Prédios no Rio: os preços das casas subiram 181 por cento em São Paulo desde janeiro de 2008 e 225 por cento no Rio, segundo o índice Fipe Zap (Eduardo Pazos/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 25 de setembro de 2013 às 19h54.
São Paulo - Robert Shiller, que previu o colapso do mercado imobiliário americano depois de um salto nos preços, acredita que uma bolha semelhante está se formando no Brasil, onde a economia fraca e a inflação persistente abalam a confiança do investidor.
Os preços das casas subiram 181 por cento em São Paulo desde janeiro de 2008 e 225 por cento no Rio, segundo o índice Fipe Zap. A alta é até 2 vezes maior que o aumento dos aluguéis no período, o que sinaliza superaquecimento do setor, segundo Schiller, que é professor da Yale University e ajudou a criar o índice S&P/Case-Shiller no mercado imobiliário americano. O índice caiu 13,7 por cento desde 2007.
“Por que os preços dobrariam em 5 anos?”, disse Shiller em um evento em Campos do Jordão em 31 de agosto. “O que poderia justificar isso que não o entusiasmo? Os preços sobem todo mês. Eles sempre sobem”.
A economia brasileira segue para a menor expansão acumulada em dois anos em mais de uma década. O Banco Central fez a maior elevação da taxa básica de juros do mundo para conter o avanço da inflação.
Credores hipotecários como a Caixa Econômica Federal terão que transferir a alta dos custos dos empréstimos para consumidores, que já lidam com endividamento recorde, aumentando a taxa de referência atrelada às hipotecas, segundo o Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada. A taxa média para hipotecas subiu para 8 por cento em julho depois de um valor baixo recorde de 7,74 por cento em fevereiro.
Nenhuma bolha
Os empréstimos hipotecários no Brasil cresceram oito vezes nos seis anos finalizados em 30 de junho, para R$ 345,7 bilhões, conforme dados do Banco Central. A Caixa, o banco estatal que representa aproximadamente dois terços do mercado de hipotecas, disse que seus empréstimos para propriedades cresceram 44 por cento no primeiro semestre em relação há um ano, para R$ 66 bilhões.
O vice-presidente de empréstimos imobiliários da Caixa, Teotônio Rezende, disse que o portfólio de créditos deste setor do banco vai crescer 60 por cento esse ano para R$ 7,5 bilhões.
Rezende afirmou, em entrevista em Brasília, que o aumento dos preços das propriedades não é uma bolha. Ele reflete a demanda reprimida após anos de hiperinflação que infestaram a economia nas décadas de 1980 e 1990, disse Rezende.
“Entre 1984 e 2002, os valores das propriedades se depreciaram”, explicou. “Houve estagnação econômica, hiperinflação, perdas salariais, desemprego alto. Portanto, o que observamos desde então é um reajuste de preços depois desses problemas”.
“Respostas indignadas”
“Sempre há uma forma de argumentar em favor de qualquer alta nos preços”, disse Shiller. “As pessoas gostam de pensar que isso é um aumento estável e sólido. Eu disse coisas similares a essa sobre os Estados Unidos em 2005 e recebi respostas indignadas. Alguns me falaram que eu poderia estar mudando a psicologia dizendo essas coisas. Há quem pense que é como gritar fogo em um teatro lotado – você não deveria fazer isso porque poderia criar pânico. Eu senti que talvez não devesse fazer isso. Mas por outro lado, eu penso, pelo menos há que advertir as pessoas”.
Na semana passada, o Banco Central votou por unanimidade o aumento na meta de taxa de empréstimos para 9 por cento, o terceiro incremento consecutivo de meio ponto. Desde abril, os responsáveis pela política econômica já aumentaram a taxa de referência em 1,75 pontos porcentuais – o maior acréscimo entre os bancos centrais acompanhados pela Bloomberg – depois que de ter chegado a 7,25 por cento, seu valor mais baixo.
Gustavo Franco, ex-diretor do Banco Central e fundador da Rio Bravo Investimentos, negou que haja uma bolha imobiliária no Brasil. Franco, que afirmou que o boom das propriedades em mercados emergentes alcançou o bairro de São Paulo onde sua companhia está sediada há oito anos, prevê que os fundos de investimento em bens imóveis dobrem em dois anos à medida que a classe média brasileira continue cumprindo o sonho de possuir uma casa própria.