IPCA: A gasolina recuou 25,78% em 2022 (Getty/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de janeiro de 2023 às 16h38.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 5,79% em 2022, acima da meta de inflação perseguida pelo Banco Central pelo segundo ano consecutivo. O resultado teria sido ainda maior, não fosse o corte de impostos sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações.
Sem as quedas de preços na gasolina e na energia elétrica, o IPCA teria sido de 9,56% em 2022, calculou André Almeida, analista do Sistema de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A estimativa expurga tanto a gasolina quanto a energia do cálculo da inflação, redistribuindo os pesos dos itens, "uma conta mais correta", segundo Almeida.
"O ICMS é um dos fatores que influencia no comportamento dos preços desses bens e serviços, mas não é o único", disse Almeida embora reconheça que o corte de impostos tenha sido fundamental para a queda de preço desses itens em 2022. "Houve também reduções praticadas pela Petrobras no preço da gasolina nas refinarias", acrescentou.
A gasolina recuou 25,78% em 2022, -1,70 ponto porcentual no IPCA. O etanol ficou 25,42% mais barato em 2022, -0,25 p.p. no IPCA; a energia elétrica caiu 19,01%, -0,96 p.p.; e o acesso à internet recuou 12,09%, -0,06 p.p..
Em 2022, os principais vilões foram os aumentos na alimentação, que subiu 11,64%, e nos gastos com saúde e cuidados pessoais, com alta de 11,43%. Juntos, os dois grupos responderam por cerca de 66% do IPCA do ano.
A alta dos alimentos em 2022 foi puxada pelo encarecimento principalmente da cebola, leite longa vida, batata inglesa e frutas, prejudicados por uma redução na área plantada, questões climáticas e aumento de custos de produção, segundo Almeida.
A alimentação no domicílio aumentou 13,23%. A cebola (130,14%) foi o subitem que teve a maior alta entre os 377 subitens que compõem o IPCA. O leite longa vida aumentou 26,18%, impacto de 0 17 p.p..
"Os preços do leite subiram de forma mais intensa entre março e julho de 2022, quando a alta acumulada no ano chegou a 77,84%. A partir de agosto, com a proximidade do fim do período de entressafra, os preços iniciaram uma sequência de quedas até o final do ano, sendo a mais expressiva delas em setembro (- 13 71%). No caso da cebola, a alta está relacionada à redução da área plantada, ao aumento do custo de produção e a questões climáticas", explicou o IBGE, em nota.
Outros destaques foram os aumentos na batata-inglesa (51,92%), frutas (24,00%) e pão francês (18,03%).
A alimentação fora do domicílio subiu 7,47%. A refeição teve aumento de 5,86%, e o lanche encareceu 10,67%.
Já a elevação nas despesas com Saúde foi a mais aguda desde 1996 quando subiu 13,80%. A alta foi influenciada pelos aumentos em produtos de higiene pessoal e reajustes autorizados pelo governo para produtos farmacêuticos e plano de saúde.
A maior contribuição (0,61 p.p.) foi dos produtos de higiene pessoal (16,69%), em especial os perfumes (22,61%) e os produtos para cabelo (14,97%). Outro destaque foi o plano de saúde, com alta de 6,90% e impacto de 0,25 p.p. no IPCA do ano.
"No final de maio, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) fixou o teto para reajuste dos planos individuais novos (posteriores à lei nº 9.656/98) em 15,50% para o período de maio de 2022 a abril de 2023", justificou o IBGE. "A partir de outubro, passaram a ser incorporadas as frações referentes aos planos antigos, com vigência retroativa a partir de julho", completou.
Os produtos farmacêuticos subiram 13,52% em 2022, em decorrência do reajuste de até 10,89% nos preços dos remédios definido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), a depender da classe terapêutica e do perfil de concorrência das substâncias, em 1º de abril de 2022.
No ranking de itens de maior pressão sobre o IPCA de 2022 figuraram higiene pessoal (0,61 p.p.), emplacamento de veículo (0,49 p.p.), produtos farmacêuticos (0,42 p.p.), aluguel residencial (0,31 p.p.) e cursos regulares (0,30 p.p.).
André Almeida ainda avaliou que o IPCA acelerou de 0,41% em novembro para 0,62% em dezembro devido a uma alta de preços sazonal e também uma recomposição pós-promoções da Black Friday.
O índice de difusão, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, passou de 59% em novembro para 69% em dezembro, o maior desde maio de 2022, quando estava em 72%.
"Esse maior espalhamento em relação a novembro a gente vai ver que tem muito pela questão de fim de ano. Em novembro teve descontos praticados pela Black Friday, e em dezembro teve não só o retorno aos preços anteriores à Black Friday como também aumentos", disse ele.
Em dezembro, os itens de maior pressão no IPCA foram higiene pessoal (0,14 ponto porcentual), plano de saúde (0,04 p.p.), emplacamento (0,04 p.p.), tomate (0,04 p.p.) e roupa feminina (0 03 p.p.).
No caso de higiene pessoal, houve influência do câmbio e de uma demanda maior ao longo do ano, mas os aumentos de dezembro foram influenciados "tanto pela volta dos preços depois das liquidações da Black Friday como pela intensificação de compras relacionada ao fim de ano", apontou Almeida.
A demanda maior no fim do ano também impulsionou os preços de alguns serviços, como passagem aérea, aluguel de veículo, transporte por aplicativo e pacote turístico.
"No fim do ano as compras de itens se intensificam, é período de férias, itens relacionados a viagem, turismo. Tem um aumento da demanda sazonal de fim de ano e pode contribuir para essa alta em alguns itens", afirmou Almeida.
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