Os sindicatos desejam o reinício das negociações de ajustes salariais deste ano, de acordo com a inflação que agora está em 27% (Marcos Brindicci/Reuters)
AFP
Publicado em 25 de junho de 2018 às 15h30.
Os sindicatos da Argentina paralisavam nesta segunda-feira o país com uma greve de 24 horas, com a qual pretendem mostrar sua força ante o governo do presidente Mauricio Macri e rejeitar o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Com os trens, metrô, ônibus e aviões parados, os organizadores esperam uma grande adesão ao movimento, que durante a manhã deixou a capital Buenos Aires semi deserta, com a maioria das lojas fechadas.
Embora a convocação da Confederação Geral de Trabalhadores (CGT) se limite a uma paralisação das atividades, sem manifestações, setores mais radicais bloqueiam os acessos à cidade de Buenos Aires com mobilizações e anunciaram um protesto no Obelisco.
A partir das 7H00, grupos de ativistas começaram a fechar as principais avenidas de entrada a Buenos Aires, onde foram mobilizados centenas de policiais.
"Não é suficiente uma paralisação geral. É necessário um plano de luta, uma verdadeira disposição de luta para derrotar este plano de guerra contra os trabalhadores", afirmou à AFP Marcelo Ramal, dirigente do Partido Operário.
Hugo Moyano, líder dos caminhoneiros e um dos idealizadores do protesto, disse que "a este governo é muito difícil trazer soluções. São um instrumento do poder porque se entregaram ao FMI".
O ministro das Finanças, Nicolás Dujovne, disse que a greve terá um custo de quase 29 bilhões de pesos (quase um bilhão de dólares).
Com um mal-estar crescente pela situação econômica, que levou o governo a fazer um acordo com o FMI, esta será a oportunidade para medir a capacidade de resistência sindical.
"A greve é contra o programa econômico, para que se abandone esta linha de ajuste permanente. O FMI sempre trouxe penúrias aos argentinos", disse à AFP Juan Carlos Schmid, dirigente da CGT.
Como proposta concreta, os sindicatos desejam o reinício das negociações de ajustes salariais deste ano, para um alinhamento com a projeção de inflação, calculada agora pelo Banco Central em 27%.
As negociações que aconteceram em sua maioria no início do ano utilizaram como referência a meta de inflação anual de 15%.
Para tentar retomar o diálogo com os sindicatos, o ministro do Trabalho, Jorge Triaca, afirmou desejar que as negociações salariais aconteçam livremente.
Mas o ministro afirmou que "alguns setores sindicais estão tentando aumentar as tensões sociais, os níveis de conflito e a instabilidade do governo".
"A greve não ajuda a resolver o problema dos argentinos", disse.
"O governo está em uma conjuntura muito difícil, se encontra no menor índice de popularidade e enfrenta um forte questionamento do setor assalariado", afirmou à AFP o cientista político Diego Reynoso, da Universidade de San Andrés, em Buenos Aires.
O desemprego chegou a 9,1% no primeiro trimestre do ano, contra 7,2% no último trimestre de 2017.
Para enfrentar uma corrida cambial que começou no fim de abril e que provocou uma desvalorização da moeda de quase 35% no decorrer do ano, o FMI concedeu à Argentina um crédito stand by de 50 bilhões de dólares, o maior já estabelecido por este organismo.
O crédito tem vigência de três anos e, em troca, a Argentina se compromete a reduzir a zero em 2020 seu déficit fiscal, que no ano passado foi de 3,9% do PIB.
Para isto é necessário interromper as obras públicas, reduzir o tamanho do Estado e limitar as transferências às províncias.
Como previsão, o acordo contém uma cláusula que permite ao Estado elevar o gasto em projetos sociais no caso de aumento da pobreza, que em 2017 atingiu 25%.