Economia

Tombini nega ter retardado alta de juros pela eleição

Copom decidiu manter Selic em 11% em setembro por entender que melhor opção era não reduzir taxa para poder conduzir a inflação para centro da meta, diz Tombini


	Alexandre Tombini: "A taxa Selic entra em todas as frestas da economia"
 (Denis Balibouse/Reuters)

Alexandre Tombini: "A taxa Selic entra em todas as frestas da economia" (Denis Balibouse/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de dezembro de 2014 às 14h38.

Brasília - O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, rebateu a acusação de ter retardado o aumento dos juros básicos em função das eleições para presidente da República.

Ele afirmou em audiência pública que o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic em 11% ao ano na reunião de setembro, às vésperas das eleições, por entender que a melhor opção era não reduzir a taxa na estratégia de conduzir a inflação para o centro da meta.

No entanto, segundo Tombini, a opinião da diretoria do BC começou a mudar ao longo do mês de outubro, quando começou um processo de fortalecimento do dólar no mercado internacional.

A mudança de estratégia, afirmou o presidente do BC, foi sinalizada pelo diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton, na divulgação do relatório de inflação, e por ele mesmo, quando participou da reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Declarei à imprensa, inclusive a brasileira, que não teria qualquer complacência em relação à inflação", afirmou.

De acordo com o presidente do BC, no início de setembro, quando o Copom decidiu manter a Selic em 11% ao ano, a cotação do dólar era de R$ 2,25.

Na reunião depois das eleições, em 28 e 29 de outubro, o dólar já estava cotado a R$ 2,50 e R$ 2,55.

"Diante desse quadro e da desvalorização do real de mais de 10%, aquela estratégia não era mais válida. Certamente, não improvisamos", afirmou.

O Copom aumentou a Selic para 11,25% três dias após as eleições. Na reunião seguinte, na semana passada, aumentou mais 0,5 ponto porcentual, para 11,75%, patamar que está hoje.

Tombini estava rebatendo a acusação do líder do DEM na Câmara, José Mendonça Bezerra Filho, que classificou o presidente do BC como "sobrevivente em um governo esquizofrênico" e ainda questionou a autonomia do BC.

Por sua vez, o presidente do BC disse que o ciclo de aumento de juros, de abril de 2013 a abril de 2014, foi de 3,75 pontos porcentuais, do tamanho de outros ciclos, como o de 2010 e 2004.

"Não há improvisação em relação ao tempo em que as decisões são tomadas", afirmou, sem rebater a acusação de que o BC não tem autonomia operacional.

Gastos públicos

O presidente do BC afirmou ainda que para conduzir a inflação para o centro da meta é importante o controle dos gastos públicos por parte do governo, porque só assim as ações de política monetária se tornam mais eficazes.

"Quanto mais apertada a política fiscal, tanto melhor para a política monetária. Senão, fica mais trabalhoso", afirmou Tombini. "Tenho falado isso há quatro anos", completou.

Imediatamente, um dos parlamentares retrucou: "O problema é que eles não lhe ouvem".

Tombini deu um sorriso amarelo e disse: "Enfim..." Para o BC, a política fiscal está caminhando num horizonte relevante de expansionista para a neutralidade. "Se está caminhando, ainda não chegou" afirmou.

Tombini explicou que o mercado de crédito desacelerou nos últimos anos.

Os bancos ficaram mais seletivos para conceder empréstimos e financiamentos.

Por isso, justificou, o instrumento da política monetária "é e continuará sendo" a taxa básica de juros.

"A taxa Selic entra em todas as frestas da economia", afirmou.

Sobre o tamanho das reservas internacionais que o país possui, Tombini disse que os cerca de US$ 375 bilhões representam algo em torno de 15%, 16% do PIB. Outros países emergentes, segundo ele, têm um colchão maior em relação ao PIB.

"Nossas reservas estão no pelotão intermediário em relação ao tamanho da economia do país", defendeu. Só no primeiro semestre deste ano, o custo da carregamento das reservas internacionais foi de R$ 71,5 bilhões.

Tombini: pequenos e médios bancos são segmento importante para sistema -

Sistema financeiro

Tombini defendeu também na Comissão Mista de Orçamento da Câmara que o segmento de pequenos e médios bancos é importante para o sistema financeiro.

"É um segmento importante, fundamental, inclusive para as questões concorrenciais", afirmou.

Segundo ele, houve um período, em função da crise de 2008, que ocorreram algumas questões relacionadas aos modelos de negócio, problemas esses que foram superados.

"Hoje esse segmento está mais forte do que estava antes da crise de 2008", afirmou.

Acompanhe tudo sobre:Alexandre TombiniEconomistasEleiçõesEleições 2014EstatísticasIndicadores econômicosPersonalidadesPolítica no BrasilSelic

Mais de Economia

Boletim Focus: mercado reduz para 4,63% expectativa de inflação para 2024

Lula se reúne hoje com Haddad para receber redação final do pacote de corte de gastos

Economia argentina cai 0,3% em setembro, quarto mês seguido de retração

Governo anuncia bloqueio orçamentário de R$ 6 bilhões para cumprir meta fiscal