O Rota 2030 não buscará incentivo para a venda de carro (Germano Luders/Exame)
João Pedro Caleiro
Publicado em 22 de fevereiro de 2018 às 13h14.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2018 às 13h24.
O Rota 2030, plano que visa estimular e dar previsibilidade ao setor automotivo, está “parado” no Ministério da Fazenda por haver divergências sobre como o governo vai devolver às montadoras parte do que foi investido em Pesquisa e Desenvolvimento, disse Antonio Megale, presidente da Anfavea.
O plano prevê que as empresas gastarão pelo menos R$ 5 bilhões por ano em P&D e caberia ao governo devolver mais ou menos R$ 1,5 bilhão, disse Megale em entrevista no escritório da Bloomberg em São Paulo.
“O problema é a forma de colocar. A Fazenda não quer mais que os recursos sejam devolvidos na forma de créditos tributários, como vinha sendo feito no Inovar Auto”.
Assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda disse à Bloomberg que não iria comentar a declaração do presidente da Anfavea sobre o Rota 2030 estar parado na pasta do governo.
Uma definição sobre o Rota 2030 deve ocorrer no final deste mês de fevereiro, disse Megale, atribuindo a informação ao presidente Michel Temer após uma reunião entre os dois ocorrida em dezembro.
A partir das discussões no governo, as áreas técnicas estão trabalhando com a previsão de lançamento da política ainda no primeiro trimestre de 2018, disse um integrante do governo a par das negociações que pediu para não ser identificado por não estar autorizado a falar publicamente sobre as negociações.
Diferentemente do Inovar-Auto, plano setorial encerrado em dezembro de 2017, o Rota 2030 não busca incentivo para a venda de carro e sim “algum apoio” do governo para P&D, disse Megale. Sem o apoio, as montadoras podem ser levadas a reduzir suas áreas de pesquisas, disse.
“Se a gente tiver algum incentivo, você consegue desenvolver coisas que são adequadas ao Brasil, por exemplo o etanol”, disse Megale ao defender o biocombustível da cana de açúcar como sendo, atualmente, “o melhor arranjo existente” na questão de emissão de gases estufa CO2.
É fato que os motores dos automóveis serão movimentados por eletricidade e o setor automotivo brasileiro precisa é “entender como essa tecnologia casa com as potencialidades do Brasil”, disse Megale.
“Não podemos destruir nosso canavial e importar bateria produzida de lítio que o cara extrai lá da China, não faz sentido”.
Há várias tecnologias sendo pesquisadas no mundo sobre como colocar energia no carro -- bateria, veículos híbridos, células de combustível -- e cada país direciona suas pesquisas para a solução que lhe é favorável, segundo Megale. O Brasil precisa desse investimento em pesquisas para usar o potencial do etanol nessa realidade.
“Estamos lutando muito para preservarmos no Brasil pesquisa e desenvolvimento", disse Megale. “Se a gente não tiver pesquisa e desenvolvimento nessa área no Brasil, ninguém vai fazer por nós no mundo”.