A Ford divulga seu Explorer 2020 em Detroit (EUA), antes do Salão Internacional do Automóvel (Bill Pugliano/Getty Images)
AFP
Publicado em 11 de janeiro de 2019 às 15h25.
O salão do automóvel de Detroit abre na segunda-feira (14) em um contexto marcado pela incerteza sobre o futuro do setor, afetado pelo aumento dos preços do aço e alumínio, fruto da guerra comercial entre Pequim e Washington.
Pela primeira vez desde 2009, o ano da falência da General Motors (GM) e da Chrysler, a indústria automobilística tem que lidar com muitas incógnitas: o futuro de sedãs e carros urbanos, as consequências do conflito comercial entre a China e os Estados Unidos - os dois maiores mercados consumidores do setor - e a desaceleração da economia mundial, especialmente da China, que coincide com o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos.
Especialistas também questionam quais serão as consequências do aumento do preço do crédito ao consumidor e do preço dos veículos na venda de automóveis.
Os subsídios federais para carros elétricos diminuíram significativamente, a GM e a Ford enfrentam uma extensa reestruturação e o alto nível de reservas da Fiat Chrysler preocupa os mercados financeiros.
Depois de vários contratempos, incluindo acidentes fatais, e à espera de uma regulamentação que não chega, arrefeceu a euforia gerada pelo desenvolvimento de carros autônomos - que muitos fabricantes e gigantes do Vale do Silício previram para 2020.
"O consenso durante este salão em Detroit (...) é que os lucros e as vendas começarão a se contrair neste ano", diz Adam Jonas, analista do banco de investimento americano Morgan Stanley.
"Não seria uma surpresa ver como certas empresas repensam a relevância de manter algumas fábricas", diz Jessica Caldwell, do portal especializado Edmunds.com.
A GM já anunciou fechamentos de fábricas e cortes de empregos e poderia tomar novas medidas para poupar. A Ford, que decidiu acabar com a produção de sedãs e carros urbanos de baixa margem de lucro, anunciou nesta quinta-feira que vai cortar empregos na Europa a fim de recuperar sua competitividade.
Embora as vendas de veículos novos tenham atingido um novo recorde nos Estados Unidos em 2018 - cerca de 17,3 milhões de novos registros, 1,8% a mais em um ano - a maioria dos observadores antecipa uma queda notável no número de vendas em 2019 e preveem más notícias para os acionistas.
A GM, grupo norte-americano mais exposto à economia chinesa, provavelmente dará o tom durante um dia dedicado a investidores em Nova York na sexta-feira, durante o qual a presidente, Mary Barra, apresentará as metas financeiras para 2019.
Como um sinal de pessimismo atual, nenhum anúncio importante é esperado para o salão, que não terá as participações das principais fabricantes alemães, com exceção da Volkswagen.
A presença das chamadas "Três Grandes" americanas - GM, Ford e Fiat Chrysler - será bastante discreta, embora a Ford possa apresentar o Shelby GT 500, o Mustang mais rápido já produzido.
Também é esperado que a Volkwagen e a Ford anunciem uma ampla aliança estratégica em torno de carros elétricos e autônomos, disse uma fonte familiarizada com a negociação à AFP.
"O salão de Detroit está passando por um período de transição", explica Michelle Krebs, especialista da Autotrader. Já foi o tempo em que a Toyota e a Nissan lançaram na cidade dos EUA, em 1989, suas respectivas marcas de luxo: Lexus e Infiniti.
Brian Moody, outro analista da Autotrader, acredita que o salão de Detroit se tornou o lugar onde as tecnologias disponíveis estão expostas. "Você vai lá para ver as tecnologias relacionadas à segurança do carro, o tipo de coisa que os consumidores podem comprar em menos de um ano", diz Moody.
O salão, criado há 30 anos, continua atraindo cerca de 1 milhão de pessoas. Este ano, abrirá suas portas à imprensa na segunda-feira e receberá o público entre os dias 19 e 27 de janeiro.