Economia

Taxas de juros reais também estão em queda, diz Ilan

Em discurso, presidente do BC destaca que a taxa de juros real, que já chegou perto de 10% em 2015, já caiu praticamente pela metade

Ilan Goldfajn: "a taxa de juros real da economia brasileira ainda está em processo de convergência" (Marcelo Camargo/Reuters)

Ilan Goldfajn: "a taxa de juros real da economia brasileira ainda está em processo de convergência" (Marcelo Camargo/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 28 de março de 2017 às 07h12.

São Paulo e Brasília - O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, afirmou na noite desta segunda-feira que a Selic tem caído em face das expectativas de inflação ancoradas em torno da meta, do processo de desaceleração dos preços e do alto grau de ociosidade da economia.

Esse processo, diz Ilan, tem levado à redução do juro real que já tem girado em torno de 5% ao levar em conta a expectativa de inflação futura.

"As taxas de juros reais (juros nominais menos inflação) também estão em queda. Várias medidas confirmam esse fato", disse em discurso feito em jantar oferecido pelo Museu Judaico de São Paulo.

A reunião não foi aberta para imprensa, mas os principais pontos da fala do presidente do BC foram publicados no site da autoridade monetária.

Nesse trecho do discurso, Ilan Goldfajn ressaltou que o juro real, que chegou perto de 10% em 2015, já caiu praticamente pela metade.

Ao levar em conta a taxa de juro prefixada de 12 meses do mercado futuro descontada a inflação esperada para o mesmo período, o juro real embutido nesses contratos caiu de 9% em setembro de 2015, para 7% no ano passado e, mais recentemente, para o atual patamar em torno de 4,9%.

Outras métricas indicam a redução do juro real. Se levar em conta a trajetória da Selic prevista na pesquisa Focus para os próximos 12 meses, a taxa real está em 5%.

No mercado de títulos, o juro real embutido nas NTN-B - papéis indexados à inflação medida pelo IPCA - já indicam taxa entre 5% e 5,5%.

"É importante enfatizar que a medida de juros reais "ex-ante" (para frente) é a medida mais apropriada, pois é a que influencia as decisões econômicas", disse, durante o jantar.

O presidente do BC notou ainda que a chamada taxa "ex-post" (taxa Selic menos inflação passada) "é a taxa realizada do passado e, portanto, não influencia as decisões presentes que dependem do futuro". "Essa medida é muito afetada por choques do passado, por exemplo, por surpresas inflacionárias", disse, segundo os apontamentos do BC.

Esse choque acontece no Brasil recente, disse Ilan. Levando-se em conta a inflação dos 12 meses passados, o juro real "ex-post" atingiu o mínimo do ano de 2016, quando girou em torno de 2% real.

"Exatamente quando a inflação ultrapassou 10% em 12 meses", disse o presidente do BC. Desde então, com a queda da inflação acumulada, essa medida tem recuado e já está em patamar entre 8 e 9%.

"Ao longo do ciclo monetário, é normal essa medida de taxa de juros real ex-post subir quando o combate à inflação é bem sucedido, para depois cair gradualmente na medida em que os juros cedem. Com a estabilização da inflação em torno da meta, as duas medidas ex-ante e ex-post devem convergir para o mesmo valor", disse Ilan. "Esse patamar atual de taxa de juros real é baixo do ponto de vista histórico. A taxa de juros real na economia brasileira oscilou nas últimas décadas, mas com clara tendência de queda", disse o presidente do BC.

Ilan Goldfajn lembrou que o Brasil já teve taxas reais acima de 20% na década de 1990, patamar em torno de 10% na década passada e chegou a uma média de 5% real no passado mais recente.

"Considerando o período insustentável de juros reais de 2% no governo anterior", disse o presidente do BC.

"A taxa de juros real da economia brasileira ainda está em processo de convergência. A possível queda da taxa de juros ao longo do tempo dependerá de avanços que levem à diminuição da taxa estrutural de juros da economia", disse o presidente do BC.

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