Economia

Trabalhadores por aplicativos quase triplicam em 10 anos e já representam 2,1% da população ocupada

Dados do Banco Central mostram que modalidade mudou o mercado de trabalho de forma estrutural

Trabalhadores de aplicativo: BC estima que modalidade mudou o mercado de trabalho (Simon Dawson/Reuters)

Trabalhadores de aplicativo: BC estima que modalidade mudou o mercado de trabalho (Simon Dawson/Reuters)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 27 de setembro de 2025 às 08h01.

O número de trabalhadores por aplicativos — que inclui motoristas de Uber e 99, além de entregadores do iFood e outras plataformascresceu 170% em 10 anos e transformou estruturalmente o mercado de trabalho brasileiro, segundo dados do mais recente Relatório de Política Monetária do Banco Central.

“O número de trabalhadores por aplicativos tem apresentado crescimento robusto. Esse avanço foi impulsionado pelo surgimento de novas tecnologias e pelo baixo custo de entrada nesse tipo de atividade”, afirma o Banco Central no relatório.

Segundo dados da PNAD Contínua, entre 2015 e o segundo trimestre de 2025, enquanto a população ocupada no país cresceu cerca de 10%, o número de trabalhadores por aplicativos — grupo formado por profissionais em plataformas digitais de transporte de passageiros e entrega em domicílio — aumentou de 770 mil para 2,1 milhões, 170%.

Entre 2015 e 2017, o crescimento foi mais acentuado nos serviços de transporte de passageiros. De 2017 a 2021, o dinamismo foi maior nos serviços de entrega em domicílio.

Impacto de até 0,8 p.p na ocupação do mercado de trabalho

O estudo do Banco Central realizou dois exercícios para avaliar se o avanço do trabalho por meio de plataformas digitais representa uma mudança estrutural no mercado de trabalho.

No primeiro, os impactos estimados entre 2015 e o segundo trimestre de 2025 foram um aumento de 0,8 ponto percentual (p.p.) no nível de ocupação, 0,2 p.p. na taxa de participação e uma queda de 0,6 p.p. na taxa de desocupação.

No segundo exercício, os efeitos sugeridos foram semelhantes sobre o nível de ocupação (0,7 p.p.), mais intensos sobre a taxa de participação (0,6 p.p.) e um pouco menores sobre a taxa de desocupação (-0,3 p.p.).

“Os dois exercícios, considerados em conjunto, sugerem que o advento do trabalho por meio de plataformas digitais representa uma mudança estrutural no mercado de trabalho, que contribuiu para o maior ingresso de pessoas na força de trabalho e na ocupação, com efeitos positivos sobre os principais indicadores”, aponta o relatório.

iFood e Mottu fazem parceria e aumentam benefícios para entregadores

Entregador do iFood: número de entregadores cresceram nos últimos anos (@FERNANDO_SIGMA/Divulgação)

A conclusão é que o crescimento extraordinário do número de trabalhadores por aplicativos resultou em elevação do nível de ocupação e da taxa de participação, além de uma redução da taxa de desocupação.

Apesar do crescimento expressivo, a participação desses trabalhadores ainda é relativamente pequena: passou de 0,8% para 2,1% da população ocupada (PO) entre 2015 e 2025, e de 0,5% para 1,2% da população em idade de trabalhar (PIT) no mesmo período.

O Banco Central destacou que esse fator, aliado à mobilidade dos trabalhadores e ao prêmio salarial associado à troca de ocupação, ajuda a explicar o mercado de trabalho aquecido no Brasil. A autoridade analisa o cenário para avaliar a decisão de subir, reduzir ou manter a taxa de juros.

A EXAME mostrou que Brasil chegou ao "pleno emprego" com a informalidade na mínima e alta na renda do trabalhador. Os dados do BC reforçam esse cenário com o detalhamento das atividades que ganharam força nos últimos anos.

Essa resiliência do mercado de trabalho nos últimos anos é apontada por economistas como um dos aspectos para o crescimento da atividade econômica brasileira acima da expectativa dos agentes de mercado.

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