Economia

Sob o ceticismo internacional

Lourival Sant’Anna O governo brasileiro está adotando reformas e políticas econômicas na direção certa, mas as perspectivas do país dependem do quanto o presidente Michel Temer e seus principais auxiliares serão atingidos pelas investigações da Lava-Jato e pelo processo sobre o financiamento de sua campanha no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). É o que afirma a […]

TEMER: “jamais colocaria minha biografia em risco” / Adriano Machado/ Reuters (Adriano Machado/Reuters)

TEMER: “jamais colocaria minha biografia em risco” / Adriano Machado/ Reuters (Adriano Machado/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 1 de fevereiro de 2017 às 19h00.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h06.

Lourival Sant’Anna

O governo brasileiro está adotando reformas e políticas econômicas na direção certa, mas as perspectivas do país dependem do quanto o presidente Michel Temer e seus principais auxiliares serão atingidos pelas investigações da Lava-Jato e pelo processo sobre o financiamento de sua campanha no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). É o que afirma a empresa de análise de risco americana Stratfor, em relatório dedicado ao Brasil, publicado nessa terça-feira 31, sob o título: “Uma investigação de corrupção obscurece as perspectivas de retomada econômica do Brasil”.

O estudo cita a projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que a economia brasileira pode crescer 0,2% este ano. Esse cálculo foi revisto para baixo no dia 16; antes, era de 0,5%. Relatório do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas, prevê crescimento de 0,3% este ano, puxado pelo setor agropecuário, que deve crescer 0,5%. Seria o primeiro ano de crescimento no Brasil desde 2014. O PIB brasileiro encolheu 3,8% em 2015. No ano passado, segundo estimativa do FMI, a queda foi de 3,5%. A economia mundial deve crescer 3,1% este ano, prevê o Fundo.

“O presidente interino Michel Temer tem sido importante na guinada na economia”, afirma a Stratfor, que o classifica como “interino”, embora depois da votação do impeachment no Congresso ele tenha assumido o cargo definitivamente. “Apesar de seus baixos índices de aprovação, Temer tem conseguido aprovar medidas econômicas essenciais, incluindo um teto para os gastos e uma (nova) regulação para o pré-sal. Além disso, o Legislativo está discutindo propostas de reformas trabalhista e da Previdência.”

O relatório observa que, apesar da impopularidade das reformas entre os eleitores brasileiros, os congressistas as têm apoiado por receio de que elas não sejam levadas adiante pelo novo governo que tomará posse em janeiro de 2019.

A Stratfor assinala que, além das reformas, também pesa em favor da economia brasileira o fato de que o Brasil sofrerá menos com as potenciais políticas protecionistas do novo governo americano do que o México: “O Brasil tem muito menos exposição ao comércio e à imigração nos Estados Unidos do que o México, e as exportações representam uma fatia menor do PIB”.

O embaixador brasileiro em Washington, Sérgio Amaral, assinalou a EXAME Hoje que, ao contrário do México, o Brasil registra déficit na balança comercial com os EUA. Além disso, empresas brasileiras somam um estoque de investimentos de 24 bilhões de dólares nos Estados Unidos, disse o embaixador, acrescentando que a JBS emprega 60.000 pessoas no país e a Gerdau tem oito siderúrgicas. A Odebrecht foi a primeira empresa a explorar águas profundas no Golfo do México e tem uma “importante presença” em Houston, Texas, o epicentro da indústria do petróleo americana. “Só temos boas notícias para o presidente Trump”, avaliou o embaixador.

Entretanto, ressalva o relatório, “uma recuperação está longe de estar garantida, e novas guinadas na Operação Lava-Jato poderiam obscurecer o cenário econômico e político deste ano”. As delações dos funcionários da Odebrecht, explica a Stratfor, poderiam implicar Temer, “juntamente com cerca de 25% dos congressistas brasileiros, por aceitar doações ilegais da empresa” para suas campanhas eleitorais. “Se o TSE condenar Temer, ele não terá outra escolha a não ser renunciar, o que mergulharia o Brasil de volta na incerteza política e atrasaria as medidas econômicas que seu governo tem procurado adotar.”

O texto assinala que a morte do ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), deu esperanças ao governo de que a corte adiaria a divulgação do conteúdo das delações. Já na segunda-feira 30, a presidente do STF, Carmen Lúcia, ratificou os acordos de delação, mas manteve seu conteúdo sob sigilo, diz a Stratfor. Agora o procurador-geral, Rodrigo Janot, revisará os depoimentos para decidir se abre novos processos.

“Se Temer sair ileso, a estabilidade política resultante poderia contribuir para o retorno do crescimento”, concluem os analistas da Stratfor, cujos relatórios são comprados por grandes empresas, governos e investidores do mundo todo. “Se, por outro lado, o presidente interino for envolvido e forçado a renunciar, o país provavelmente passará mais um ano sob recessão.”

Parafraseando Galileu Galilei — que segundo Bertold Brecht teria dito “infeliz da terra que precisa de heróis” —, infeliz da economia que depende da honestidade dos políticos.

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