Economia

Seattle quer maior salário mínimo do mundo. É uma boa ideia?

Comitê da cidade aprova proposta para elevar salário mínimo para 15 dólares por hora - praticamente o dobro do valor federal. E o emprego, como fica?

Seattle (Wikimedia)

Seattle (Wikimedia)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 6 de maio de 2014 às 16h12.

São Paulo - O salário mínimo voltou para o centro do debate econômico nos Estados Unidos.

O presidente Barack Obama tentou na semana passada aprovar um aumento do valor federal de US$ 7,25 por hora para US$ 10,10, mas foi bloqueado pelos republicanos no Senado.

Enquanto isso, cidades e estados tem aprovado valores mais altos por conta própria. Ninguém, por enquanto, foi mais longe do que Seattle, cidade que fica no estado de Washington, no extremo noroeste do país.

Na última quinta-feira, o prefeito Ed Murray anunciou um plano para subir o valor do salário mínimo dos atuais US$ 9,32 para US$ 15 entre os próximos 3 e 7 anos - o que afetaria um em cada quatro dos trabalhadores da cidade, de acordo com a Universidade de Washington.

A velocidade prevista para adaptação depende do tamanho do negócio e se ele oferece benefícios como plano de saúde. Em alguns casos, gorjetas podem ser contadas para o valor final. Passado este período, novos aumentos estariam vinculados à inflação.

A proposta surgiu de um longo processo de negociação em um comitê formado por líderes políticos, trabalhistas e do mundo dos negócios.

Se o conselho da cidade aprovar, como é esperado, Seattle terá o maior salário mínimo de uma grande cidade do mundo em termos de paridade de poder de compra. 

Na Austrália, o valor por hora é de 16,37 - mas em dólares australianos. SeaTac, um subúrbio de Seattle, já tem o salário mínimo de US$ 15 - mas ele só se aplica aos cerca de 6 mil trabalhadores do aeroporto e serviços relacionados. 

A liderança pode ser tomada em breve pela Suíça, que vota no próximo dia 18 para decidir se quer aumentar o valor para US$ 25 por hora.


Debate

O experimento de Seattle será instrutivo: até agora, os economistas não chegaram a um consenso sobre quais são os efeitos de uma alta do salário mínimo sobre o emprego.

A teoria econômica clássica é que o nível dos salários é determinado pela oferta e demanda do trabalho, e que qualquer tentativa de regular este processo vai custar empregos.

Um salário mínimo mais alto faz com que os negócios tenham menos incentivos para contratar jovens e prefiram substituir trabalhadores por alternativas tecnológicas, principalmente em setores de baixa complexidade como o de fast food. Perderiam assim os mais pobres e os desempregados.

Ao mesmo tempo, salários maiores aumentam a satisfação com o trabalho e diminuem a rotatividade, o que aumenta a eficiência dos negócios. Isso sem falar no aumento de renda dos beneficiados e no dinheiro que eles injetam na economia.

Politicamente, o aumento do salário mínimo tem amplo apoio popular e é visto como uma questão de justiça - já que seu valor é hoje, em termos reais, mais baixo do que nos anos 60, apesar da produtividade ter dobrado no período.

Estudos

Arindrajit Dube, T. William Lester, e Michael Reich, da Universidade de Berkeley, na Califórnia, por exemplo, concluíram que o aumento do salário mínimo não afeta significativamente o emprego. David Neumark, da University de California-Irvine, junto com William Wascher, do Federal Reserve Board, chegaram à conclusão oposta.

Há inúmeros estudos de instituições respeitadas defendendo as duas posições. Não é a toa que uma pesquisa encontrou os economistas divididos sobre o assunto.

A imensa maioria dos trabalhos, no entanto, analisa os efeitos de um pequeno aumento, e não uma mudança no porte da planejada por Seattle. 

Se der certo ou se der errado, a proposta pode resolver de uma vez por todas uma das grande polêmicas da teoria econômica - e de quebra, ajudar a definir os rumos do debate político americano nas próximas décadas.

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