Mulher segura retrato do presidente russo Vladimir Putin em celebrações na Crimeia (Shamil Zhumatov/Reuters)
Da Redação
Publicado em 24 de março de 2014 às 16h46.
Bucareste/Moscou - As sanções ocidentais estão empurrando a Rússia à recessão e o sofrimento pode se intensificar se os lideres dos EUA e da UE aumentarem a pressão por causa das tensões na Ucrânia.
Os bancos, incluindo o estatal VTB Capital, dissem que a nona maior economia do mundo vai encolher durante pelo menos dois trimestres enquanto as penalidades pela anexação da Crimeia agitam os mercados, restringem os investimentos e aumentam os custos dos empréstimos. As sanções que até o momento enfocaram indivíduos – com o cancelamento de vistos e o congelamento de ativos – podem ser expandidas para objetivar áreas específicas da economia.
O presidente Vladimir Putin alcançou seu maior nível de popularidade em cinco anos ao fazer com que a Crimeia seja novamente parte da Rússia, após 60 anos, e disse que não se deixará abalar pela retaliação estrangeira. No entanto, os custos desta decisão estão começando a se revelar com os piores desempenhos das ações russas neste ano e a previsão de que a economia sofrerá mais que a do Ocidente, disse Mircea Geoană, representante do governo da România para projetos econômicos e diplomáticos.
“Estamos testemunhando o início de uma nova Guerra Fria geopolítica e econômica, e acho que levará pelo menos de dois a três anos para que seja estabelecido algum tipo de equilíbrio”, disse. “Quem vai pagar o pato por essa agressão, independentemente do quão popular e patriótica ela aparente, será o povo russo, porque há uma grande diferença entre a força econômica da UE e dos EUA e a força econômica da Rússia”.
Bilionários na mira
Depois que os EUA estenderam as sanções no dia 20 de março para incluir empresários relacionados com Putin, como os bilionários Gennady Timchenko e Arkady Rotenberg, o Standard Poor’s e o Fitch Ratings reduziram a perspectiva para a classificação de crédito da Rússia de estável para negativa, sugerindo que o próximo passo provavelmente será um rebaixamento.
Mesmo antes do impasse com o Ocidente, o pior desde a Guerra Fria, a economia da Rússia estava enfrentando o crescimento mais baixo desde uma recessão em 2009, pois a demanda de consumo não conseguiu compensar o parco investimento. A situação atual na economia “implica sinais claros de uma crise”, disse o vice-ministro primeiro Sergei Belyakov, dia 17 de março, depois das primeiras sanções dos EUA e da UE.
O banco central da Rússia aumentou inesperadamente sua taxa básica de juros em 150 pontos porcentuais depois que a conquista armada da Crimeia disparou uma agitação no rublo. Putin finalizou a anexação da península do Mar Negro no dia 21 de março.
“Algumas pessoas dizem que essas sanções não vão afetar o sistema financeiro da Rússia, mas elas já estão afetando”, disse o ministro das finanças Anton Siluanov, no dia 21 de março.
‘Picada de mosquito’
As sanções representam uma “picada de mosquito” porque a maioria dos oficiais na lista não tem permissão para viajar ao exterior de modo particular e tem grande parte dos seus negócios na Rússia, disse Konstantin Kostin, conselheiro do Kremilin que chefia o Fundo de Desenvolvimento da Sociedade Civil. Entre os membros do governo que figuram na nova lista da UE divulgada no dia 21 de março estão os assistentes de Putin, Sergei Glazyev e Vladislav Surkov.
Putin, entretanto, precisaria de penalidades mais rigorosas para abalar-se, de acordo com Ariel Cohen, pesquisador sênior da Heritage Foundation, de orientação republicana, em Washington.
Fluxos de saída de capital
Os funcionários ocidentais podem contornar isso aumentando as possibilidades de futuras sanções, que solapem a confiança nos negócios e prejudiquem a economia da Rússia, disse Fredrik Erixon, diretor do Centro Europeu de Economia Política Internacional, em entrevista telefônica de Bruxelas, no dia 21 de março.
Os fluxos de saída de capital da Rússia podem chegar a US$ 70 bilhões no primeiro trimestre, e há “um risco real de que isso empurre a Rússia a uma recessão”, conforme um relatório da semana passada da Capital Economics, com sede em Londres. Os fluxos de saída foram de US$ 63 bilhões em 2013.
“Os investidores e as agências de notação estão baseando sua visão não no que aconteceu até agora com as sanções, mas no que pode acontecer”, disse Erixon, que acredita que as medidas ocidentais contra a Rússia se endurecerão, conduzidas pelos EUA. “Tenho certeza de que as sanções vão escalar, e que o principal tomador de decisões será Barack Obama. Se ele intensificar sua postura, muito provavelmente a UE tenha que fazer o mesmo”.