Economia

Se Levy não tem força, por que o mercado se preocupa?

A alta de 3% do dólar contra o real mostra que o mercado ainda se importa com a permanência de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda


	O ministro da Fazenda, Joaquim Levy: embora Dilma tenha dito que a opinião do PT não é a do governo, o histórico de sua gestão não ajuda
 (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy: embora Dilma tenha dito que a opinião do PT não é a do governo, o histórico de sua gestão não ajuda (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 19 de outubro de 2015 às 18h33.

A alta de 3% do dólar contra o real na sexta-feira deixou uma questão bastante clara.

Sim, o mercado ainda se importa com a permanência de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda.

Ainda que ele esteja enfraquecido e que já tenha passado o tempo em que o mercado ansiava por suas declarações sobre os rumos da política econômica, prevalece a ideia do "ruim com ele, pior sem ele".

Fonte do governo em Brasília nega a informação que vem sendo veiculada na mídia de que o ministro só ficaria até a virada do ano, deixando o posto após a aprovação do ajuste fiscal.

Levy no governo "não tem prazo validade", diz a fonte, que falou sob condição de anonimato.

"Qual seria o sentido de ele sair justamente em um cenário de retomada, quando ele poderia ajudar a destravar o investimento?"

O próprio Levy desmentiu, por meio de nota da Fazenda na sexta, as especulações de que o encontro que teve com a presidente Dilma Rousseff seria para pedir demissão.

Dilma reforçou o desmentido, ao responder a comentários de Rui Falcão, presidente do PT, de que Levy deveria sair se não aceitasse mudanças na política econômica.

O mercado respira aliviado hoje, mas o dólar nesta manhã devolveu apenas uma fração da alta de sexta frente ao real.

Em parte, isso se deve ao fato de as moedas estarem em queda frente ao dólar no exterior.

Outra parte da pressão, contudo, é culpa das incertezas sobre as dificuldades de Levy em reverter o déficit fiscal e até mesmo sobre sua permanência no posto no médio e longo prazo.

Embora Dilma tenha dito que a opinião do PT não é a do governo, o histórico de sua gestão não ajuda.

O relaxamento do ajuste e a volta dos estímulos defendidos pelos petistas seria, na essência, o restabelecimento da ”Nova Matriz Econômica” tocada por Guido Mantega sob comando de Dilma no 1º mandato.

A presidente sinalizou reversão dessa política ao nomear Levy antes mesmo de sua posse no 2º mandato, mas ela jamais respaldou a ideia do ministro de um ajuste fiscal agressivo.

Diante das críticas de Lula e do PT a Levy, a sua eventual saída poderia ser vista como sinal de mudança na política econômica, seja qual for o nome do novo ministro, diz Roberto Padovani, economista do Banco Votorantim. Seria um gatilho para a piora de um mercado que já vive em meio a diversos fatores internos e externos de incerteza.“Se não é para mudar a política econômica, por que mudar o ministro?”

O pensamento do ”Chicago-boy” Levy difere em quase tudo do que pensam os petistas. Para Levy, quanto mais forte o ajuste fiscal, melhor para o crescimento, pois a confiança do investidor volta mais rápido.

Os petistas, pelo contrário, associam o ajuste à recessão, como causa, e pregam alívio no aperto.

Outra divergência é que, para Levy, a austeridade deve ser permanente, deixando ao mercado a missão de liderar a volta do crescimento. Os petistas, mesmo os que defendem o ajuste, o veem apenas como um passo para reconquistar a confiança dos investidores e devolver ao governo a capacidade de gastar e dar estímulos à economia.

O fato de Levy não estar conseguindo entregar o ajuste fiscal que prometeu no início de sua gestão também não tira seu prestígio junto aos investidores. De maneira geral, atribui-se no mercado à área política do governo e ao Congresso, e não à incompetência do ministro, as resistências que têm impedido um ajuste fiscal rigoroso na medida para reverter o déficit.

A eventual substituição de Levy por Henrique Meirelles, um rumor que tem surgido sempre que se fala em mudança na Fazenda, desde os tempos de Guido Mantega, é vista com ceticismo pelo mercado. Meirelles exigiria uma autonomia muito maior do que que Levy tem hoje no governo.

Quando comandou o BC, foi criticado pelos petistas por ser ortodoxo demais na política monetária, a mesma crítica sofrida por Levy hoje em relação à política fiscal.

Outra opção seria o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, ir para a Fazenda. Barbosa é visto como mais flexível do que Levy, uma virtude para os políticos que rejeitam a austeridade.

Para o mercado, um defeito sério, sobretudo depois de, em algumas derrotas que Levy sofreu nos últimos meses, Barbosa ter sido mostrado pela imprensa como vitorioso, supostamente convencendo Dilma com suas propostas de cortes menores de gastos e um ajuste mais focado em aumento de impostos.

Mais ainda, de ter sido considerado o mentor do envio do orçamento deficitário ao Congresso, que resultou na perda do grau de investimento do Brasil pela S&P.

Quando chegou ao governo, Levy foi recebido pelos investidores com a esperança de que poderia fazer o ajuste fiscal.

Hoje, sua presença ainda é importante, mas não como uma garantia do que será feito, e sim como uma espécie de garantia do que não vai ser feito, um limitador de políticas ruins. Se ele fica, é sinal de que não haverá "guinada".

Jefferson Rugik, diretor-presidente da Correparti Corretora, resume o que seria o pensamento do mercado sobre a importância de Levy, mesmo enfraquecido, permanecer no governo.

"O Levy, pelo menos, tenta. Se colocarem um outro, esqueça o ajuste fiscal. Será bem pior para o Brasil."


--Com a colaboração de Paula Sambo em São Paulo.

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