Economia

Temos autonomia e vamos agir para controlar a inflação, diz Campos Neto

Ao participar de evento virtual promovido pelo Credit Suisse, ele acrescentou que os instrumentos, na sua visão, irão fazer o trabalho necessário

Campos Neto: o presidente reiterou que o BC está dando mensagem forte que fará o que for preciso para controlar a inflação (Adriano Machado/Reuters)

Campos Neto: o presidente reiterou que o BC está dando mensagem forte que fará o que for preciso para controlar a inflação (Adriano Machado/Reuters)

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Reuters

Publicado em 8 de setembro de 2021 às 19h16.

Última atualização em 9 de setembro de 2021 às 10h35.

O Banco Central tem autonomia e vai agir de maneira independente com os instrumentos que tem à disposição para controlar a inflação, afirmou o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, nesta quarta-feira.

Ao participar de evento virtual promovido pelo Credit Suisse, Campos Neto disse que o BC sabia da crise energética, mas nunca esperou que ela fosse assumir o formato que tem hoje. Também ponderou que muitos choques ocorreram na economia, com o núcleo da inflação --medida que busca desconsiderar efeitos temporários-- ficando "muito mais alto" do que o BC gostaria, e com a autoridade monetária vendo reflexos dessa deterioração na parte longa da curva de juros.

"Achamos que é muito importante agir rápido nisso, para assegurar que não haja desancoragem no sistema que gere uma inflação inercial indo muito mais alta", afirmou ele em inglês.

"O que precisa ser dito é que nós temos autonomia, vamos agir de maneira independente com os instrumentos que temos, achamos que os instrumentos que temos vão fazer o trabalho e precisamos nos certificar que vamos comunicar isso com sabedoria", completou.

A mensagem de Campos Neto vem em meio ao forte avanço de preços na economia neste ano, embalado pela crise hídrica que catapultou o custo da energia elétrica e pela alta observada em preços de commodities e do dólar --este último afetado por temores fiscais e institucionais, com a postura de enfrentamento do presidente Jair Bolsonaro em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF) contribuindo para elevar incertezas.

O quadro de múltiplos choques tem feito as expectativas para inflação em 2022 também piorarem, disse Campos Neto, apesar de ter reiterado que há uma distância grande entre as projeções do mercado, mais altas, e da autoridade monetária, mais baixas, para o IPCA no ano que vem.

Agentes de mercado têm piorado continuamente suas projeções para inflação, agora em 7,58% para este ano e 3,98% para o ano que vem, conforme boletim Focus mais recente. O centro da meta oficial em 2021 é de 3,75% e para 2022 é de 3,50%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Já o BC, em sua última estimativa pública, feita em agosto, previu a inflação exatamente no centro da meta para 2022, a 3,5%, com uma alta de 6,5% neste ano.

Eleições

Bolsonaro, que tem planos de reeleição, tem culpado governadores e as medidas de distanciamento social implementadas durante a pandemia de Covid-19 pelo aumento da inflação no país.

Em sua fala, Campos Neto afirmou que as eleições presidenciais são um fator importante e que serão polarizadas, o que tem impacto na volatilidade. Mas ele reiterou que o BC terá atuação independente nesse cenário.

"Temos que entender como (eleições) impactam nosso mandato e se traduzem em inflação e crescimento. O que podemos fazer, de nossa parte, é dizer que vamos usar os instrumentos que tivermos para garantir que a gente atinja a meta (de inflação) e temos completa autonomia agora e vamos usar isso, no sentido de que nosso único compromisso é assegurar que atinjamos as metas", disse.

Votada pelo Congresso, a autonomia do BC foi chancelada pelo STF recentemente, estabelecendo mandatos fixos para presidente e diretores do BC. Esses mandatos não coincidem com o do presidente da República com o objetivo de resguardar a instituição de ingerência política.

Segundo Campos Neto, o fato de os agentes de mercado terem associado as reformas propostas pelo governo à vontade de fazer um programa de transferência de renda maior em ano eleitoral contribuiu para a elevação de incertezas.

Ele pontuou ser necessário "virar a página" quanto à estruturação do Auxílio Brasil, como foi rebatizado o novo Bolsa Família, com conhecimento de como o programa será feito e como será financiado.

"Quando fizermos isso, acho que muito do barulho diminuirá", afirmou ele.

Desde que elevou os juros em 1 ponto, ao patamar atual de 5,25% ao ano, o BC indicou que repetirá a dose em sua próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no fim deste mês. O BC também sinalizou que almeja levar a Selic para além do patamar neutro, numa indicação de que a taxa terminará o ciclo de aperto monetário acima de 6,5%.

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