Economia

Selic deve subir 0,25 ponto percentual e tamanho do ciclo depende dos EUA, diz economista da ARX

Segundo Gabriel Leal de Barros, também há dúvida se o Copom incluirá no comunicado divulgado após a reunião uma sinalização clara dos próximos passos

Gabriel Leal de Barros: economista-chefe da ARX Investimentos afirmou que desequilíbrio nas contas públicas piora percepção de risco, mantém juros altos e não contribui para atração de investimentos para o país  (ARX Investimentos/Divulgação)

Gabriel Leal de Barros: economista-chefe da ARX Investimentos afirmou que desequilíbrio nas contas públicas piora percepção de risco, mantém juros altos e não contribui para atração de investimentos para o país (ARX Investimentos/Divulgação)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 17 de setembro de 2024 às 16h21.

Última atualização em 18 de setembro de 2024 às 09h24.

Tudo sobreCopom
Saiba mais

O Comitê de Política Monetária (Copom) deve subir os juros em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira, 18. A dúvida é se os diretores do Banco Central (BC) incluirão no comunicado divulgado após a reunião um forward guidance – uma prescrição futura, ou seja, uma sinalização clara dos próximos passos. As afirmações são do economista-chefe da ARX Investimentos, Gabriel Leal de Barros, em entrevista à EXAME.

A aposta em uma alta de 0,25 ponto percentual na Selic, diz Barros, foi sedimentada após as últimas declarações do presidente do BC, Roberto Campos Neto. Campos Neto disse que se e quando houvesse um ciclo de ajuste nos juros, ele seria gradual.

Para o economista, uma outra alta de 0,25 ponto percentual deve ocorrer na reunião do Copom marcada para 5 e 6 de novembro. Entretanto, os próximos passos política monetária ficarão condicionados ao cenário externo.

“Os próximos passos [do Copom] ficam mais condicionados ao cenário externo. A conta fica muito em cima do que ocorrerá com os Estados Unidos. O mercado está dividido entre um pouso suave e um pouso forçado”, diz.

Pouso forçado

No cenário de pouso forçado, conta Gabriel, a economia norte-americana entraria em recessão e o clico de cortes de juros pelo Federal Reserve (FED) seria acelerado. Com essa retração, avaliada pelo economista como mais provável de ocorrer, o preço das commodities tende a cair e isso favorece o Brasil no combate à inflação. Assim, o processo de alta da Selic pode ser interrompido com apenas dois cortes.

“O PIB do Brasil é ‘commoditizado’. Com commodities para cima tem vento de cauda [para ajudar o crescimento econômico]. Quando China crescia 10% ao ano o Brasil era carregado por causa da demanda por commodities. Com China e Estados Unidos para baixo, é ruim para o PIB do Brasil e a inflação diminui”, diz.

Além do cenário externo, o balanço de riscos do BC considera os problemas fiscais do país. Barros afirma que o peso que a autoridade monetária dará ao desequilíbrio fiscal será importante no processo de manter ou não o ciclo de corte de juros. Segundo ele, a tendência o BC dê um peso maior para o cenário externo.

“No fiscal, estruturalmente, nada mudou. O arcabouço tem um problema de origem, não é sólido e nem é crível. Esse arcabouço voltou com a vinculação dos gastos com saúde e educação à receita. Além disso, a composição do gasto público cresce acima do limite de 2,5%”, afirma.

Segundo Barros, o governo também tem buscado formas de manter artificialmente o crescimento por meio de medidas parafiscais. Um exemplo disso, afirma, pode ocorrer com a emissão de Letras de Crédito de Desenvolvimento (LCD). Esses recursos podem aumentar a captação dos bancos públicos para concessão de empréstimos. Com isso, uma parte da economia fica blindada e passa a não ser sensibilizada pelo aumento da Selic.

Todos esses fatores, na avaliação de Barros, pioram a percepção de risco em relação ao Brasil. A dúvida, segundo ele, é como o BC tratará essas questões no balanço de riscos. “Acredito que o BC não deve carregar nas tintas [sobre o fiscal]. Vão esperar a materialização dessa piora”, diz.

Desindexar, desvincular e desobrigar

Apesar dos riscos fiscais, o economista avalia que existem medidas disponíveis e amplamente debatidas para resolver o problema das contas públicas. E isso passa por desindexar, desvincular e desobrigar o orçamento público. Todas as vinculações, indexações e obrigações existentes, como a política de reajuste do salário mínimo e a vinculação com benefícios governamentais, pressionam o aumento de gastos.

Além disso, ele disse que uma reforma administrativa precisa acabar com privilégios e uma terceira agenda com fusão de políticas sociais.

“Estudo do Banco Mundial mostra que há sobreposição de políticas sociais. Existem beneficiários que recebem até cinco benefícios diferentes. Tem que fazer o que o Lula fez no primeiro mandato com a fusão de programas sociais do FHC”, diz.

Segundo Barros, insistir na agenda de consolidação pelo lado da receita tem um limite que parece ter sido imposto pelo Congresso, quando deputados e senadores sinalizaram que não aprovarão medidas para aumentar a arrecadação.

“Eu sou cético. Não acredito que o governo vá entregar [uma agenda reformas das despesas]. O Haddad não tem esse mandato delegado pelo Lula. Não tem essa carta branca. O mandato dele é fazer ajuste pela receita. Sou pouco otimista que vão fazer algo positivo”, diz.

Como consequência final do desequilíbrio nas contas públicas e dos juros altos, o governo perde a oportunidade de atrair investimentos para o Brasil, diz Barros.

“O governo está errando muito, apesar do cenário internacional positivo. O investidor global não tem onde colocar a grana. Rússia, Turquia e China têm problemas. Estamos perdendo essa oportunidade. É mais cavalo selado que estamos deixando passar”, afirma.

Acompanhe tudo sobre:CopomJurosSelicBanco Central

Mais de Economia

“Estamos estudando outra forma de financiar o mercado imobiliário”, diz diretor do Banco Central

Reunião de Lula e Haddad será com atacado e varejo e não deve tratar de pacote de corte de gastos

Arrecadação federal soma R$ 248 bilhões em outubro e bate recorde para o mês

Rui Costa diz que pacote de corte de gastos não vai atingir despesas com saúde e educação