Homem caminha com a bandeira da Rússia: a maré virou (David Mdzinarishvili/AFP)
Da Redação
Publicado em 20 de julho de 2015 às 20h11.
Londres - Em qual país você investiria: em uma potência econômica de rápido crescimento com um mercado de ações líder ou em uma ex-superpotência cambaleante envolvida em uma guerra por procuração e que caminha para uma recessão?
Se tivesse optado pelo segundo, a Rússia, no começo de 2015, você teria retornos ajustados aos riscos superiores aos do primeiro, a China, e também aos de todos os outros países Brics, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Embora a escolha parecesse contraditória àquela altura, pois a queda dos preços do petróleo e a desvalorização de sua moeda pesavam sobre o mercado de Moscou, avaliado em US$ 458 bilhões, a maré virou nesses sete meses.
A recuperação do petróleo em relação à maior baixa em seis anos aumentou o apelo dos ativos russos, enquanto uma preocupação com ações caras levou a US$ 4 trilhões em prejuízos na China.
A Rússia tem a avaliação mais baixa entre seus pares e pode ampliar seus ganhos se os riscos políticos diminuírem mais, dizem firmas de investimento como a GAM U.K. Ltd. e a Prosperity Capital Management.
“Nossos modelos estão nos dizendo para comprar Rússia”, disse Tim Love, gerente de investimento em Londres da GAM, que supervisiona US$ 130 bilhões em ativos, por telefone, em 15 de julho. “Existe um potencial de recuperação muito forte. Esta é uma aposta cada vez mais difícil de acertar por causa da política. Eu ficaria feliz em puxar o gatilho nos próximos dois a três meses”.
Em termos nominais, o índice de referência da Rússia Micex avançou 18 por cento neste ano, 5 pontos porcentuais menos que o Shanghai Composite Index.
Contudo, uma queda recorde na volatilidade russa, combinada com um aumento nas oscilações de preço chinesas, gerou retornos ajustados para flutuações desse tipo superiores para Moscou, por um fator de 1, contra 0,6 da China, segundo os dados. Este foi também o melhor ganho no universo Brics, que inclui, além dos dois países, Brasil, Índia e África do Sul.
Mês horrível
A melhora da sorte da Rússia contrasta com os acontecimentos de dezembro, quando as ações caíram quase 9 por cento no país e o rublo mergulhou em direção a uma baixa recorde, levando o banco central a elevar as taxas de juros ao nível mais alto em mais de uma década.
Isso marcou o pico da turbulência que havia começado com a anexação da Crimeia pela Rússia, em março, e com a queda de 48 por cento do petróleo bruto em um ano.
Desde então, os investidores se acalmaram a respeito do país. O petróleo estabilizou acima dos US$ 55 o barril e o cessar-fogo está sendo mantido no leste da Ucrânia, de modo geral, desde 14 de fevereiro.
Um indicador das oscilações esperadas de preços, sinalizadas pelos preços das opções, caiu mais do que a metade, para 29 por cento, queda mais aguda desde 2006, pelo menos, segundo os registros mais antigos.
Mercado mais barato
Mesmo após o rali do primeiro semestre, as ações russas têm um valor de menos da metade das de seus pares do Brics. O Micex é negociado a 5,9 vezes os lucros projetados de seus membros, contrastando com o segundo indicador mais barato, o Ibovespa, do Brasil, que registra 12,5.
A China, a Índia e a África do Sul desfrutam de múltiplos superiores a 15.
A economia da Rússia, que neste ano deverá ter a primeira retração desde 2009, poderá se recuperar e crescer 0,5 por cento em 2016, segundo mostra uma pesquisa da Bloomberg.
As sanções econômicas europeias provavelmente também serão relaxadas, pois não será “fácil convencer todos a prolongá-las” no ano que vem, disse Mattias Westman, fundador em Londres da Prosperity Capital Management, que supervisiona cerca de US$ 2 bilhões em ativos de ex-repúblicas soviéticas como a Rússia, por telefone, na segunda-feira.
Contudo, nem mesmo os investidores mais otimistas estão descontando os riscos potenciais de investir na Rússia em meio ao impasse contínuo do presidente Vladimir Putin com as potências ocidentais por causa da Ucrânia e à pressão sobre os preços do petróleo devido ao retorno iminente da produção iraniana a um mercado global já com excesso de oferta.
“Os ganhos fáceis acabaram”, disse Anastasia Levashova, que ajuda a gerenciar cerca de US$ 350 milhões na Blackfriars Asset Management Ltd. em Londres, por e-mail.
“A volatilidade do mercado russo é baixa porque sua base de investidores e seus volumes de negociação encolheram drasticamente”.