Economia

Trabalhar menos pode ser a solução para conter o aquecimento global

Reduzir a semana útil para quatro dias diminui o volume de carbono em cerca de 15%, segundo estudos divulgados pelo Greenpeace

A redução das emissões viria, especialmente, da menor necessidade de deslocamentos nas cidades (Getty Images/Getty Images)

A redução das emissões viria, especialmente, da menor necessidade de deslocamentos nas cidades (Getty Images/Getty Images)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 25 de maio de 2020 às 11h01.

Em meio aos esforços para a retomada da economia, alguns líderes defendem a redução da jornada de trabalho de cinco para quatro dias. É o caso da primeira ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern. Em vídeo publicado nas suas redes sociais, ela defendeu a medida como uma forma de estimular o turismo, uma das mais importantes indústrias do país, e auxiliar as famílias a retomar a rotina após a pandemia. 

“Se você é um empregador, eu o encorajo a refletir sobre a redução de jornada. Certamente, vai ajudar o turismo em todo o país”, afirmou Ardern, ressaltando que essa é uma decisão que cabe às empresas, em conjunto com os funcionários. 

Além da facilidade em balancear vida pessoal e profissional e do maior tempo para diversão, os defensores da medida contam com um argumento adicional a favor de se trabalhar menos: uma série de estudos indica que a semana de quatro dias terá um impacto relevante nas emissões, ajudando a conter o aquecimento global

O benefício foi levantado pelo escritório neozelandês do Greenpeace. Em artigo publicado na página da organização, Anupam Nanda, professor de economia urbana da Universidade de Reading, na Inglaterra, afirma que ter menos dias úteis na semana pode reduzir o volume de carbono na atmosfera em cerca de 15%. Em grande parte, esse alívio viria da menor necessidade de deslocamento nas cidades. 

Um outro estudo, conduzido por Nanda, aponta que, com quatro dias de trabalho, os britânicos deixariam de percorrer mais de 800 milhões de quilômetros por semana com seus automóveis. Mais da metade dos entrevistados reduziria a quilometragem semanal em 16 a 30 quilômetros. Ao todo, isso representaria um corte de 9% nas distâncias percorridas pelos carros. 

Um dia a menos de trabalho também diminuiria a demanda por uma série de produtos usados no dia a dia das empresas, com destaque para os itens de uso único, como copos descartáveis. Além disso, computadores e máquinas durariam mais, uniformes não seriam substituídos com tanta frequência e os escritórios precisariam de menos manutenção. 

O estudo realizado por Nanda reuniu dados de mais de 500 empresários e cerca de 2.000 trabalhadores. Apesar da expectativa positiva, o professor ressalta que existem alguns aspectos negativos de se reduzir a jornada. Caso as pessoas utilizem o dia extra para viajar de avião, por exemplo, na realidade, aumentariam as emissões. Outro problema seria uma elevação no uso de aparelhos domésticos de ar condicionado. 

A redução da semana também deixaria de atingir todo o seu potencial ecológico se as horas não trabalhadas forem compensadas nos outros dias. Para evitar este cenário, Nanda defende o aumento da produtividade por meio da tecnologia.

Acompanhe tudo sobre:Direitos trabalhistasGreenpeaceJornada de trabalhoNova Zelândia

Mais de Economia

Haddad: pacote de corte de gastos será divulgado após reunião de segunda com Lula

“Estamos estudando outra forma de financiar o mercado imobiliário”, diz diretor do Banco Central

Reunião de Lula e Haddad será com atacado e varejo e não deve tratar de pacote de corte de gastos

Arrecadação federal soma R$ 248 bilhões em outubro e bate recorde para o mês