Mercado de trabalho: renda corroída pela inflação e salários piores do que no pré-pandemia são desafio na recuperação brasileira (José Paulo Lacerda/CNI/Reprodução)
Carolina Riveira
Publicado em 29 de julho de 2022 às 09h16.
Última atualização em 29 de julho de 2022 às 10h56.
A taxa de desocupação no mercado de trabalho brasileiro caiu para 9,3% no trimestre entre abril e junho, segundo divulgado nesta sexta-feira, 30, na Pnad Contínua, do IBGE.
O resultado representa um recuo ante os 11,1% do trimestre anterior, de janeiro a março.
O número de desempregados no Brasil chegou a 10,1 milhões de pessoas, com 1,9 milhão de pessoas a menos em busca de trabalho em relação ao trimestre anterior.
A taxa também é a menor desocupação para um trimestre encerrado em junho desde o mesmo período em 2015 (quando o desemprego era de 8,4%).
O número do trimestre veio em linha com o consenso do mercado, que projetava desemprego em 9,4%.
“A retração da taxa de desocupação no segundo trimestre segue movimento já observado em outros anos. Em 2022, contudo, a queda mais acentuada dessa taxa foi provocada pelo avanço significativo da população ocupada em relação ao primeiro trimestre”, disse em nota divulgada pelo IBGE a coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do Instituto, Adriana Beringuy.
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Apesar da recuperação dos postos de trabalho, a estimativa para o rendimento médio real habitual ficou em R$2.652, estável em relação ao primeiro trimestre. Em relação ao mesmo trimestre de 2021, a queda no rendimento real é de 5,1%.
A renda real do brasileiro, corrigida pela inflação, é a menor desde o começo da série histórica, em 2012.
No trimestre, dentre os setores de atividades com abertura de postos de trabalho, se destacaram no saldo positivo o serviço doméstico, comércio e educação, com a retomada das aulas presenciais.
O contingente de pessoas ocupadas ficou em 98,3 milhões, o mais alto (em valores absolutos) da série histórica iniciada em 2012.
O número aumentou em 3,1% frente ao trimestre anterior (3 milhões de novas pessoas no mercado de trabalho) e quase 10% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Com isso, o nível de ocupação também chegou a 56,8%, o melhor para um trimestre encerrado em junho desde 2015.
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A taxa composta de subutilização ficou em 21,2%, a menor para o período desde 2016, caindo 2,0 p.p. no trimestre e 7,3 p.p. no ano.
A população desalentada, que não está empregada mas desistiu de procurar trabalho (e por isso não entra na contagem oficial de desempregados), caiu para 4,3 milhões, queda de 7,1% em relação ao trimestre anterior.
A recuperação de vagas aconteceu em todos os setores, mas com retomada forte do setor informal e trabalhadores sem carteira assinada, que haviam tido variação brusca nos piores momentos da pandemia.
A taxa de informalidade ficou em 40% da população ocupada, estável em relação ao ano passado.
O número de trabalhadores informais chegou a 39,3 milhões de pessoas, também o maior da série histórica desse indicador (que foi iniciada somente em 2016).
A divisão por categoria de trabalho no trimestre foi:
A renda segue sendo um dos desafios na recuperação no mercado de trabalho: com o desemprego ainda alto, os salários não recuperaram o patamar pré-pandemia. A inflação também tem corroído a renda real, quando descontado o aumento de preços.
Embora venha se recuperando, o rendimento real de R$2.652 no trimestre entre abril e junho seguiu sendo o menor da série histórica, iniciada em 2012 e corrigida pela inflação.
Já a massa de rendimento subiu 4,8% em relação ao ano passado, chegando a R$255,7 bilhões, mas o IBGE ressalta que o avanço acontece sobretudo devido ao aumento da população ocupada, e não à melhoria individual dos salários.
“Embora não haja aumento no rendimento médio dos trabalhadores, houve crescimento da massa de rendimento porque o número de pessoas trabalhando é bastante elevado”, disse Beringuy, do IBGE, em nota.