Economia

Sombra de Joaquim Levy no BC estimula apostas

Nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda deixou traders mais convencidos de que o juro básico da economia se dirige para cima


	O ministro da Fazenda, Joaquim Levy: Levy prometeu adotar uma maior disciplina fiscal e reduzir a dívida
 (Wilson Dias/Agência Brasil)

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy: Levy prometeu adotar uma maior disciplina fiscal e reduzir a dívida (Wilson Dias/Agência Brasil)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2014 às 19h55.

Brasília - O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não estará na sala quando os diretores do Banco Central do Brasil se reunirem hoje para fixar a taxa de juros.

Contudo, sua nomeação na semana passada deixou os traders mais convencidos de que o juro básico da economia se dirige para cima.

A negociação no mercado de swaps mostra que há 40 por cento de chance de os estrategistas do BC elevarem a taxa básica em 0,75 ponto porcentual, para 12 por cento, hoje, o que seria o maior aumento desde junho de 2010.

Recentemente, no dia 26 de novembro, na véspera de Levy ser escolhido, a probabilidade era zero.

A escolha da presidente Dilma Rousseff por Levy está provocando a especulação de que o governo ampliará os esforços para controlar a inflação, que excedeu o centro da meta do país nos últimos quatro anos, segundo a Icap Brasil e a Votorantim CTVM Ltda.

Um dia depois de assumir, Levy, um ex-executivo do Banco Bradesco SA e ex-secretário do Tesouro, prometeu adotar uma maior disciplina fiscal e reduzir a dívida em um país onde o gasto público promoveu o maior aumento do déficit em mais de uma década.

“Levy é um fator que aponta para uma política econômica mais ortodoxa”, disse Guilherme Maia, economista da Votorantim CTVM, por telefone, de São Paulo. “Temos que pensar que a política monetária e a fiscal trabalharão juntas. Mas independentemente do aperto fiscal que ele fará, existe a necessidade de realizar um aperto na política monetária a um ritmo mais forte agora”.

Projeções para a taxa

As assessorias de imprensa do BC e do Ministério da Fazenda preferiram não comentar a respeito da perspectiva para as taxas de juros.

Em uma pesquisa da Bloomberg, os cinco prognosticadores mais precisos e a maioria dos traders dizem que os estrategistas do BC, liderados por Alexandre Tombini, provavelmente elevarão a taxa de referência, a Selic, em meio ponto porcentual, hoje. Em sua última reunião, em outubro, o BC subiu a taxa inesperadamente em 0,25 por cento, para 11,25 por cento, nível mais alto desde outubro de 2011.

Levy, um economista que estudou na Universidade de Chicago, disse no dia 27 de novembro que diminuirá o déficit orçamentário para reduzir a dívida do país enquanto porcentagem do produto interno bruto. Em seu mandato no Tesouro Nacional, o Brasil cortou sua dívida pública de 60 por cento para 48 por cento do PIB.

A propensão de Levy para limitar gastos rendeu a ele o apelido de Edward Mãos de Tesoura – referência ao filme de mesmo nome de Tim Burton, de 1990 –, quando era secretário estadual da Fazenda do Rio de Janeiro.

Mão quente

A elevação nos gastos do governo durante o primeiro mandato de Dilma se somou ao aumento da inflação. Os preços ao consumidor subiram 6,42 por cento no período de 12 meses até meados de novembro, após excederem o limite superior da meta, de 6,5 por cento, em todos os meses, de agosto para cá. O BC busca manter a inflação em 4,5 por cento, com dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

Michael Henderson, analista para a América Latina da Maplecroft, empresa com sede em Londres, que foi o único prognosticador em uma pesquisa da Bloomberg a prever precisamente o aumento do BC em outubro, disse que os estrategistas do banco elevarão as taxas em 0,25 por cento porque o crescimento econômico continua fraco.

A maior economia da América Latina saiu da recessão no terceiro trimestre, quando teve uma expansão de 0,1 por cento, disse o IBGE no dia 28 de novembro. Contudo, o crescimento foi menor que a estimativa média de 0,2 por cento levantada por uma pesquisa da Bloomberg.

“O Brasil acaba de sair da recessão, por isso, nesse contexto, o BC não será demasiado agressivo”, disse Henderson, por telefone. “A inflação começou a perder um pouco de força e eles ainda estariam pressionados a pensar em crescimento porque não podem arriscar colocar o país de novo em recessão”.

"Cirurgia radical"

Além de Levy, Dilma, que na semana passada prometeu realizar um “imenso esforço” para diminuir a inflação, também escolheu o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, para o comando do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, e disse que Tombini continuará à frente do BC.

“Levy tem uma história de arrocho fiscal”, disse João Junior, trader de renda fixa da Icap Brasil, por telefone, de São Paulo. “O governo pode realizar uma cirurgia radical ou usar um medicamento homeopático para consertar a economia doente do Brasil. Com a nova equipe econômica, parece que eles estão escolhendo a primeira opção”.

Acompanhe tudo sobre:Banco Centraleconomia-brasileiraJoaquim LevyMercado financeiroMinistério da Fazenda

Mais de Economia

China e Brasil: Destaques da cooperação econômica que transformam mercados

'Não vamos destruir valor, vamos manter o foco em petróleo e gás', diz presidente da Petrobras

Governo estima R$ 820 milhões de investimentos em energia para áreas isoladas no Norte

Desemprego cai para 6,4% no 3º tri, menor taxa desde 2012, com queda em seis estados