Wilbur Ross: "Estamos tratando de facilitação de comércio para apressar a movimentação e liberação de bens" (Carlos Barria/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 1 de agosto de 2019 às 14h34.
Última atualização em 1 de agosto de 2019 às 14h42.
O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, disse que o governo brasileiro está "começando a se mover" e que os investidores podem ficar menos nervosos.
"Este é um governo que está começando a se mover, isso é muito importante. Para vocês que estavam nervosos em investir, eu estaria menos nervoso aqui no Brasil do que em alguns outros lugares", disse, em seminário sobre infraestrutura em Brasília.
Depois de se reunir com o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Godoy, Ross elogiou os planos do brasileiro para a área. "Fiquei muito impressionado com o nível de detalhe do plano do ministro Tarcísio e com o fato de que ele tem planos de muito curto prazo vindo por aí", acrescentou.
Em um momento de aproximação entre os governos do Brasil e do Mercosul com os Estados Unidos, Ross disse que os EUA querem ser o "parceiro preferencial" para a região.
Ele citou negociações em curso para questões como padronização técnicas e de regras aduaneiras. "Estamos tratando de facilitação de comércio para apressar a movimentação e liberação de bens", acrescentou.
Ele afirmou que a América Latina tem cerca de 1.700 projetos de grande escala e que os governos da região estão cada vez mais buscando o setor privado para investimentos. "A participação dos EUA na infraestrutura foi limitada no passado, apesar do papel do país na região. Há uma desconexão."
Entre os fatores que afastam as companhias norte-americanas da América Latina está a burocracia e a corrupção.
Nesta quarta-feira, 1, Wilbur Ross encontrou-se com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Guedes disse que é possível conciliar o acordo firmado com a União Europeia (UE) com as negociações com os Estados Unidos.
Ele afirmou que o governo do presidente norte-americano Donald Trump está pensando em uma aliança estratégica para toda a América, e não apenas no âmbito do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta). “Há interesses que podem ser contornados por acordo comercial”, afirmou. “Temos uma decisão de maior integração. Não se trata de Alca”, afirmou.
Ele se reuniu com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, e disse que foram discutidas questões como a maior importação de etanol e trigo pelos brasileiros e de açúcar e autopeças pelos norte-americanos. “Os Estados Unidos têm interesse em trazer etanol e nós temos tecnologia flexível aqui. Para eles entrarem com Etanol, temos que colocar açúcar lá”, afirmou.
Após a fala de Ross, EUA e Brasil assinaram um memorando de entendimento para facilitar negócios e investimentos.
A assinatura, pelo lado norte-americano, coube à Overseas Private Investment Corporation (OPIC), agência de fomento de investimentos em mercados emergentes, e, pelo lado brasileiro, de representantes da secretaria especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).
A intenção do memorando é facilitar e estimular negócios e investimentos dos Estados Unidos em projetos brasileiros.
Wilbur Ross também disse que os Estados Unidos preparam um plano para o período "após as mudanças no regime" na Venezuela junto dos aliados de Juan Guaidó. Ross disse que a recuperação da Venezuela passa pela "reversão do socialismo" e pela entrada do setor privado no mercado do país.
"Em energia, para alívio imediato, é necessário a entrada do setor privado através de novas leis de hidrocarbonetos", afirmou.
Ross sinalizou que, no médio prazo, os Estados Unidos irão suspender as sanções ao país e estimular o crédito internacional. "Haverá um grande fluxo de dinheiro entrando após reabilitação das instituições na Venezuela", completou.
Segundo Ross, o Conselho de Segurança Nacional pediu a preparação de um plano, no qual mais de 100 executivos trabalharam por quatro meses.
O plano inclui energia, estabilização macroeconômica e financeira, normalização da agricultura e reabilitação do setor privado. Junto da equipe de Guaidó, foram listados 20 projetos de energia e outros pontos para estabilização da Venezuela. "Tudo o que estamos trabalhando são meramente sugestões. O governo Guaidó vai decidir o que e melhor para o seu povo e como a comunidade internacional pode ajudar melhorar a situação", afirmou.
Ele lembrou que a Venezuela tem muitos recursos naturais além do petróleo, como ouro e solo bom para a agricultura, e disse estar trabalhando próximo do Brasil e de outros países latino-americanos para a recuperação do país.
"Será preciso fortalecer a capacidade técnica, reformar regras de propriedade de terras e aumentar capacidade de crédito na Venezuela", completou. "O destino atual da Venezuela não precisa ser uma sentença perpétua".
Também no evento, o secretário especial de Comércio Exterior brasileiro, Marcos Troyjo, disse que existe hoje muito capital disponível para projetos de infraestrutura para a Venezuela e outros países latino-americanos. "O Brasil está pronto para trabalhar com EUA para trazer a Venezuela para a rota da prosperidade", afirmou.