(Pramote Polyamate/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 30 de novembro de 2020 às 18h48.
Tradings de café começam a ter ideia da extensão dos problemas climáticos no Brasil, já que as perspectivas para a colheita do próximo ano pioram com o calor e a seca.
Os grãos arábica tiveram pouco alívio em novembro, com chuvas abaixo das expectativas e os preços pagos aos cafeicultores brasileiros perto de níveis recordes, segundo a Cooxupé.
“As chuvas têm sido péssimas, bem abaixo da média”, disse o diretor comercial da Cooxupé, Lucio Dias, acrescentando que o impacto pode se estender até a temporada de 2022. “A situação é muito preocupante”, disse em entrevista.
A estimativa já era de queda da produção brasileira após o recorde deste ano. Além disso, os pés de arábica entram na metade de menor produtividade do ciclo bienal, mas a seca pode agravar a redução antes de uma possível recuperação do consumo, levando o mercado a um déficit. Um aperto da oferta do maior produtor mundial pode começar a causar impacto no final do próximo ano.
“Vemos uma alta dos preços do café”, disse Carlos Alberto Fernandes Santana, diretor da Empresa Interagrícola, unidade da trading Ecom Agroindustrial. “A queda da safra brasileira ainda não foi totalmente precificada.”
As estações meteorológicas da Cooxupé mostram condições mais secas do que o normal desde maio. As áreas em Alfenas, município no cinturão de café do país, tiveram chuva acima de 2 milímetros em apenas 12% dos 210 dias até 29 de novembro.
Em novembro, a região obteve 95% da precipitação prevista, embora a maior parte tenha ocorrido no final do mês, com temperaturas médias de 1º Celsius acima do normal e máximas chegando a 36º. Isso tudo depois de um outubro seco, quando a chuva correspondeu a 60% do normal. A cooperativa pode divulgar a primeira estimativa da safra no final de janeiro.
Em dezembro, a Somar prevê volume de chuvas normal, mas com temperaturas acima da média. As principais áreas de cultivo podem receber 100 milímetros nesta semana, mas isso ajudaria a restaurar apenas 10 pontos percentuais do déficit de umidade em algumas partes.
“Exceto pelos raros episódios de boa chuva, tivemos precipitações minúsculas de 2 a 4 milímetros e sol forte”, disse Maurício Araújo Ribeiro, de 48 anos, que cultiva 128 hectares de arábica no sul de Minas Gerais. “A previsão é de chuva, o céu fica nublado, mas a chuva não vem.”
As perdas em suas fazendas são estimadas entre 30% e 35%, mas, se o clima não melhorar, podem chegar a 50%, disse.
Mesmo nas áreas irrigadas, os prejuízos são maiores do que se pensava, disse Regis Ricco, diretor da RR Consultoria Rural em Alfenas, Minas Gerais. “A situação é caótica. É um ano para ficar na história”, disse.
As perspectivas mais negativas para o Brasil surgem após recentes furacões na América Central que ameaçam a produção da região, enquanto chuvas atrasam a colheita do café robusta no Vietnã. Preocupações sobre a oferta impulsionaram os futuros de Nova York ao maior ganho mensal desde julho.
“Vejo os futuros subindo no primeiro semestre do próximo ano, já que a perspectiva de baixa produção coincide com o otimismo da vacinação contra a Covid, aumentando as perspectivas para a demanda por café”, disse Nelson Salvaterra, corretor da Coffee New Selection.
Ele disse que os preços podem retornar à faixa entre US$ 1,40 e US$ 1,50 por libra-peso em relação aos atuais US$ 1,23.