Economia

Santander: mundo deve crescer 1,4% em 2024 e Brasil, 1%; juros nos EUA são principal risco

Economistas da instituição financeira avaliam que decisões do FED com alta da taxa podem afetar PIB global

Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander: Brasil chega em 2024 “muito bem-posicionado” e “como poucos países do mundo” (Flávio Santana/Exame)

Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander: Brasil chega em 2024 “muito bem-posicionado” e “como poucos países do mundo” (Flávio Santana/Exame)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 31 de outubro de 2023 às 10h32.

MADRI, ESPANHA - A economia global deve passar por um processo de desaceleração em 2024, por meio de um pouso suave com redução da inflação na maioria dos países. Com isso, o Produto Interno Bruto (PIB) do mundo deve aumentar 1,4% diante da defasagem no efeito das altas de juros promovidas pelos bancos centrais. No Brasil, a estimativa é de crescimento de 1%, com contribuição ainda positiva do agronegócio.

As projeções foram apresentadas pelo economista-chefe e vice-presidente do Grupo Santander, Juan Cerruti, e pela economista-chefe do Santander para o Brasil, Ana Paula Vescovi, durante a International Banking Conference 2023, promovida pela instituição financeira em Madri. O pouso suave apresentado pelo economista-chefe do grupo consiste em uma queda da inflação por meio dos juros altos, mas sem um processo recessivo. Com isso, as economias desaceleram, mas sem uma queda abrupta do nível de atividade.

“Um risco para esse cenário é que a inflação pode ser mais resistente e poderia obrigar o Fed (Federal Reserve) e outros bancos centrais a aumentar mais os juros ou manter as taxas mais altas por mais tempo. Também há um risco geopolítico e vivemos em um mundo com maior volatilidade. Maior volatilidade pode levar a uma aterrissagem bruta”, resumiu Cerruti.

Brasil bem-posicionado

Ana Paula Vescovi afirma que o Brasil chega em 2024 “muito bem-posicionado” e “como poucos países do mundo”. Segundo ela, mesmo com o processo de redução de juros, que deve terminar com a taxa em 9,5% ao ano, a inflação deve terminar o ano em 3,8%.

“Ano que vem, a boa notícia é que vamos manter uma safra positiva. Não haverá queda ou retorno mesmo diante do crescimento de 2023. Teremos crescimento com recuperação da pecuária. E um ciclo monetário que tende a recompor os ajustes. Teremos uma desaceleração do crédito que nada mais é do que uma resposta a política monetária que visa o controle de inflação”, disse.

Decisões futuras do FED precisam ser avaliadas

A economista do Santander também afirmou que o mesmo com o desafio fiscal, o país está bem-posicionado em questões de transição energética, com o melhor custo-benefício de descarbonização. Além disso, o mercado de carbono deve avançar com a recomposição de pastagens degradas e o aumento da produção de petróleo para 5 milhões de barris tende a garantir a transição energética.

“Acreditamos na manutenção da pauta de reformas. Acreditamos na aprovação da reforma tributária, dado que temos sistema complexo, talvez o mais complexo da América Latina. Isso vai ser um grande ganho de produtividade. Vamos mensurar no longo prazo e o efeito do PIB potencial maior”, disse.
Por outro lado, ela alertou que as decisões futuras do FED devem ser monitoradas, diante do diferencial de juros em níveis baixos. Na prática, os investidores optam por aplicar no Brasil quando os juros estão altos em relação aos praticados nos Estado Unidos. Com a alta da taxa norte-americana, os investidores preferem manter os recursos aportados na maior economia do mundo, com menor risco.

*O repórter viajou a convite do Santander

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