O artigo termina alertando o leitor de que a história recente do Brasil aconselha cautela quando se avalia o potencial do país (Ricardo Stuckert/Flickr)
Agência de notícias
Publicado em 3 de agosto de 2023 às 08h34.
A revista britânica The Economist, uma das mais respeitadas no mundo na cobertura de temas econômicos, publicou hoje em seu site uma reportagem apontando a melhoria das perspectivas econômicas do Brasil no primeiro ano do terceiro mandato do presidente Lula do ponto de vista dos investidores internacionais.
Com um intertítulo que pergunta: “Poderia ser... uma decolagem?” — o que pode ser lido como uma referência à famosa capa com o Cristo decolando em 2009, no fim do segundo mandato de Lula —, o texto registra o crescente otimismo de investidores em relação à economia brasileira, num clima bem diferente ao que antecedeu a posse do petista, em janeiro deste ano.
O texto descreve Fernando Haddad como um “ministro eficiente” e destaca como ponto positivo a autonomia do Banco Central (BC) para conduzir a política monetária e conter a inflação, apesar dos ataques de Lula ao presidente do BC, Roberto Campos Neto.
A revista destaca a melhora na avaliação de agências de classificação de risco sobre o Brasil e atribui parte dessa nova visão das perspectivas econômicas do país a fatores que "não estão sob controle de Lula". O contexto internacional marcado pela invasão da Ucrânia pela Rússia beneficiou a exportação de grãos do Brasil, já que os dois países em conflito são grandes produtores de alimentos.
Segundo a publicação, a guerra reduziu a oferta de alimentos no momento em que a China encerrava as restrições provocadas pela Covid-19, puxando a demanda por grãos. O aumento da exportação de soja pelo Brasil, segundo estimou a revista, poderá responder por um quinto do crescimento econômico do país neste ano, o que eleva o saldo da balança comercial brasileira e favorece a valorização do real frente ao dólar.
A Economist também registra que a perspectiva de redução das taxas de juros nos EUA no ano que vem e as tensões crescentes entre a maior economia do mundo e a China estão levando muitos investidores a procurarem outros mercados emergentes para investir.
No ano passado, o Brasil recebeu US$ 91 bilhões em investimentos diretos do exterior, o dobro do ano anterior, segundo a publicação, que traz declarações de analistas apontando que a visão internacional sobre o Brasil hoje é bem diferente do que foi nos últimos dez anos.
Um dos pontos que, segundo a revista britânica, ajudam nessa percepção é a autonomia do Banco Central. A Economist registra que a inflação caiu de 12% anuais em abril do ano passado para 3,2% agora, sem que a autoridade monetária hesitasse em manter a taxa de juros em 13,75% mesmo sob intenso ataque de Lula, culpando Campos Neto pelo baixo crescimento econômico.
Mas, segundo o artigo, o principal fator positivo para os investidores é a agenda de reformas do ministro Fernando Haddad, como o novo arcabouço fiscal e a Reforma Tributária. “Até mesmo os que são mais céticos acreditam que a dívida do Brasil provavelmente ficará sob controle”, diz o texto.
A revista adverte que a aprovação final das reformas no Congresso não é garantida, dada a fragilidade da base parlamentar do governo. E cita como exemplo a influência de lobbies que buscam exceções na Reforma Tributária para setores, empurrando para cima a futura alíquota do imposto sobre valor agregado resultante da fusão de impostos sobre o consumo.
Também avalia como frágil o plano de equilibrar contas públicas elevando despesas e arrecadação, embora registre que a ministra do Planejamento, Simone Tebet — descrita como uma “moderada na cúpula do governo” — se diz disposta a fazer cortes orçamentários para perseguir as metas fiscais do novo marco fiscal.
Por outro lado, destaca o grande potencial que o país tem em projetos de transição energética. Menciona os abundantes recursos do país para produzir energia limpa e como Lula tem falado sobre sua ambição de tornar o país uma potência verde.
O artigo termina alertando o leitor de que a história recente do Brasil aconselha cautela quando se avalia o potencial do país, já que frequentemente ele decepciona, sempre ficando atrás de potências emergentes como China e Índia. E deu como exemplo a baixa produtividade do país, que só cresceu na agricultura em três décadas.
“O cenário global e os sucessos de Haddad estão aumentando o otimismo dos investidores agora. Mas será necessária uma política boa e consistente para reverter a tendência de longo prazo do Brasil”, conclui a revista.