Economia

Soja brasileira é porto seguro em meio ao pânico global

Preços no país, maior exportador global do produto, subiram nas últimas semanas mesmo com a queda da maioria dos mercados de commodities devido a epidemia

Fazendeiro assiste à soja sendo despejada em caminhão em Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo. Foto: : Patricia Monteiro/Bloomberg (Patricia Monteiro/Bloomberg)

Fazendeiro assiste à soja sendo despejada em caminhão em Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo. Foto: : Patricia Monteiro/Bloomberg (Patricia Monteiro/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 10 de março de 2020 às 12h04.

Para quem quiser se proteger da turbulência global, talvez seja hora de buscar refúgio no mercado de soja do Brasil.

Os preços da soja no país, maior exportador global do produto, subiram nas últimas semanas mesmo com a queda da maioria dos mercados de commodities devido ao impacto do surto de coronavírus. O movimento se deve em grande parte à alta do dólar em relação ao real, que torna as exportações brasileiras mais competitivas.

Os preços da soja subiram para o nível mais alto desde outubro de 2018 no mercado doméstico, retomando os níveis vistos durante a guerra comercial China-EUA, que impulsionou a demanda pelas exportações brasileiras. O rali ocorre apesar de a colheita estar bem adiantada na América do Sul, quando normalmente os preços caem com o aumento da oferta. Por outro lado, os contratos futuros da soja para entrega em maio negociados em Chicago, a referência mundial, acumulam queda de cerca de 10% este ano.

Preços da soja no Brasil voltam ao nível atingido durante guerra tarifária

Preços da soja no Brasil voltam ao nível atingido durante guerra tarifária (Divulgação)

“Com os preços no atual patamar e a safra recorde, os produtores terão uma rentabilidade muito boa neste ano”, disse Leon Davalo, da corretora de grãos Granos, em Campo Grande.

O dólar acumula alta superior a 15% em relação ao real em 2020. Com isso, a moeda brasileira tem o pior desempenho global e é negociada em mínimas históricas. Esse movimento provocou alguns bolsões inesperados de estabilidade, longe da onda vendedora que domina ações e commodities globais à medida que a crise de saúde desacelera as economias.

Com a turbulência no mercado de câmbio, usinas de açúcar brasileiras fizeram hedge dos embarques em níveis muito maiores do que o normal no início deste ano, o que proporcionou certa proteção agora que os preços da commodity estão em queda. As exportações de carne do país também devem se beneficiar da alta do dólar.

No caso da soja, agricultores brasileiros agora aumentam as vendas para aproveitar os ganhos dos preços domésticos.

Com a alta do dólar, as vendas para a temporada 2019-2020 deram um salto para 61% da safra em 6 de março em relação aos 50% um mês antes, de acordo com Luiz Fernando Roque, analista da consultoria Safras & Mercado. As vendas antecipadas para a próxima safra também aceleraram, com ofertas próximas dos preços à vista, um movimento atípico.

Ainda assim, as vendas podem começar a desacelerar, já que os preços perto de níveis recordes tendem a esfriar a demanda, disse Roque. Exportadores estão abastecidos em termos de volume e, provavelmente, em posição confortável o suficiente para aguardar uma queda nos preços domésticos.

As usinas de cana-de-açúcar haviam feito hedge de 78% das exportações esperadas para a temporada 2020-2021 até 5 de março, um salto em relação à média de 50% para esta época do ano nas últimas cinco temporadas, segundo a Archer Consulting.

Isso significa que grande parte da safra está protegida pela baixa do mercado. Os preços do açúcar podem continuar em queda, já que o colapso das cotações do petróleo diminui o apelo do etanol e incentiva usinas a transformar mais cana em açúcar, em vez do biocombustível.

(Com a colaboração de Isis Almeida, Fabiana Batista e Marvin G. Perez)

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