Serviços: hipótese é que melhora da confiança fez com que os prestadores começassem a subir os preços (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 22 de setembro de 2016 às 10h59.
São Paulo - Fazia quase cinco anos que o dono da funilaria Hot Roders, Vinícius Aguirre, não aumentava preços. Nos últimos meses ele não teve alternativa.
A tinta subiu 50% e o preço da fita crepe mais que dobrou. "Reajustei em cerca de 15% o serviço de pintura e funilaria, pois estava no limite."
Aguirre diz que concluiu que aumentar preço não iria derrubar mais os negócios. Desde outubro de 2015, o movimento da funilaria caiu 40% por causa da recessão.
Os reajustes feitos por Aguirre e outros prestadores de serviços, que se viram pressionados por aumentos de custos foram captados pelo índice oficial de inflação.
Apesar da trégua dada pelos preços dos alimentos, que fez desacelerar a inflação de julho (0,58%) para agosto (0,44%), houve aumento em cinco dos nove grupos de preços pesquisados pelo IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, para apurar o IPCA.
Desses, quatro são fortemente influenciados pelos serviços (habitação, saúde, despesas pessoais e educação).
Com isso, em 12 meses até agosto, tanto a inflação geral como a de serviços ganharam fôlego. O IPCA, que estava em 8,74% em julho, subiu para 8,97% em agosto. A inflação de serviços foi de 7,11% para 7,40% no mesmo período.
"Acendeu a luz amarela", diz o economista Bernard Gonin, sócio-diretor da Rio Gestão de Recursos. Ele diz que a inflação dos serviços intensivos em trabalho voltou a subir.
O indicador, que é acompanhado pelo Banco Central, tinha fechado 2015 com alta 8,32%. Em julho acumulava em 12 meses aumento de 7,58% e subiu para 7,81% em agosto.
O economista pondera que houve mudança metodológica do IBGE na apuração do preço da mão de obra para reparos e do empregado doméstico. Eles foram fixados em 0,87% ao mês e isso pode ter pesado na inflação de serviços a partir de maio.
No entanto, Gonin apurou um indicador da inflação de serviços que expurga o custo da mão de obra para reparos e do empregado doméstico, a fim de eliminar essa distorção.
E o resultado revelou que, mesmo sem esses dois itens, a inflação de serviços intensivos em trabalho, que incluem médico, dentista, manicure, cabeleireiro, por exemplo, subiu de julho para agosto.
O indicador em 12 meses estava em 6,71% em junho, desacelerou para 6,13% em julho e avançou para 6,25% em agosto.
Também a inflação de serviços diversos, que engloba aluguel, escolas, por exemplo, que acumulava alta de 6,27% em 12 meses até julho, subiu para 6,38% em agosto.
Gonin considera a hipótese que, com a melhora dos índices de confiança, abriu-se uma brecha para os prestadores de serviços recuperarem as margens. "Mas ainda é cedo para dizer que há reversão da tendência."
Para o economista Fabio Silveira, sócio-diretor da consultoria MacroSector, houve "um suspiro" na inflação dos serviços no mês passado, que pode ter ocorrido em razão da recuperação de margens. "Mas esse movimento não é sustentável porque o nível de atividade está bastante enfraquecido."
Fábio Romão, economista da LCA Consultores, projeta desaceleração de mais um ponto porcentual da inflação de serviços neste ano, de 8,2% para 7,1%.
"Os serviços estão desacelerando mais claramente este ano, o que é positivo, mas o ritmo poderia ser mais intenso, sobretudo à luz da recessão."
Romão atribui a resistência da inflação de serviços em níveis elevados à grande influência da indexação, especialmente em razão de contratos, e à pressão de custos que leva os prestadores de serviços a tentar recuperar margens. Esses seriam os principais fatores.
"Há muita herança do passado atrapalhando a desaceleração." Um elemento secundário que poderia, segundo ele, estar levando a aumentos de preços seria a melhora na confiança.
"Não temos como reduzir preços, apesar da recessão", afirma Marco Amati, diretor executivo da Abrasel em São Paulo, que reúne bares e restaurantes.
Nos últimos 12 meses, a alimentação fora de casa subiu 8,65% para uma inflação de serviços de 7,40% no mesmo período.
Além de custos fixos pressionados, com aluguel por cláusula de contrato, ele ressalta que os preços dos alimentos desaceleraram, mas não voltaram ao patamar anterior.
Amati lembra que o aumento neste ano do imposto sobre bebidas pesou nos custos que, segundo ele, também foram influenciados pelo dissídio (8%). "Mão de obra é 25% do custo da alimentação fora de casa."
No caso da despesa com condomínio, que subiu 7,15% em 12 meses até agosto e 0,75% no mês passado, o peso da mão de obra também é significativo.
Nas contas de Angélica Arbex, gerente da Lello Condomínios, 50% do valor do condomínio se referem a gasto com mão de obra, cujo dissídio girou em torno de 8%.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.