MICHEL TEMER: a discussão da meta fiscal coloca na mesa o dilema entre o curto e o longo prazo de seu governo / Ueslei Marcelino / Reuters (Ueslei Marcelino / Reuters/Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de julho de 2016 às 19h20.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 18h58.
Uma reunião na noite de ontem colocou na mesa o velho dilema do governo interino de Michel Temer: escancarar todos os problemas fiscais de uma vez, ou dourar a pílula agora e correr o risco de precisar admitir, lá na frente, que as coisas são piores que o anunciado.
No fim das contas, o governo decidiu que a meta fiscal de 2017, prevista para ser anunciada nesta quinta-feira, terá que ser necessariamente menor que o rombo de 170,5 bilhões de reais de 2016. Para chegar lá, certamente será necessário aumentar impostos como a Cide, o imposto sobre os combustíveis. Intensificar privatizações e concessões também está nos planos. Ontem, a área econômica informou que, na atual toada, mesmo com o limite de gastos públicos recém-imposto, o déficit pode chegar a 194 bilhões de reais.
O dilema do governo considera a reação de diversos públicos. De um lado, investidores e especialistas esperam um número abaixo do déficit de 170,5 bilhões, o que simbolizaria um comprometimento da equipe econômica de Temer com o ajuste fiscal. Um rombo parecido, ou até maior, que o deste ano pode esgotar a paciência de uma parcela do mercado – que aguarda ansiosamente por melhorias na economia.
Por outro lado, a análise de economistas é que a meta de 2017 precisa ser “realista” – como tanto frisou o governo na definição déficit deste ano. “Hoje não dá mais para anunciar uma meta e depois aumentar o déficit, como era feito no passado. Se o governo fizer isso perde toda a sua credibilidade com Congresso e com a população”, diz Carlos Kawall, economista-chefe do banco Safra.
Um dos grandes desafios é como incluir problemas futuros no orçamento. Para a consultoria Eurasia, o déficit do próximo ano pode levar em consideração uma renegociação das dívidas dos governos municipais e um socorro a empresas estatais como a Caixa Econômica e a Eletrobras. “Um número (déficit) mais alto, portanto, indicaria que o governo está disposto a continuar com sua estratégia de remoção de todos os esqueletos fiscais do armário”, ressalta a consultoria. O anúncio é aguardado com ansiedade.