Economia

Tabela de frete limita escoamento de grãos e deve afetar exportação

Com estoques relativamente baixos nos portos após a greve dos caminhoneiros, uma redução agora no escoamento até os terminais tem impactado os embarques

Grãos: tabela de fretes ficou muito alta em relação ao preço que vinha sendo praticado anteriormente para o transporte desse produto, segundo Ocepar (Stringer/Reuters)

Grãos: tabela de fretes ficou muito alta em relação ao preço que vinha sendo praticado anteriormente para o transporte desse produto, segundo Ocepar (Stringer/Reuters)

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Reuters

Publicado em 6 de junho de 2018 às 15h44.

Última atualização em 24 de julho de 2018 às 20h25.

São Paulo - A tabela de fretes instituída por medida provisória para atender a pedidos de caminhoneiros, visando acabar com os bloqueios de estradas que duraram mais de dez dias no país, está afetando os negócios e o escoamento de grãos, o que deve ter impacto negativo nas exportações agrícolas do Brasil neste mês, na avaliação de representantes do agronegócio.

Com estoques relativamente baixos nos portos após a paralisação dos caminhoneiros, uma redução agora no escoamento até os terminais tem impactado os embarques neste mês, segundo o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins.

"É um retrocesso voltar o tabelamento. Se continuar essa tabela, vai inviabilizar o agronegócio. Tanto que houve uma parada total de embarques de grãos, de negociação de exportação", afirmou ele, nos bastidores do evento de lançamento do Plano Safra 2018/19.

"Vai ter impacto nos embarques de junho, os estoques estavam baixos nos portos...", disse à Reuters o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), que representa produtores no segundo maior Estado agrícola do Brasil, Flávio Turra.

A situação ocorre em momento em que o país --maior exportador global de soja e o segundo de milho-- ainda tem grande parte de sua safra recorde da oleaginosa para escoar, sem falar da produção de cereal, cujas exportações tendem a ganhar ritmo no segundo semestre.

Questionado se os efeitos da tabela limitariam os embarques neste mês, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, afirmou que os embarques em junho serão menores na comparação com o mesmo mês do ano passado.

Essa queda esperada nos embarques deve-se não somente ao fato de o custo ser maior, com o tabelamento, mas também por uma imprecisão na MP que inviabiliza a contratação do frete, pelo tipo do caminhão definido para o transporte de grãos.

"Uma coisa importante: não estamos embarcando porque ninguém sabe o valor do frete por meio da tabela. Nem o 'caminhão tipo' que a gente usa está na tabela", afirmou Nassar, ressaltando que o quadro ainda precisa de ajustes.

Ele explicou que a tabela contempla caminhão de cinco eixos e 25 toneladas para granel, mas "ninguém usa esse tipo de caminhão". O setor utiliza o veículo com sete eixos (37 toneladas) ou nove eixos (50 toneladas), disse ele.

"Essas duas opções, de sete e nove eixos para granel, não estão na tabela e eles precisam pôr. Isso é basicamente uma correção da tabela, porque hoje ela não serve pelo fato de que ninguém carrega no tipo de caminhão que está na tabela", ressaltou.

Nassar ainda ressaltou que o setor do agronegócio foi contra o tabelamento de fretes desde o início de discussões sobre o tema, por considerar tal medida inconstitucional, uma vez que vai contra a prática do livre mercado.

À espera da mudança

Como a tabela de frete elevou os custos em mais de 100 por cento em algumas rotas, na comparação com os valores anteriores, aqueles produtores e empresas que não detêm transporte próprio estão enfrentando problemas para escoar os produtos aos portos de exportação, comentou Turra, da Ocepar.

"A tabela de fretes ficou muito alta em relação ao preço que vinha sendo praticado anteriormente para o transporte de grãos, e ficou inviabilizado o transporte, principalmente para os contratos anteriores, que têm que usar a nova tabela", disse ele.

O gerente da Ocepar explicou que, como a tabela prevê a remuneração do retorno do caminhão vazio, o que não era previsto anteriormente, isso quase dobra os custos. Segundo ele, a tabela eleva os custos entre 20 a 120 por cento, dependendo da rota, em relação ao preço praticado anteriormente --no Paraná, na média, o valor subiu 37 por cento.

"O que está acontecendo é que o pessoal está retendo as cargas, no caso de quem não tem caminhão próprio. As cooperativas, as grandes, a maioria tem um número pequeno para atender a demanda deles, esses estão transportando o que podem", disse

"Os demais (que não têm caminhão) estão aguardando a revisão da tabela da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Já teve reunião ontem (de ministros com o setor), e existe uma expectativa de que seja revista a tabela", acrescentou ele.

Nesta quarta-feira, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou que a ANTT ficou de "reavaliar" a questão dos fretes.

"A maneira como saiu (a tabela de fretes) acabou ficando em um preço máximo até fora dos padrões que a agricultura e outros setores podem pagar para transportar... São questões técnicas que, passada a fase política, vão ter de ser adequadas", comentou o ministro após cerimônia de lançamento do Plano Safra 2018/19.

Para Maggi, que se disse contrário a uma tabela de fretes desde "sempre", a situação já gera valores "duas, duas vezes e meia" mais caros que antes da greve.

"Um mesmo transporte que você gastava 5 mil reais para levar mercadoria do ponto A ao B, na nova tabela está custando 13 mil ou 14 mil reais", comentou.

Ele ressaltou, no entanto, que a ANTT ainda não tem um prazo para fazer uma avaliação a respeito e que o acordo com os caminhoneiros será mantido.

"Há um acordo com os caminhoneiros, ninguém quer romper. O que precisa fazer são as contas. O que é justo? Ninguém vai romper nada."

De acordo com relatório da consultoria T&F Agroeconômica, "quem tem soja no interior não está retirando, porque os fretes foram calculados com um valor e agora há que se pagar cerca de 28 por cento a mais".

"Não tem comprador para junho e julho (tanto pela greve dos caminheiros, como também porque as posições das tradings já estão compradas para estes meses)...", disse a consultoria.

O mercado de trigo também está sendo afetado. "No Parará o trigo está sem preço há dez dias, nem para o spot, nem para o futuro na maioria das praças, diante da incerteza sobre o frete", afirmou a T&F.

"Os compradores também não estão retirando, porque precisam reavaliar o frete... Um grande problema muito comentado hoje no Estado (Paraná) foi o frete de retorno: imagine pagar 100 reais de ida e ter que pagar 100 reais de retorno, se o caminhão não achar frete de volta."

(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu, em Brasília)

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