Economia

Tarifaço de Trump pode custar US$ 6,4 bi para a indústria, diz estudo da UFMG

Levantamento aponta que poucos segmentos teriam incremento nas exportações em razão da guerra tarifária entre EUA e China, como soja, vestuário e derivados de petróleo

Os setores industrial e de serviços registrariam quedas de US$ 6,409 bilhões e US$ 2,203 bilhões, respectivamente (Leandro Fonseca/Exame)

Os setores industrial e de serviços registrariam quedas de US$ 6,409 bilhões e US$ 2,203 bilhões, respectivamente (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 19 de abril de 2025 às 08h08.

Uma simulação feita por economistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) conclui que a escalada da guerra tarifária entre Estados Unidos e China pode provocar efeitos assimétricos na economia brasileira.

Segundo pesquisadores do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Nemea-Cedeplar) da instituição, o setor agropecuário pode ter ganhos expressivos com a disputa comercial que, por outro lado, deve impor perdas significativas aos serviços e principalmente à indústria nacional. O estudo é assinado pelos economistas Edson Paulo Domingues, João Pedro Revoredo Pereira da Costa e Aline Souza Magalhães da UFMG.

Com base em modelos de Equilíbrio Geral Computável (EGC), os pesquisadores simulam os efeitos das tarifas anunciadas entre os dias 7 e 11 de abril de 2025.

As medidas incluem o aumento das taxas dos EUA sobre produtos chineses para 145%, elevação para 10% das tarifas sobre importações de outros países, além da aplicação de 25% sobre automóveis e aço. Em resposta, mais tarde, a China aumentaria suas taxas sobre produtos americanos para 125%.

Efeito do tarifaço de Trump no agro e na indústria do Brasil

Apenas com o tarifaço de Trump, contudo, a simulação aponta para um impacto global substancial. A projeção é de queda de 0,25% no PIB mundial, o que representa uma perda de US$ 205 bilhões, além de uma retração de 2,38% no comércio global — cerca de US$ 500 bilhões a menos em trocas internacionais.

No Brasil, o efeito sobre o PIB seria marginalmente positivo, com alta de 0,01%. No entanto, esse crescimento seria puxado quase exclusivamente pelo avanço das exportações agrícolas, sobretudo da soja, cuja demanda por parte da China aumentaria diante da restrição às compras de grãos dos EUA.

A expectativa é de um incremento de US$ 6,642 bilhões nas exportações brasileiras do setor agropecuário.

Por outro lado, os setores industrial e de serviços registrariam quedas de US$ 6,409 bilhões e US$ 2,203 bilhões, respectivamente.

A maior parte dos segmentos industriais, como o de equipamentos de transporte, sofreria retração na produção devido à redução da demanda externa e à maior concorrência com produtos importados, que tendem a ficar mais baratos com a reconfiguração dos fluxos comerciais.

O estudo do Nemea-Cedeplar acrescenta que apenas alguns setores conseguiriam ampliar suas exportações, como sementes oleaginosas (soja), vestuário, computadores, produtos minerais e derivados de petróleo. Já a ampliação das importações, especialmente de produtos agrícolas e industriais, seria um fenômeno mais amplo, impactando negativamente a produção nacional.

A pesquisa reforça que, embora o Brasil possa ocupar nichos deixados pelos EUA no mercado chinês, os ganhos são pontuais e limitados a alguns segmentos — não suficientes para reverter o impacto negativo nos setores mais intensivos em tecnologia e emprego.

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