Economia

Sauditas preferem preço alto do petróleo a mercado livre

A decisão de reduzir a produção, tomada na reunião desta semana da Opep em Argel, era necessária para as desgastadas finanças da Arábia Saudita


	Petróleo: “A Arábia Saudita aposta que um pequeno corte da produção será compensado pelos preços mais altos"
 (Franck Fife)

Petróleo: “A Arábia Saudita aposta que um pequeno corte da produção será compensado pelos preços mais altos" (Franck Fife)

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Da Redação

Publicado em 29 de setembro de 2016 às 17h34.

Londres - A Arábia Saudita deu um basta ao flerte com a liberdade nos mercados de petróleo.

Seu novo ministro do Petróleo, Khalid Al-Falih, demorou apenas seis meses para sucumbir e acabar com a política de livre produção, em vigor há dois anos.

A decisão de reduzir a produção, tomada na reunião desta semana da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em Argel, era necessária para as desgastadas finanças da Arábia Saudita.

O reino, que tem o maior déficit orçamentário entre as 20 maiores economias do mundo, pode adiar sua primeira emissão internacional de títulos e enfrenta novas incertezas jurídicas porque o Congresso dos EUA decidiu, em votação na quarta-feira, que os americanos poderão processar o país por envolvimento nos atentados de 11 de setembro de 2001.

“A Arábia Saudita quer preços mais altos”, disse Amrita Sen, analista-chefe de petróleo da empresa de consultoria Energy Aspects, em Londres.

Pode haver vastas consequências. Em breve, gigantes como a Exxon Mobil poderão ter dinheiro suficiente para reativar projetos abandonados.

As finanças dos países sem dinheiro da Opep, como a Venezuela, ganharão impulso. A Rússia e outros países que não fazem parte do grupo terão que decidir se seguirão os passos da Arábia Saudita.

As produtoras de xisto dos EUA, que a Opep esperava levar à falência, usarão os preços mais altos para perfurar novos poços.

Os consumidores americanos, que contaram com os menores preços de gasolina em mais de uma década, pagarão mais na hora de abastecer o tanque.

Preocupação com o preço

Há poucos meses, o antecessor de Al-Falih, Ali Al-Naimi, declarou que não importava se os preços do petróleo “caíssem para US$ 20, US$ 40, US$ 50 ou US$ 60 o barril -- isso é irrelevante”.

Agora, Al-Falih afirma que os preços, que giram abaixo de US$ 50 o barril, precisam subir para estimular o investimento de longo prazo.

Em 2014, quando a Arábia Saudita encabeçou a política da Opep de produzir à vontade, Riad calculou que, se reduzisse a produção, os preços não subiriam o suficiente para compensar. Desta vez é diferente.

“A Arábia Saudita aposta que um pequeno corte da produção será compensado pelos preços mais altos do petróleo e, consequentemente, pelo aumento da receita”, disse Jamie Webster, integrante do Centro de Política Global de Energia da Universidade Columbia, em Nova York.

Déficit saudita

A Arábia Saudita terá déficit fiscal equivalente a 13,5 por cento do PIB neste ano, segundo cálculos do FMI. O crescimento econômico vem se desacelerando acentuadamente e a expectativa é que fique em cerca de 1 por cento neste ano. O rival Irã deve crescer 4 por cento.

A política de liberdade de produção provocou caos no setor porque o preço do barril despencou de US$ 100 para menos de US$ 30, o patamar mais baixo em 12 anos.

As empresas apertaram os cintos, cancelaram projetos e venderam ativos. Mas continuaram produzindo.

Esta situação poderá persistir, embora os sauditas digam que se reverterá. As produtoras que se apaixonaram pelos projetos de extração aprovados durante os anos de prosperidade, quando o barril custava mais de US$ 100, mantiveram a produção do Golfo do México ao Brasil.

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