Dólares: manutenção do programa para além do período de eficácia acabou gerando um problema para o Banco Central, segundo especialista (Flickr/Creative Commons/401kcalculator.org)
Da Redação
Publicado em 25 de março de 2015 às 18h17.
São Paulo - Crítico de longa data do programa de vendas diárias de swap cambial do Banco Central, o professor Márcio Garcia, do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), disse nesta quarta-feira, 25, que as intervenções deveriam ter sido interrompidas em 2013 e que o nível atual dos estoques gera riscos, especialmente se a autoridade monetária precisar voltar a atuar no mercado.
Em artigo escrito antes do BC comunicar, na noite desta terça-feira, 24, o fim do programa, Garcia já afirmava que a instituição deveria anunciar a rolagem integral do estoque de swaps até que, em uma conjuntura mais favorável, seja possível deixar os contratos vencerem gradualmente. Foi exatamente o que o Banco Central fez.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, chegou a dizer ontem, mais cedo, que a posição dos swaps em relação às reservas internacionais é confortável e poderia ser mantida por 10, 20 anos - o que não quer dizer que isso será feito.
Segundo o pesquisador, a manutenção do programa para além do período de eficácia acabou gerando um problema para o BC, já que o nível atual dos estoques acaba se tornando um limitador para novas intervenções, se elas forem necessárias. Isso ocorre porque os participantes do mercado tenderiam a entender que o BC pretende estabelecer um determinado patamar para o câmbio, o que levaria a uma onda especulativa contra o real.
"O BC deve ter a capacidade de intervir nos mercados, mas isso precisa ser necessariamente esporádico, não pode ser constante", afirma.
No artigo, Garcia argumentava que, "infelizmente", o programa de swaps cambiais trilhou caminho semelhante ao das políticas fiscal e monetária, ou seja, "foram usados de forma equivocada por muito tempo, provavelmente com fins eleitorais, e agora não estão disponíveis para ajudar o País a sair da recessão".
O professor afirma que, no início, as intervenções foram bem-sucedidas, já que, quando do anúncio das vendas diárias, em agosto de 2013, houve uma inversão na tendência do dólar, que passou a cair. Já nas três prorrogações seguintes, não é possível comprovar academicamente nenhum efeito no patamar do câmbio ou na volatilidade.
Ontem, ao anunciar o fim das intervenções diárias, o BC disse que, sempre que julgar necessário, poderá realizar operações adicionais por meio dos instrumentos cambiais ao seu alcance. Para Garcia, não há um nível máximo para o dólar que desencadearia a volta do BC ao mercado. "O BC diz que não intervém para determinar um nível, e sim para colocar a volatilidade excessiva. Em sendo isso verdade, não haveria nenhum patamar específico para o câmbio que o levaria a atuar", aponta.