Colheitas de soja são transferidas para carretas de caminhões: a nova infraestrutura aumentará a capacidade de transporte em 30 milhões de toneladas por ano em 2017 (Paulo Fridman/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 10 de janeiro de 2014 às 14h01.
São Paulo e Chicago - No ano passado, o Brasil passou a ser o maior exportador de soja mesmo sem reparar os milhares de buracos nas estradas que atormentam seus caminhões nem resolver as demoras de até três meses para colocar as cargas nos navios.
Agora, o País ampliará sua liderança sobre os EUA abrindo um atalho através da floresta amazônica para conectar as fazendas de soja do interior ao Canal de Panamá e com os compradores asiáticos.
Operadores de companhias como a Bunge Ltd. e a Cargill Inc. investirão US$ 2,5 bilhões no projeto, principalmente para construir docas, frotas de barcaças e terminais ao longo do Rio Amazonas e seus tributários.
O projeto se tornará a maior rota de exportação de soja e grãos do Brasil. Os navios demorarão dois dias menos na sua rota indo para o oeste, através do Pacífico, em vez de uma viagem mais longa pelos Oceanos Atlântico e Índico.
Isso poderia reduzir os preços dos futuros em Chicago para o legume, de alta demanda na China e usado em produtos como substitutos para a carne e azeites industriais.
“Não há escassez de soja no mundo, há insuficiências de logística”, disse Dan Basse, presidente da empresa de pesquisa AgResource Co. em Chicago, em entrevista por telefone. Acelerar a chegada da soja aos mercados asiáticos “acalmará as preocupações” com a escassez da oferta nos EUA e poderia deprimir os preços em Chicago, disse Basse.
A nova infraestrutura aumentará a capacidade de transporte em 30 milhões de toneladas por ano em 2017, disse Kleber Menezes, presidente da Associação de Terminais Privados do Rio Tapajós. O Brasil exportou 41,9 milhões de toneladas de soja na última temporada, segundo dados do Departamento Americano de Agricultura (USDA).
Preocupação com o meio ambiente
O milho e o algodão também se beneficiarão com os projetos no rio. O Brasil já é o segundo maior exportador de milho, depois dos EUA, e o quinto maior exportador de algodão.
Os defensores do atalho pela Amazônia terão que lidar com a preocupação com que ele abra novas áreas quando as estradas forem melhoradas. Um melhor transporte pode encorajar a exploração madeireira ilegal e as plantações na maior floresta do mundo perto da rota do rio.
“Preocupante porque as novas estradas e a infraestrutura exercem pressão de ocupação”, disse Tica Minami, coordenadora da campanha para a Amazônia do grupo ativista Greenpeace, em entrevista por telefone de Manaus, Brasil.
O desmatamento ilegal pode criar terra para pastar para o gado que depois se transforma em fazendas de soja, disse Minami.
Atualmente, parte da produção de soja do Brasil é transportada por mais de 1.600 quilômetros através de estradas precárias, do Mato Grosso, estado no oeste do País cuja área é mais do que o dobro do tamanho da Alemanha e que representa quase um terço da produção do Brasil, para portos no sudoeste que não têm capacidade para processá-la.
“Levará alguns anos até que as coisas sejam transportadas sem problemas nos mercados de exportação”, disse Alberto Álvarez, diretor de gestão do Fintec Group Inc, corretora com escritórios em Chicago e Miami e clientes na América do Sul e nos EUA. “Os investimentos não consertarão tudo imediatamente”.
Principal exportador
O Brasil ultrapassou os EUA como principal exportador de soja na temporada passada, representando 42 por cento de cerca de 100 milhões de toneladas enviadas globalmente em 2013, segundo estimativas do USDA. Neste ano, as exportações do país sul-americano chegarão ao recorde de 44 milhões de toneladas, comparadas a 40,1 milhões dos EUA, conforme o USDA.
Nesta temporada, a produção de soja e grãos nos estados de Pará, Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, no norte do País, chegará a 17,9 milhões de toneladas, 75 por cento acima frente há uma década, mesmo antes que a infraestrutura no rio esteja pronta, segundo dados do governo.
“Regiões onde não era possível produzir pela sua distância dos portos agora figuram entre os locais mais privilegiados do ponto de vista da logística”, disse Arlindo Moura, presidente da Vanguarda Agro SA, a segunda maior produtora de soja e grãos de capital aberto do Brasil.