Economia

Tempo provou que "Consenso de Washington" deu certo, aponta estudo

Reformas "neoliberais" estão relacionadas com maior normalidade de dados como inflação e volta do crescimento econômico, escreve William Easterly, da NYU

Sede do FMI em Washington: instituição era entusiasta do receituário (Yuri Gripas/Reuters)

Sede do FMI em Washington: instituição era entusiasta do receituário (Yuri Gripas/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 5 de outubro de 2019 às 09h00.

Última atualização em 5 de outubro de 2019 às 09h00.

São Paulo - Em 1989, o inglês John Williamson cunhou o termo "Consenso de Washington" para classificar as 10 medidas econômicas recomendadas na época pelas instituições sediadas na cidade, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, para reformar países em desenvolvimento.

As medidas incluíam redução de déficits fiscais, câmbio flutuante, privatização, desregulação e abertura comercial e resumem o que se convencionou chamar de neoliberalismo.

Mas o "consenso" não era consenso nem na época e muitos menos depois, quando estudos de professores como Dani Rodrik decretaram que o resultado das medidas havia sido decepcionante.

William Easterly, um economista americano que já passou pelo Banco Mundial e hoje é professor na NYU (New York University), estava neste grupo dos céticos, mas após analisar os dados mais recentes chegou a uma conclusão oposta.

"A decepção inicial com reformas na África e na América Latina foi possivelmente prematura, tanto porque não havia ocorrido reforma o suficiente, tanto porque não havia dados suficientes disponíveis sobre o pós-reforma", escreve em um estudo publicado no inicio da semana.

Estudo

O trabalho chega a três conclusões gerais. A primeira é que os resultados das políticas econômicas melhoraram muito ao redor do mundo desde os anos 90.

Inflação, por exemplo, era um problema endêmico na América Latina. Em 1991 quase todos os países da região tinham taxas anuais acima de 20%, com vários ultrapassando 40%. Isso praticamente não acontece mais, tirando algumas exceções notáveis como a Venezuela.

Algo parecido é verificado na quase eliminação das diferenças entre as cotações do câmbio oficial e aquelas encontradas no mercado paralelo, problema que era generalizado em países africanos.

O estudo mostra um declínio vertiginoso dos chamados "resultados extremos", aqueles que ninguém considera positivos não importa qual seja sua ideologia.

A segunda conclusão é que estas melhoras estão estatisticamente correlacionadas com o crescimento econômico, e a terceira é que o crescimento se recuperou fortemente na África e na América Latina após as "décadas perdidas" de 80 e 90.

Para evitar distorções, o estudo controla por possíveis choques advindos de fatores como queda abruta do preço das commodities e guerras.

Apesar da correlação entre reformas e resultados positivos, não é possível provar causalidade, ou seja, se foram as reformas do Consenso que causaram a melhora ou se foi algum outro processo ou fator.

Mas Easterly escreve que da mesma forma que o pessimismo anterior foi exagerado, os novos dados devem no mínimo levar a uma revisão do senso comum. Ele também traz uma lição sobre reformismo que é relevante para o Brasil:

"Quando novas reformas são anunciadas com tanto alarde como foi o Consenso de Washington, há pressão para avaliar o seu resultado o quanto antes. Isso pode levar ao que esse estudo documenta, que é um pessimismo prematuro antes que o processo esteja completo e antes que haja dados suficientes pós-reforma", escreve Easterly.

"Estudos posteriores podem mostrar que esse pessimismo estava errado, mas naquela altura já há muito menos interesse em avaliar as reformas. Isso explica porque é tão difícil fazer reformas e porque correções são sempre adiadas diante de resultados extremamente ruins das políticas", completa.

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