Paulo Guedes: ministro deu declarações sobre a alta do dólar e o crescimento do PIB brasileiro (Adriano Machado/Reuters)
Reuters
Publicado em 5 de março de 2020 às 16h21.
Última atualização em 5 de março de 2020 às 17h48.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, atribuiu a alta do dólar aos patamares recentes aos efeitos do coronavírus, à desaceleração econômica e ao que a imprensa vem relatando, em sua visão, como "choque" entre Congresso e o presidente da República e afirmou que se "muita besteira" for feita o dólar pode ir a 5 reais.
"Se o presidente pedir para sair, se o presidente do Congresso pedir para sair... se todo mundo pedir para sair..., às vezes eu faço algumas brincadeiras de professor e isso vira coisa errada", disse Guedes ao ser questionado sobre o risco de o dólar ir a 5 reais.
"É um câmbio que flutua. Se fizer muita besteira pode ir para esse nível (5 reais). Se fizer muita coisa certa, ele pode descer", completou.
Ele voltou a afirmar que o câmbio é flutuante e que não há "nada de errado" com a cotação da moeda norte-americana, que manteve o comportamento de alta forte e chegou a R$ 4,66 no período da tarde.
"A flutuação do câmbio está num nível mais alto", disse o ministro, que lembrou que, no passado, o dólar já chegou a girar em torno de R$ 1,80.
Guedes repetiu que o país mudou seu modelo econômico e usou agora uma nova metáfora: "Agora o modelo é 4x4, tração nas quatro rodas. Juro caiu de 15% para 4%. Câmbio que era R$1,80 subiu para R$ 4", afirmou.
Perguntado sobre se a alta do dólar para os níveis atuais preocupa, Guedes respondeu: "Quando sobe rápido preocupa, por isso o BC atua", lembrando ainda que as reformas econômicas ainda não foram integralmente implementadas.
Guedes ainda rejeitou questionamentos sobre o crescimento da economia em 2019 ter ficado abaixo do previsto no começo do ano passado e disse que, se o IBGE mantiver os "30% de erro que ele faz todo ano", o PIB deverá ter crescido 1,4%, e não 1,1% como divulgado na véspera.
"O que saiu foi uma primeira estimativa para 1,1%. Se o IBGE mantiver os 30% de erro que ele faz todo ano, vai subir também para 1,4%", afirmou a jornalista na sede da Fiesp.
Questionado, Guedes disse que estimativas acima de 2% eram da Secretaria de Política Econômica (SPE), que faz parte do Ministério da Economia.
O ministro, contudo, admitiu que ainda há dúvidas no mercado em relação ao avanço das reformas, com base em notícias veiculadas pela imprensa. "As reformas que faltam, como administrativa e tributária, ainda não foram implementadas. Quando forem feitas, os investimentos virão mais rápido", disse.
Ele afirmou que a projeção dele para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 é de crescimento de 2% e admitiu que trabalha com uma estimativa diferente da calculada pela Secretaria de Política Econômica (SPE), subordinada à pasta que ele comanda. Ele concedeu entrevista a jornalistas depois de ter participado de encontro com empresários promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
A previsão da SPE para 2020 é de expansão de 2,4% e a expectativa é que o número seja revisado na semana que vem.
Guedes disse que "sempre" trabalhou com um cenário em que a economia crescia 1% no primeiro ano do governo Bolsonaro 2% no segundo ano. Guedes ressaltou que a estimativa da SPE é calculada por "economistas sofisticados", que recorrem a modelos econométricos.
O ministro da Economia afirmou ainda que, pelas contas dos economistas que trabalham com ele, o impacto negativo do coronavírus na economia brasileira seria de 0,5 ponto porcentual na pior das hipóteses, em um cenário de crescimento de 2,5%. Na melhor das hipóteses, segundo ele, o impacto seria de apenas 0,1 ponto porcentual.
Para o ministro, o coronavírus vai afetar mais onde está o foco da epidemia, a China, e as economias mais abertas, como é o caso também do país asiático. No caso do Brasil, ele disse, a economia é uma das mais fechadas do mundo. "Quando o vento é a favor, não pega tanto. Então, com o vento contra, também não pega tanto", afirmou.
O ministro também comentou as declarações dadas mais cedo pelo secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. "Se o Mansueto esperava PIB a 3%, ele está frustrado", disse. Mas depois concordou com o secretário: "Sim, 1% de crescimento para um país em desenvolvimento é pouco, pois o Brasil crescia 7,3% há 40 anos."
(Com Reuters e Estadão Conteúdo)