Alexandre Tombini, presidente do Banco Central: o Comitê de Política Monetária dá início nesta terça-feira a dois dias de reunião (REUTERS/Paco Chuquiure)
Da Redação
Publicado em 19 de janeiro de 2016 às 11h15.
São Paulo - O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ampliou as chances de o Copom ser mais gradual no aperto monetário ou nem mesmo subir a taxa básica de juros esta semana ao afirmar que o colegiado leva em consideração todas as informações relevantes e disponíveis, pouco depois de o FMI divulgar uma piora nas previsões econômicas para o país.
O Comitê de Política Monetária dá início nesta terça-feira a dois dias de reunião para discutir a taxa básica de juros.
Até então, as expectativas majoritárias eram de aumento da Selic, atualmente em 14,25 por cento, em 0,5 ponto percentual na quarta-feira.
Mas com os comentários de Tombini divulgados em comunicado nesta manhã, especialistas destacaram que eles abrem caminho não apenas para um aumento de 0,25 ponto percentual apenas, como inclusive para a manutenção da Selic, dada a preocupação com a atividade econômica.
"Foi providencial, se de fato o BC estava considerando não subir os juros. Então acho que realmente aumentaram as chances de isso acontecer por conta da forte recessão que o país está enfrentando", avaliou o estrategista-chefe do Banco Luciano Rostagno, que entretanto ainda mantém a projeção de alta de 0,50 ponto percentual.
Os comentários de Tombini, que não são usuais, foram divulgados cerca de uma hora depois de o Fundo Monetário Internacional anunciar as revisões em seu relatório "Perspectiva Econômica Global", piorando a perspectiva de contração da atividade econômica brasileira em 2016 e não vendo mais retomada do crescimento em 2017.
Segundo o FMI, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve sofrer retração de 3,5 por cento este ano e ficar estagnada em 2017. Os números são piores do que as estimativas de economistas brasileiros ouvidos pelo BC na pesquisa semanal Focus.
No comunicado, Tombini avaliou como "significativas" as revisões para o Brasil feitas pelo FMI, e destacou que o Fundo "atribui a fatores não econômicos as razões para esta rápida e pronunciada deterioração das previsões".
No mercado, houve quem viu nos dados do FMI uma deixa desejada pelo BC.
"Parece uma desculpa para quem não quer subir juros", disse o sócio-gestor da Absolute Investimentos Renato Botto, ressaltando que há grande incerteza em relação à decisão do Copom desta semana.
Ele acredita que o BC deve elevar a Selic em 0,50 ponto percentual, mas que a decisão não deve ser unânime.
Já o mercado futuro de DIs passou a mostrar chances majoritárias de alta de 0,25 ponto percentual. Até a véspera, a curva indicava probabilidade maior de aumento de 0,50 ponto.
Para o ex-diretor do BC Mario Mesquita, que comanda a equipe de economia do Brasil Plural, Tombini indicou que seguirá um caminho mais "dovish" na reunião que termina quarta-feira.
"As autoridades tomaram a rara medida de emitir um comunicado após a divulgação da última rodada das projeções do FMI, que incluíram cortes substanciais para o desempenho do PIB brasileiro", disse Mesquista em nota a clientes.
"Agora esperamos que a Selic suba apenas 0,25 ponto percentual. Os próximos passos da estratégia de política monetária devem ficar aparentes no comunicado e na ata", acrescentou.
A postura do BC mostra um posição de maior cautela, principalmente num momento de forte retração econômica com inflação acima de 10 por cento em 2015 e chances de estourar a meta do governo pela segunda vez seguida este ano. Mas uma decisão do Copom muito diferente do que esperava a maioria do mercado pode levantar dúvidas sobre a influência do governo.
"Ainda que mostre maior cautela, é provável que suscite críticas. (A postura) faz sentido nesse canário de maior incerteza, mas não podemos esquecer que nos últimos dias temos visto noticiário de um governo pedindo ajuste (monetário) mais brando", afirmou o economista da Guide Investimento Ignacio Crespo Rey.
Ele tinha projeção de duas altas seguidas de 0,50 ponto na Selic, mas com o inesperado comunicado deve reavaliar sua posição. (Reportagem adicional de Bruno Federowski e Paula Arendt Laier)