiu no fato de que este meio de transporte "é um sucesso apenas porque é adorado, mas não tem objetividade nem eficácia."
Segundo o consultor, que foi secretário de Estado de Transportes Metropolitanos de São Paulo na década de 1990, há investimentos em infraestrutura mais urgentes e que, com um custo mais baixo, podem resolver grande parte dos problemas de transporte no Brasil. O principal exemplo é o do setor aéreo.
Análise feita pelo engenheiro mostra que o tempo médio "porta a porta" gasto em uma viagem de avião entre as cidades de São Paulo e do Rio é de quatro horas e 20 minutos. Este resultado inclui não apenas a duração de voo, de aproximadamente uma hora. Estão considerados também os traslados da origem até o aeroporto de partida, e do aeroporto de chegada ao destino final, além dos procedimentos antes do embarque.
No caso do trem-bala, que circulará a uma velocidade no intervalo entre 250 e 300 km/h, este tempo será de quatro horas e 25 minutos. O tempo dentro do trem gira em torno de duas horas e 50 minutos.
"A viagem de avião é mais econômica. Além disso, há alternativas para evitar o congestionamento aéreo. Para viabilizá-las, vai se gastar menos do que o valor da obra do trem de alta velocidade", observou Senna. Ele enfatizou que investir na modernização dos aeroportos brasileiros aumentaria a competitividade do país em um grau muito maior do que no caso da construção da linha férrea.
Benefícios
Apesar das críticas contrárias ao trem-bala, existem alguns pontos positivos em sua construção. Segundo o consultor na área de transportes Josef Barat, a obra significaria um salto "de zero a 100 em infraestrutura ferroviária" neste trecho entre Rio e São Paulo.
"No longo prazo, este projeto é um agente de desenvolvimento. Pode haver uma grande transferência de tecnologia para o país, e a interferência nos espaços urbanos que fazem parte do percurso do trem", disse Barat. Entretanto, ele lembra que seria preciso um planejamento detalhado e grande empenho dos governos municipais para tais ajustes.
O consultor declarou ainda que todos os benefícios só serão incorporados pelo país se os responsáveis pelo trem-bala não encararem o projeto "como apenas mais uma obra de engenharia. Se a visão for esta, então a inovação ficará restrita a esta linha, e não se ramificará em outras melhorias para os transportes no país", concluiu.
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