Serviços: além das medidas de isolamento e do aumento no número de mortes no país, o desemprego elevado também se apresenta como desafio para os empresários de serviços (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 11 de fevereiro de 2021 às 10h18.
O volume de serviços no Brasil recuou em dezembro e interrompeu seis meses de ganhos, terminando o ano de 2020 com a maior perda da série histórica e abaixo dos níveis pré-pandemia diante do impacto das medidas de isolamento devido à covid-19 em um setor dependente do contato social.
Atividade mais afetada pelas medidas de contenção ao coronavírus, o volume de serviços registrou em dezembro recuo de 0,2% na comparação com o mês anterior, de acordo com os dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em relação a dezembro de 2019, houve de perda de 3,3%, 10ª taxa negativa nessa base de comparação. Os resultados foram piores do que as expectativas em pesquisa da Reuters, que eram de uma alta de 0,4% na comparação mensal e de baixa de 2,6% na base anual.
Com isso, o ano de 2020 marcou o pior resultado para os serviços no Brasil da série histórica iniciada em 2012 nesse tipo de indicador, superando a retração de 5% em 2016 e após estabilidade em 2018 e ganho de 1,0% em 2019.
"É um segmento que depende do consumo presencial e as restrições impostas afetaram de forma diferenciada o setor. Isso fez com que serviços, dentro dos grandes grupos da economia, tenha tido o pior desempenho", afirmou o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo.
Além disso, o setor ainda se encontra 3,8% abaixo do patamar de fevereiro, quando as medidas de isolamento social para controle da pandemia de covid-19 ainda não haviam sido adotadas. E terminou o ano operando num patamar equivalente a maio de 2018, quando ocorreu a greve de caminhoneiros, segundo o IBGE.
Altamente dependente do contato presencial, o setor de serviços é o que mais apresenta dificuldades de reação depois das fortes perdas causadas pela pandemia de covid-19.
Além das medidas de isolamento e do aumento no número de mortes no país, o desemprego elevado também se apresenta como desafio para os empresários de serviços, bem como o fim do pagamento do auxílio emergencial no final do ano passado.
De acordo com Lobo, indicadores antecedentes já apontam para redução dos serviços em janeiro devido ao aumento dos casos de covid-19 e das restrições.
"O mais importante para a retomada do setor de serviços é uma vacinação em massa da população, e é impossível dissociar a reação da questão sanitária. Isso vai tirar o receio das pessoas e aumentar a circulação delas, com maior consumo", afirmou Lobo.
Em 2020, os setores que mais impactaram a queda são os ligados às atividades presenciais, como serviços prestados às famílias (-35,6%), os profissionais, administrativos e complementares (-11,4%) e os transportes (-7,7%), que tiveram quedas recorde no período.
"As restrições afetaram bares, restaurantes, hotelaria, transportes e afins. Todos dependem do consumo presencial", explicou Lobo. "O setor de serviços sentiu mais que os demais por conta do caráter presencial que foi afetado pelas restrições impostas pela pandemia."
O único setor que teve resultados positivos em 2020 foi o de outros serviços, com alta de 6,7%, devido ao aumento das receitas das empresas que atuam nos segmentos de corretoras de títulos, valores mobiliários e mercados e administração de bolsas e mercados de balcão organizados.
"Com a queda recente da taxa de juros, famílias e empresas passaram a procurar outras formas de investimento alternativas à poupança e estão migrando para investimentos de renda fixa ou variável", disse Lobo.
Em dezembro duas das cinco atividades pesquisadas registraram taxas negativas --os serviços prestados às famílias (-3,6%) e os transportes, serviços auxiliares ao transportes e correio (-0,7%).
Já o índice de atividades turísticas teve estabilidade em dezembro sobre o mês anterior, após registrar sete taxas positivas seguidas. O segmento de turismo ainda precisa avançar 42,9% para retomar ao patamar de fevereiro, de acordo com o IBGE. No acumulado do ano, a retração foi de 36,7%.