A balança comercial encolheu US$ 88 bilhões em 2020 em relação a 2017 (Carlos Barria/Reuters)
Bloomberg
Publicado em 23 de junho de 2021 às 11h11.
Última atualização em 23 de junho de 2021 às 11h12.
No início de 2020, uma discrepância muito improvável começou a aparecer nos dados do comércio global: a China disse que estava vendendo mais produtos aos Estados Unidos do que o governo americano informava comprar da China.
Foi uma reversão de padrão e produto da guerra comercial entre os dois países, mas não uma consequência intencional. Provavelmente, foi resultado de relatórios incorretos de exportadores da China e importadores dos EUA, segundo nova pesquisa de economistas do Federal Reserve.
Empresas nos Estados Unidos poderiam pagar menos tarifas se registrassem um valor mais baixo para mercadorias importadas da China, enquanto companhias chinesas poderiam obter maiores descontos no imposto de valor agregado se divulgassem um valor mais alto das exportações, argumentam os economistas.
Normalmente, o valor de importação quando uma mercadoria entra em um país deve ser maior do que o preço quando o mesmo produto sai de outro país. Isso porque os preços de importação geralmente incluem o custo de frete e seguro, enquanto as exportações, não.
Até fevereiro de 2020, esse era o caso do comércio bilateral EUA-China: mercadorias chinesas importadas pelos Estados Unidos sempre eram avaliadas com preço superior às exportações da China para o mercado americano. No entanto, desde março, o oposto ocorreu em quase todos os meses.
O relatório destaca a dificuldade de vencer guerras comerciais com barreiras econômicas como tarifas, ao contrário da afirmação do ex-presidente Donald Trump, de que a vitória seria fácil. As distorções também reforçam os argumentos contra autoridades do governo Trump, segundo as quais as tarifas americanas estavam fundamentalmente reequilibrando a relação comercial entre as duas maiores economias do mundo, na qual os EUA há muito tempo registram amplo déficit.
Os relatórios incorretos de empresas americanas e chinesas explicam a maior parte da redução do déficit comercial EUA-China desde que os dois lados começaram a impor tarifas em 2018, argumentam os economistas do Fed, Hunter Clark e Anna Wong. A balança comercial encolheu US$ 88 bilhões em 2020 em relação a 2017, de acordo com os cálculos, com US$ 55 bilhões desse déficit resultante da evasão de tarifas dos EUA, US$ 12 bilhões devido a relatórios incorretos para obter maiores descontos de IVA chineses e os US$ 20 bilhões restantes sem explicação.
“O conflito comercial teve um impacto muito menor na balança comercial bilateral dos EUA com a China do que pode ser visto quando analisamos os dados americanos”, escreveram. Com a subnotificação das importações dos EUA, cerca de US$ 10 bilhões em receita tarifária podem ter sido perdidos, estimam.
Os números mais recentes do comércio da China também mostram um lento progresso no cumprimento das metas de compra fixadas com os EUA no acordo comercial. Desde janeiro de 2020, as importações da China de produtos manufaturados, agrícolas e de energia somaram quase US$ 157 bilhões, ou cerca de 41% das metas acordadas pelos dois países.