Economia

Tarifas ameaçam indústrias que foram ao México após disputa de EUA e China

Se os EUA começarem a atingir o México com tarifas altas, as empresas começarão a ficar sem opções para produzir a preços acessíveis

México: após guerra com China, empresas mudaram para manter os preços estáveis (f8grapher/Getty Images)

México: após guerra com China, empresas mudaram para manter os preços estáveis (f8grapher/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de junho de 2019 às 18h06.

Tijuana — A disputa comercial entre os Estados Unidos e a China levou empresas a mudar a produção para o México para evitar tarifas e manter os preços estáveis.

Agora, a perspectiva de tarifas dos EUA sobre o México por questões de imigração ameaça interromper essa mudança e elevar os custos para consumidores norte-americanos.

Muitos produtos com componentes fabricados na China, de cosméticos a câmeras digitais, vêm gravitando lentamente para o México, na sequência de uma série de tarifas impostas pelos EUA às mercadorias chinesas.

Se os EUA começarem a atingir o México com tarifas altas - como ameaçou o presidente Trump nesta semana -, as empresas começarão a ficar sem opções para produzir a preços acessíveis.

A Cosmetic Colours, uma próspera produtora mexicana de delineadores e outros produtos cosméticos, recebeu recentemente um pedido de 7 milhões de euros (US$ 7,8 milhões) por itens que antes eram fabricados da China e enfrentavam uma tarifa de 25% nos EUA.

A fábrica da empresa na cidade de Toluca exporta 85% de seus produtos para os EUA para unidades das principais empresas de cosméticos do mundo.

"Se nos disserem para pagar uma tarifa de 5%, eu poderia absorver o custo", disse o presidente da companhia, Tomás Espinosa. Mas, se as tarifas atingirem 25%, os custos seriam distribuídos ao longo da cadeia de fornecimento, incluindo fabricantes, varejistas e consumidores, e levar a um aumento nos preços pagos pelos consumidores dos EUA.

"Fora do México ou da China, não há terceiro país", disse Espinosa. "Um produto similar feito na Europa poderia custar 40% a mais."

Até agora, o México foi visto como vencedor na disputa comercial entre os EUA e a China.

Empresas como a chinesa Hisense, uma das maiores fabricantes de televisores do mundo, estão trazendo mais fornecedores para o México, com o objetivo de mudar a produção de TVs de tela plana destinadas ao mercado norte-americano para a maior fábrica da empresa fora da China no México, perto da fronteira com os EUA.

A GoPro quer que todas as câmeras destinadas aos EUA estejam em produção em Guadalajara, no México, no segundo semestre do ano, uma vez que busca isolar a empresa contra possíveis tarifas.

Para a administração Trump, a mudança é positiva porque as exportações do México, em média, contêm cerca de 35% ou mais peças dos EUA, enquanto as exportações chinesas contêm muito menos, em cerca de 4%.

Agora, uma nuvem de incerteza está retornando ao México, que procurou manter suas fortes ligações com os EUA, concordando em renegociar o Acordo de Livre Comércio da América do Norte depois que Trump assumiu o cargo. Pela primeira vez desde que a China ingressou na Organização Mundial do Comércio em 2001, o México superou a China e o Canadá como o principal parceiro comercial dos EUA no trimestre.

Parte do motivo da mudança são as tarifas. Em setembro, os EUA impuseram tarifas de importação de 10% sobre bens chineses no valor de US$ 200 bilhões e, em maio, elevaram as tarifas para 25% para produtos como placas de circuito e microprocessadores, já que a última rodada de negociações bilaterais chegou a um impasse.

Trump também ameaçou impor tarifas de 25% sobre US$ 325 bilhões em produtos chineses que atualmente não são tributados, cobrindo praticamente todas as exportações chinesas para os EUA.

A produtora de sensores de segurança Universal Electronics, a exemplo da GoPro, disse que está transferindo algumas operações de produção da China para o México para evitar as tarifas.

Mas o governo Trump está monitorando mais de perto o porcentual de peças chinesas nas exportações mexicanas para os EUA, como parte de seu esforço para parar o que diz ser um fluxo de produtos em grande parte chineses que carregam uma designação "fabricado no Mexico", de acordo com executivos e advogados de comércio.

As Alfândegas e Proteção de Fronteiras dos EUA, segundo as fontes, teriam intensificado o uso de uma regra pouco conhecida - chamada análise de transformação substancial - para determinar quanto valor agregado foi adicionado localmente aos bens dos países exportadores.

A mais recente ameaça tarifária de Trump ao México provavelmente elevará os preços dos eletrônicos nos EUA. "Não há alternativas para os consumidores norte-americanos, isso afetará 82% das TVs vendidas no mercado norte-americano porque elas vêm do México ou da China", disse Román Caso, chefe do grupo Canieti, de eletrônicos, que está instalado na região noroeste do México.

Economistas afirmam que tarifas mais altas para o México e a China também não obrigarão as empresas a se mudar para os EUA, como queria Trump, mas sim forçá-las a ir mais longe em busca de outras nações de baixo custo.

"Empresas só irão para outro lugar, para o Vietnã ou para qualquer outro lugar", disse Luis de la Calle, ex-alto funcionário do comércio mexicano.

"Mas, se forem para o Vietnã, a originação de peças nos EUA vai para zero, porque o Vietnã tem um fornecedor, que é a China. Assim, os EUA perdem." Fonte: Dow Jones Newswires.

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