Economia

Rotatividade de trabalhadores de baixa renda pode afetar nova classe média

A falta de qualificação alimenta a alta rotatividade de profissionais da classe C

Além dos riscos sociais, a possibilidade de estagnação ou eventual revés na ascensão dos trabalhadores de baixa renda pode trazer forte impacto econômico ao Brasil (Daniela de Lamare)

Além dos riscos sociais, a possibilidade de estagnação ou eventual revés na ascensão dos trabalhadores de baixa renda pode trazer forte impacto econômico ao Brasil (Daniela de Lamare)

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Da Redação

Publicado em 7 de dezembro de 2011 às 18h49.

Brasília – Dados analisados pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República mostram que os trabalhadores formais com renda de até dois salários mínimos (atualmente R$ 1.090) estão mais expostos à rotatividade no emprego do que o conjunto da força de trabalho no Brasil e do que outros de diferentes faixas salariais.

Conforme estudo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, a taxa de rotatividade no Brasil em 2010 foi 40%, enquanto entre os trabalhadores com até dois salários mínimos foi 57%. A análise da SAE destaca que a rotatividade é causada principalmente pelos pedidos de dispensa dos próprios empregados.

“Essa população está sobrerrepresentada nas demissões a pedido, quem está nas faixas salariais maiores não está pedindo tanta demissão assim”, diz a economista Diana Grosner, da Secretaria de Ações Estratégicas da SAE. Ela lembra que há grande proporção de demitidos entre os trabalhadores de baixa renda.

Conforme a série do Caged analisada pela SAE, a participação dos trabalhadores de baixa renda no total de demissões a pedido cresceu de um terço, em meados de 1999, para quase 85% em 2010. Nesse período, aumentou em 16 milhões o número de trabalhadores que recebem até dois salários mínimos.

Grosner admite que a alta no pedido de demissões pode estar relacionada ao bom momento da economia em 2010. “A pessoa saía também porque achava que ia conseguir coisa melhor”, considera.

O fenômeno, no entanto, não deixa de preocupar o governo. “A entrada dessas pessoas no mercado formal foi um grande avanço, sem dúvida, mas agora está na hora de dar um segundo empurrão. A situação das pessoas precisa melhorar, elas precisam ter uma estabilidade no emprego”, avalia a economista.

A alta rotatividade pode colocar em risco a manutenção das pessoas na faixa acima da pobreza, notadamente o estrato emergente da chamada nova classe média (com renda familiar per capita acima de R$ 250 até R$ 1.000) que, em 11 anos, aumentou em 31 milhões de pessoas. “É quem está no limite de retornar à pobreza”, diz Alessandra Ninis, assessora técnica da Secretaria de Ações Estratégicas.

Para o ministro-chefe da SAE, Moreira Franco, a alta rotatividade conspira contra a ascensão social dos trabalhadores porque impede a capacitação e o aumento na remuneração. “Quem está trabalhando precisa se qualificar e sua qualificação é de interesse do próprio trabalhador, da empresa na qual trabalha e do governo”, escreveu em artigo publicado em um jornal carioca.


A falta de qualificação alimenta a alta rotatividade, acrescenta Diana Grosner. “São as pessoas que têm qualificação mais baixa. Para o mercado, é mais fácil trocar essa pessoa. É mais fácil perder uma pessoa que não tem qualificação do que perder uma pessoa qualificada”, ressalta.

Além dos riscos sociais, a possibilidade de estagnação ou eventual revés na ascensão dos trabalhadores de baixa renda pode trazer forte impacto econômico. Nos cálculos da SAE, a nova classe média representa 47% do consumo no país.

O governo instituiu uma comissão de intelectuais e pesquisadores para estudar o comportamento da nova classe média. Desde outubro, a SAE também discute com os ministério do Trabalho e Emprego, da Previdência Social e Fazenda medidas a serem adotadas em 2012 para incentivar a permanência dos trabalhadores no emprego.

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