Economia

Selic a 16,25 % é quase inevitável e analistas ignoram BC

Quanto mais Alexandre Tombini diz que não elevará as taxas de juros, mais os traders ampliam as apostas de que isso vai acontecer


	Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 2 de outubro de 2015 às 18h47.

Quanto mais Alexandre Tombini diz que não elevará as taxas de juros, mais os traders ampliam as apostas de que isso vai acontecer.

O presidente do Banco Central reiterou recentemente, no dia 24 de setembro, que a taxa básica de juros a 14,25 por cento -- que já é o nível mais alto desde 2006 -- será suficiente para combater a inflação, que atualmente representa o dobro do centro da faixa-meta oficial.

Mas, como o colapso da moeda brasileira está levando investidores e analistas a se prepararem para um aumento no custo de vida, a promessa de Tombini de manter as taxas no patamar atual está sendo vista como praticamente impossível de cumprir.

No mercado de swaps, os traders agora estão prevendo que Tombini precisará elevar a taxa Selic a 16,25 por cento, o que ameaça agravar a pior recessão econômica em 25 anos.

“O aumento das taxas é algo que sempre acontece nesse cenário”, disse James Gulbrandsen, diretor de investimentos da gestora de ativos NCH Capital para a América Latina. “Torna-se uma pergunta simples: quanto drama e quanto sofrimento você quer?”.

O BC preferiu não comentar as avaliações dos analistas do mercado financeiro em relação aos comunicados do banco e às perspectivas para a política monetária.

A autoridade monetária estudará um aumento marginal nos juros se o governo não conseguir reforçar as contas públicas, disse um membro da equipe econômica da pressionada presidente Dilma Rousseff na quarta-feira.

É prematuro mudar a estratégia de manter as taxas inalteradas antes que haja um quadro mais claro a respeito da situação orçamentária do país, disse o funcionário, que pediu anonimato porque as discussões não são públicas.

Acima do teto

O real caiu 34 por cento neste ano, maior desvalorização dos mercados emergentes, em um momento em que Dilma enfrenta dificuldades para conseguir apoio às medidas de austeridade que são necessárias para restaurar as finanças do país e tirar a maior economia da América Latina daquela que os analistas dizem que será a recessão mais longa desde os anos 1930.

A moeda atingiu uma mínima recorde no mês passado depois que a Standard Poor’s cortou a classificação de crédito do Brasil para o grau especulativo, terceiro rebaixamento ocorrido durante os cerca de cinco anos de mandato de Dilma.

Como a queda do real está encarecendo as importações, existe agora uma “grande chance” de que a inflação exceda o teto oficial de 6,5 por cento, estabelecido pelo BC pelo segundo ano consecutivo em 2016, segundo Rodrigo Melo, economista-chefe da gestora de ativos Icatu Vanguarda.

Ele vem sendo o melhor analista de inflação de referência do Brasil desde o ano passado, segundo uma pesquisa do BC.

Embora a inflação tenha subido 9,5 por cento em agosto em relação ao ano anterior, Tombini disse que a taxa cairá para o centro da meta do BC, de 4,5 por cento, por volta do final de 2016.

17,25 %

“Precisamos saber quanto de aumento o BC permitirá”, disse Melo, em seu escritório, no Rio de Janeiro.

Adam Slater, economista líder da Oxford Economics Ltd., não está acreditando na promessa de Tombini de deixar as taxas nos níveis atuais.

Ele diz que há 30 por cento de chances de que o BC eleve as taxas para pelo menos 17,25 por cento de uma só vez nas próximas semanas.

“Um banqueiro central jamais contaria se fosse fazer algo do tipo”, disse Slater, por telefone, de Londres.

“É a última coisa que ele revelaria. E, obviamente, ele não quer ter que fazer isso”.

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