Economia

State Grid e Eletrobras vencem leilão de Belo Monte

Empresas fizeram uma oferta com forte deságio de 38% sobre a receita anual permitida (RAP) no edital do certame


	Obras da Belo Monte: State Grid e as empresas da Eletrobras garantiram uma receita anual por operação do empreendimento de 434,6 milhões de reais
 (Valter Campanato/ABr)

Obras da Belo Monte: State Grid e as empresas da Eletrobras garantiram uma receita anual por operação do empreendimento de 434,6 milhões de reais (Valter Campanato/ABr)

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Da Redação

Publicado em 7 de fevereiro de 2014 às 15h55.

São Paulo - A chinesa State Grid e as empresas do grupo Eletrobras Furnas e Eletronorte venceram o leilão de transmissão para o escoamento da energia da hidrelétrica Belo Monte nesta sexta-feira, oferecendo um lance que não deixou chances para as outras competidoras.

O consórcio chamado Interligação Elétrica Belo Monte (IE Belo Monte) ofereceu 38 por cento de desconto sobre a receita anual permitida (RAP) máxima determinada para o certame.

A IE Belo Monte será responsável por construir uma linha de transmissão de mais de 2 mil quilômetros e duas estações conversoras em extra-alta tensão, num modelo tecnológico em 800 kV ainda inexistente no Brasil, mas no qual os chineses têm experiência.

O lance vencedor foi de um desconto bem acima do oferecido pelos outros dois participantes -- de 11,49 por cento no caso da espanhola Abengoa Construção, e de 4,93 por cento do consórcio formado por Taesa e Alupar.

O investimento estimado no projeto pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é de 5 bilhões de reais. Mas o presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, sinalizou que o investimento poderia ficar próximo dos 4,5 bilhões de reais. Cerca de 2 bilhões de reais serão gastos em equipamentos segundo contrato fechado com a Siemens.

"O financiamento vai ser grande parte com o BNDES, alguma coisa com FI-FGTS, alguns aspectos com lançamento de debêntures e alguma coisa chinesa", disse Costa Carvalho. Ele acrescentou que o financiamento chinês virá da própria State Grid, que deve participar com 10 por cento do total. O BNDES deverá financiar entre 50 e 55 por cento, disse ele.

Um Dígito

Com o lance vencedor, a State Grid e as empresas da Eletrobras garantiram uma receita anual por operação do empreendimento de 434,6 milhões de reais, a partir do momento em que o sistema entrar em operação, o que está previsto para ocorrer em 46 meses.

Questionado sobre a taxa de retorno do investimento, o presidente da Eletrobras disse que deve ficar em "um dígito" e que está satisfeito com o retorno. "E acredito que a State Grid também", afirmou ele, dizendo que nas atuais condições de economia "mais estruturada" do país, dificilmente se consegue taxas de retorno de dois dígitos.

A companhia chinesa tem 51 por cento do consórcio vencedor, o restante está com Furnas e Eletronorte em partes iguais.


As companhias serão responsáveis pela construção e operação de uma linha de transmissão de 2.092 quilômetros e duas estações conversoras de energia, que escoarão energia do Pará ao centro de carga elétrica no Sudeste do país. A linha sai de uma área de atuação da Eletronorte e de uma subestação da State Grid, chegando à Minas Gerais, a uma subestação operada por Furnas.

Adiantamento

Carvalho Neto disse ainda que tentará adiantar a entrada em operação da linha, prevista para 30 janeiro de 2018, em cerca de três meses. O sistema de transmissão deve estar disponível para operar quando a 12a unidade geradora da usina hidrelétrica de Belo Monte estiver em operação, escoando a energia para a região Sudeste.

O prazo de concessão da linha é de 30 anos. Nenhum representante da State Grid estava presente na entrevista coletiva à imprensa após o leilão.

O diretor de transmissão da Eletrobras, José Antonio Muniz Lopes, afirmou que será mais fácil viabilizar a construção na área pela qual passará o sistema de transmissão de Belo Monte do que no caso da linha que liga as usinas do Rio Madeira.

"Acho que nós teremos muito menos dificuldades", disse ele em referência a questões ambientais.

Equipamentos e Parcerias

O presidente da Eletrobras disse que apesar de não haver nenhum sistema de transmissão em 800 kV operando no Brasil atualmente, 100 por cento dos equipamentos para a linha de transmissão de Belo Monte serão nacionais. Já para as duas estações conversoras, o grau de nacionalização será de 60 por cento.

Ele acrescentou ainda que, em breve, o laboratório do Cepel, centro de pesquisas do grupo Eletrobras, estará habilitado a realizar testes com essa tecnologia.

A State Grid, que já trabalha com essa tecnologia na China, pode voltar a ser parceira da Eletrobras no leilão de transmissão do segundo bipolo de transmissão de Belo Monte, ou seja, da segunda linha que ligará a hidrelétrica no Pará ao Sudeste, chegando em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. O leilão ainda não tem data marcada, mas existe a possibilidade de que ocorra neste ano.

"A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) já iniciou os estudos sinalizando uma necessidade para operação no início de 2019", disse o secretário-adjunto de Planejamento Energético do Ministério de Minas e Energia, Moacir Bertol.


Ele afirmou que o ministério está finalizando análises e interagindo junto com a EPE e deverá tomar uma decisão nos próximos dias sobre a ocorrência do leilão no final do ano ou sua postergação.

O presidente da Eletrobras disse ainda que avalia parceria com a State Grid para um projeto de transmissão de energia em Moçambique, orçado em cerca de 5 bilhões de reais, para escoamento de eletricidade para a África do Sul e para regiões em Moçambique.

Apagão

Questionado sobre o curto-circuito que atingiu uma linha da Intesa no Tocantins, na qual a Eletrobras tem participação, o presidente da estatal federal disse que a performance da empresa no sistema de transmissão é boa e que o número de desligamentos que resulta em interrupção do serviço de entrega de energia é muito baixo.

"Nós podemos dizer que não temos muitos problemas ... A cada dia, o que nós pretendemos é fazer todas as blindagens possíveis para ter sistemas imunes a raios, mas alguma coisa sempre acontece", afirmou.

O presidente da Eletrobras disse ainda que no sistema da estatal há um índice de 2,1 defeitos para cada 100 quilômetros de linha por ano.

A linha da Intesa foi a primeira a sofrer curto-circuito e desligamento na terça-feira, em evento que levou a um apagão de energia em diversas regiões do país.

No mesmo dia, também houve curto-circuito na linha da Taesa, localizada na mesma região. Segundo o presidente da companhia, José Ragone, a Taesa teria encontrado evidências em seus equipamentos de que um raio atingira sua linha de transmissão.

Ragone afirmou ainda que o sistema de proteção da linha funcionou corretamente e que as informações sobre o incidente foram enviadas para análise pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).

Atualizado às 16h53min do mesmo dia, para adicionar mais informações.

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