Economia

Setor de café vê fim da perspectiva de supersafra com clima seco

Tradicionais regiões cafeeiras como o sul de MG, por exemplo, receberam 10 milímetros de chuva nos últimos 30 dias, um quinto do normal para o período

Café: áreas de café que foram recém-renovadas sofrem mais (Leandro Moraes/Divulgação)

Café: áreas de café que foram recém-renovadas sofrem mais (Leandro Moraes/Divulgação)

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Reuters

Publicado em 18 de setembro de 2017 às 19h57.

São Paulo - Agrônomos, produtores e cooperativas de café do Brasil estão minimizando perspectivas anteriores de que o maior produtor mundial colheria sua maior safra da história em 2018, uma vez que uma seca severa nas principais regiões está danificando os pés.

Tradicionais regiões cafeeiras como o sul de Minas Gerais receberam apenas 10 milímetros de chuva nos últimos 30 dias, um quinto do normal para o período, e só verão o retorno das chuvas no fim do mês.

Produtores e cooperativas dizem que pés não produzirão mais a grande safra que muitos analistas esperavam para a próxima temporada, quando as áreas cafeeiras do Brasil entrarão no ano de alta do ciclo bienal de produção do arábica.

"A ideia da supersafra acabou", disse Jandir Castro Filho, gerente comercial na cooperativa Cocapec em Franca, na região de café de Alta Mogiana, no Estado de São Paulo.

Segundo ele, áreas de café que foram recém-renovadas sofrem mais, já que novos pés não possuem raízes profundas o bastante para alcançar água mais afundo no solo.

Ele também vê como vulneráveis as áreas que passaram por uma poda mais intensa após a grande safra no ano passado.

Alguns analistas estavam esperando que o Brasil alcançasse uma máxima histórica de 60 milhões de sacas de café no próximo ano, baseados no ano de alta produtividade e a boa preparação feita por produtores.

Como comparação, a consultoria Safras & Mercado projeta safra de 51,1 milhões de sacas neste ano, enquanto a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima a produção em 45,6 milhões de sacas de 60 kg, sendo 35,4 milhões de sacas da variedade arábica.

No último ano de alta da safra brasileira, em 2016, a produção total, segundo a Conab, chegou a um volume histórico de 51,4 milhões de sacas, com um recorde de 43,4 milhões de sacas de arábica - as projeções oficiais historicamente são menores do que as do mercado e de consultorias privadas.

"Não tem jeito de voltar a ter um recorde (em 2018)...", afirmou o agrônomo e pesquisador Fundação Procafé, José Braz Matiello, que baseou seus comentários nos dados da Conab, referindo-se à safra de arábica.

Segundo Matiello, os pés estão perdendo mais folhas do que o normal para esta época do ano, devido principalmente à incidência de doenças fúngicas, como a ferrugem e a cercosporiose.

Ele explicou que tais doenças tendem a ocorrer quando as plantas ficam desnutridas, em meio à estiagem.

"As folhas ficam amarelas e caem, é um mecanismo de defesa da planta...", disse ele, acrescentando que vê a próxima safra mais perto de 50 milhões de sacas do que 60 milhões de sacas.

Segundo ele, acima de 40 por cento de desfolha, a planta já começa a perder o potencial de produtividade.

"Em boa parte das lavouras, a desfolha está acima disso. Em muitas lavouras, talvez mais da metade, tem desfolha de 70, 80 por cento... Mas desfolha de 70 por cento é comum", disse Matiello, que trabalha com café há cerca de 50 anos.

Quanto maior a desfolha, menor o potencial produtivo.

Situação crítica

Operadores de café têm circulado fotos das plantações de café do Brasil em más condições, com galhos secos.

Os futuros do café subiram 10 por cento na ICE em Nova York nas últimas duas semanas, com o mercado reduzindo posições vendidas como precaução devido às notícias de clima seco.

Castro Filho, da Cocapec, acredita que pés mais novos poderiam perder cerca de 25 por cento de seu potencial de produção, a menos que haja um bom volume de chuvas em outubro e novembro, meses que tradicionalmente têm mais precipitação. Ele vê uma perda de 5 por cento no potencial de produção de pés adultos.

"A situação aqui está crítica", disse Thiago Motta, produtor da região do Cerrado, no Estado de Minas Gerais.

Ele reclama que até os campos irrigados estão sofrendo porque os níveis dos reservatórios estão baixos demais para bombear água aos sistemas. Motta vê uma plantação com menos vitalidade e florada abaixo do ideal, uma fase chave para a produção de café.

Há previsão de chuvas, mas só em 29 de setembro, então as árvores continuarão sendo expostas ao clima quente e seco.

Segundo o Agriculture Weather Dashboard da Thomson Reuters, o sul de Minas deve receber 67 milímetros de chuva até 3 de outubro.

Paulo Sérgio Franzini, analista da Secretaria de Agricultura do Paraná, disse que os pés podem se recuperar se houver chuva suficiente em outubro e novembro, mas uma parte da primeira florada em agosto já está perdida, o que impactará o potencial de produtividades para a próxima safra.

Já o pesquisador de café do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Renato Ribeiro, tem uma visão um pouco menos negativa sobre a próxima safra, mas ainda assim vê problemas.

"Certamente haverá reflexos (da seca), mas ainda é muito cedo para se falar em quebra."

De acordo com o analista do Cepea, a florada já aconteceu no Paraná e na região de Garça, em São Paulo. Nas outras regiões, foi muito pontual.

"Ainda há muita safra para acontecer, o grau de prejuízo não dá para apurar... Digamos que a safra não está começando redondinha. Estamos com um começo meio turbulento."

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