Economia

Tarcísio anuncia liberação créditos de ICMS a exportadores afetados por tarifas de Trump

De acordo com o governador, as ações serão direcionadas aos setores econômicos mais prejudicados pelas tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 22 de julho de 2025 às 18h40.

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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), anunciou nesta terça-feira, 22, que está avaliando a possibilidade de liberar créditos de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para exportadores e expandir linhas de crédito com juros subsidiados para empresas afetadas pelo aumento de tarifas imposto pelos Estados Unidos.

A declaração foi feita durante a cerimônia de entrega de casas em Rio Claro, no interior de São Paulo.

De acordo com Tarcísio de Freitas, essas ações serão para os setores mais impactados pela sobretaxa anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

"Estamos planejando duas ações. A primeira é a ampliação do fundo garantidor para facilitar o crédito aos setores mais prejudicados. Teremos uma linha de crédito mais robusta, com juros subsidiados", explicou.

O governador também destacou uma segunda medida focada na liberação de créditos de ICMS para os setores exportadores.

"Vamos realizar uma grande devolução de créditos de ICMS para tentar garantir que essas empresas tenham recursos financeiros suficientes para passar por esse período crítico. Isso envolve intensas negociações. Temos a esperança de chegarmos a uma boa solução daqui para frente".

Interesse nacional

Freitas também mencionou que é o momento de priorizar o interesse nacional na disputa comercial, afastando a política partidária. "A questão política pode ser um obstáculo, mas devemos deixar isso de lado e focar no que é melhor para o Brasil, compreendendo a dinâmica do movimento geopolítico em andamento", afirmou.

O governador destacou a importância histórica da relação entre o Brasil e os Estados Unidos. "O país foi o primeiro a reconhecer nossa independência, é o maior investidor estrangeiro no Brasil, o que demonstra o vínculo profundo entre as duas nações. Podemos superar essas dificuldades", concluiu.

No evento, Tarcísio também ressaltou que, além da liberação de créditos do ICMS, o governo do estado está interessado em contribuir nas negociações com os Estados Unidos.

"Estamos fazendo um esforço complementar. Estamos em contato com empresas norte-americanas para que eles possam pressionar o governo, além de pressionar também os atores envolvidos e levar o senso de urgência para lá. Estamos em contato com estados americanos também para que as mensagens cheguem por mais vozes".

Tarifas de Trump contra o Brasil

Em 9 de julho, Trump anunciou uma tarifa extra de importação de 50% para os produtos brasileiros. Ele disse que a taxa se deve aos processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e contra redes sociais americanas.

Em tese, a medida entra em vigor em 1º de agosto, mas ainda não foi oficializada por uma ordem executiva. Assim, o governo brasileiro busca negociar formas de evitar o tarifaço.

Em uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele disse:

"Devido, em parte, aos ataques insidiosos do Brasil às eleições livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (como recentemente ilustrado pelo Supremo Tribunal Federal, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e despejo do mercado brasileiro de mídia social), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos, separadamente de todas as tarifas setoriais. Mercadorias levadas a outros países  para escapar dessa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta".

"Conheci e lidei com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o respeito profundamente, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tratou o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!", afirmou.

"Além disso, tivemos anos para discutir nossa Relação Comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da relação comercial de longa data e muito injusta, gerada pelas Políticas Tarifárias e Não Tarifárias e Barreiras Comerciais do Brasil. Nossa relação está longe de ser recíproca", disse o presidente americano.

No tarifaço anunciado em abril, o Brasil havia ficado na categoria mais baixa, de 10% de taxas extras. Os EUA têm superávit comercial com o Brasil. Ou seja: vendem mais produtos para cá do que os brasileiros enviam para os americanos.

No primeiro trimestre de 2025, os dois países trocaram US$ 20 bilhões em mercadorias, sendo que os EUA tiveram superavit de US$ 653 milhões, segundo dados da plataforma Comexstat, do governo brasileiro.

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial brasileiro, atrás da China. O Brasil é um grande exportador de aço, café, carne, suco de laranja e outros produtos aos americanos.

Entenda a política de tarifas de Trump

Desde que tomou posse, em janeiro, Trump passou a aumentar tarifas de importação sobre outros países, sob argumento de que eles estariam trazendo problemas aos EUA.

Trump quer que as empresas voltem a produzir nos Estados Unidos, em vez de ter fábricas no exterior, como fazem há décadas para cortar custos. Assim, ao encarecer as exportações por meio de novas taxas, ele espera que mais indústrias se mudem para os EUA e gerem empregos no país.

Além disso, Trump reclama do déficit comercial dos EUA com os outros países, e usa as tarifas como meio de pressionar os parceiros a comprarem mais itens americanos. Em vários casos, houve acordos nesse sentido: um compromisso de maiores compras ou abertura de mercados a produtos dos EUA em troca de Trump desistir de novas taxas.

Assim, analistas apontam que Trump usa as novas taxas como um elemento de pressão. Ele cria um problema que não existia antes, as novas taxas, e exige que os outros países mudem de postura para não implantá-las.

Em abril, Trump anunciou uma tarifa geral de 10% extras a quase todos os países do mundo e outra taxa extra, que variava entre os países de acordo com o déficit que os EUA tinham com cada um.

Na época, houve uma crise nos mercados e o líder americano adiou as novas taxas por país até 9 de julho, sob o argumento de que daria tempo para negociações.

Na semana passada, ele adiou novamente o prazo, para 1º de agosto, e passou a anunciar novos percentuais de taxas para alguns países, que poderão ser negociados até o final de julho. A tarifa geral de 10% segue em vigor, além de outras taxas para países específicos, como China, Canadá e México, e para produtos, como aço e alumínio.

Investigação comercial contra o Brasil

O governo de Donald Trump abriu uma investigação sobre as práticas comerciais do Brasil nesta terça-feira, 15, para averiguar se elas estariam restringindo injustamente as exportações americanas para o país. A medida ocorre uma semana após o presidente Donald Trump anunciar que vai impor uma tarifa extra de 50% aos produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos.

De acordo com um comunicado do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos, o objetivo da investigação é verificar se determinadas políticas e ações do governo brasileiro são prejudiciais para empresas americanas. Entre os pontos que serão analisados estão: as tarifas aplicadas pelo Brasil a produtos dos Estados Unidos, políticas comerciais digitais, o acesso ao mercado de etanol e as "interferências anticorrupção", entre outros.

Na carta enviada na semana passada pela rede social Truth Social, Trump afirmou que planejava aplicar uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras, como parte de uma série de ameaças de aumento de taxas que devem entrar em vigor em 1º de agosto. No entanto, a correspondência direcionada ao Brasil criticou as políticas do país que afetavam a operação de empresas americanas de tecnologia e o tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que atualmente enfrenta julgamento por tentativa de golpe de estado.

Jamieson Greer, representante comercial dos EUA, declarou que a investigação seria iniciada com base nos "ataques do Brasil contra as empresas americanas de mídias sociais, além de outras práticas comerciais desleais que afetam empresas, trabalhadores, agricultores e inovadores tecnológicos dos Estados Unidos".

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