Operando com nível de ociosidade superior a 25% e com a menor carteira de pedidos desde pelo menos 2010, setor representa um dos termômetros do investimento industrial brasileiro (China Daily/Reuters)
Da Redação
Publicado em 31 de julho de 2013 às 18h55.
São Paulo - A indústria de máquinas e equipamentos deve amargar uma queda de 8 por cento nas vendas em 2013 em relação ao já fraco desempenho de 2012, previu nesta quarta-feira a entidade representativa do setor (Abimaq), depois de dados decepcionantes de faturamento em junho.
Operando com nível de ociosidade superior a 25 por cento e com a menor carteira de pedidos desde pelo menos 2010, o setor que representa um dos termômetros do investimento industrial brasileiro encerrou junho com queda anual 12,2 por cento no faturamento, no primeiro resultado negativo deste ano.
Para a Abimaq, a queda marcou uma inversão de tendência de crescimento e ,junto com um fraco movimento até agora em julho, mostra que o cenário otimista do início do ano não é mais válido.
"Começamos o ano com uma visão otimista, mas isso mudou com a queda no faturamento em junho, que inverteu a tendência. O ano de 2013 não vai ser melhor que 2012, que já foi um ano muito ruim", disse o vice-presidente da Abimaq, Carlos Pastoriza.
A expectativa anterior da entidade era de crescimento de 4 a 5 por cento no faturamento este ano e tinha sido fomentada por forte procura no final de 2012 de pedidos de financiamento junto ao BNDES para compras de máquinas e por elevação no faturamento das empresas, segundo a entidade.
Além disso, o governo promoveu uma série de medidas de apoio ao setor, como desoneração de folha de pagamento, redução de Imposto sobre Produtos Industrializados e renovação até o fim deste ano do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que oferece juros reduzidos para compra de máquinas.
Mas em meio ao crescimento vacilante da economia e das manifestações sociais no final do semestre, o nível de confiança do empresariado não tem animado a Abimaq. "O problema, além do baixo nível da carteira de encomendas, foi falta de disposição de investir de nossos clientes", disse Pastoriza a jornalistas.
Segundo a Abimaq, que representa 30 segmentos de máquinas e equipamentos do país, a carteira de pedidos do setor encerrou junho em 2,9 meses, queda de 20 por cento sobre o ano anterior. Em 2010, a carteira atingiu pico de 5,1 meses.
Os segmentos que ainda têm mostrado bom desempenho são aqueles ligados à agroindústria, máquinas para construção e equipamentos ligados ao consumo, como para produção de embalagens.
Em junho, o faturamento total do setor máquinas somou 6,797 bilhões de reais, queda de 6,4 por cento sobre maio. O resultado contribuiu para uma queda no semestre de 8,2 por cento, para 37,727 bilhões de reais.
O nível de utilização de capacidade da indústria fechou junho em 73,9 por cento ante 76,5 por cento no mesmo mês de 2012.
Consumo cresce por importação
E apesar do consumo aparente de máquinas no semestre ter subido 3,5 por cento, para 58,27 bilhões de reais, o crescimento foi guiado em grande parte por importações, segundo a entidade.
As compras de máquinas produzidas no exterior subiram 4,9 por cento no primeiro semestre, para 16,17 bilhões de dólares, com a participação da China crescendo de cerca de 16 para 17,6 por cento e os Estados Unidos mantendo a liderança com 24,8 por cento.
Enquanto isso, as exportações do setor fecharam o semestre em queda de 13,7 por cento, a 5,53 bilhões de dólares.
"O câmbio a 2,30 (reais por dólar) não aumenta o bolo, mas pode aumentar a fatia da indústria nacional", disse o assessor econômico da presidência da Abimaq, Mario Bernardini.
Segundo ele, a desvalorização do real ainda não gerou o efeito inflacionário temido pelo Banco Central e o aumento da taxa de juros pela autoridade monetária não ajuda a economia.
"O BC está colocando lenha na fogueira. A atividade econômica já está caindo", afirmou.
A Abimaq tenta emplacar junto ao governo um programa de estímulo à produção nacional de máquinas, inspirado no Inovar-Auto aprovado para o setor automotivo no final do ano passado, mas reconhece que o atual momento das contas públicas torna o pleito mais difícil, pois representaria renúncia fiscal, disseram diretores da entidade.