Economia

Rosario, capital da soja, um modelo econômico único

Cerca de 80% da produção argentina de soja é exportada desde Rosario


	Soja: sobre a produção de óleo de soja, um terço tinha como destino a fabricação de biodiesel, mas a União Europeia, principal importador do combustível argentino, freiou recentemente suas compras
 (Scott Olson/Getty Images)

Soja: sobre a produção de óleo de soja, um terço tinha como destino a fabricação de biodiesel, mas a União Europeia, principal importador do combustível argentino, freiou recentemente suas compras (Scott Olson/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 17 de setembro de 2013 às 17h11.

A região de Rosario, no centro-oeste da Argentina, oferece uma rentabilidade única no negócio da soja, ao concentrar campos, fábricas de transformação e um porto fluvial de onde os navios cargueiros partem para a Ásia e Europa.

O polo portuário de Rosario se estende ao longo de 40 km do rio Paraná, ao norte e ao sul da terceira cidade da Argentina, localizada a 310 km ao norte de Buenos Aires.

Cerca de 80% da produção argentina de soja é exportada desde Rosario, onde as multinacionais do setor como Cargill, Dreyfus ou Bunge construíram complexos portuários privados ultra-modernos.

Rosario se transformou no primeiro porto internacional do mercado da soja. Enquanto o transporte terrestre é cada vez mais caro e complica seu competidor regional, o Brasil, a grande vantagem de Rosario é que a maioria dos cultivos de soja está em um raio de não mais de 250 km ao redor do porto.

Os grãos de soja transportados em caminhões ou trens são triturados e processados nas fábricas localizadas às margens do Rio Paraná. Os navios que hasteiam todas as bandeiras imagináveis embarcam em 24 horas o carregamento de farinha, óleo ou biodiesel rumo aos portos asiáticos ou europeus. Uma particularidade do comércio de soja é que o exportador compra diretamente a soja do produtor antes de processá-la em sua própria fábrica.

A empresa holandesa-argentina Nidera leva as coisas ainda mais longe: concebe as sementes geneticamente modificadas em seus laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, as vende aos produtores com fertilizantes e com assistência técnica, compra sua produção e logo a processa e a exporta.


A última inovação dessa empresa, que possui 30% do mercado de sementes, é que o caminhão que chega ao porto e entrega a soja colhida volta para o campo com os fertilizantes para a safra seguinte.

"É um plano de negócio em loop, muito eficaz", diz orgulhoso Gabriel Pierre, diretor do complexo Nidera de Rosario. A produção agentina de soja em 1992 foi de 10 milhões de toneladas e estima-se que chegará a um recorde de 55 milhões no próximo ano. "A soja não seria a soja se não fosse OGM (geneticamente modificada). Não se pode aumentar a produção dos campos" sem recorrer às sementes OGM, insiste Pierre.

Ele acrescenta que, "na Argentina, desenvolvemos novas tecnologias. Estados Unidos e Brasil copiaram a indústria argentina de crushing (processamento da soja)".

A Argentina tem uma capacidade de processar 200.000 toneladas de soja por dia, das quais 150.000 toneladas em Rosario, destaca Rogelio Ponton, especialista da Bolsa de Comércio de Rosario. Segundo Ponton, esta cifra é maior que a processada pelo Brasil (160.000 t/dia) e está quase no nível dos Estados Unidos (210.000 t/dia), enquanto a China que se dotou recentemente de uma indústria de processamento para 350.000 toneladas diárias, se limita agora a comprar matéria-prima.


Ponton lembra que no começo só se extraía óleo dos grãos de soja e os resíduos eram considerados desperdício, mas posteriormente as análises revelaram que continham muitas proteínas e atualmente a tonelada de farinha de soja é vendida a cerca de 500 dólares.

A chave do crescimento do porto de Rosario é a dragagem que permite enormes navios transoceânicos subir 400 km o rio Paraná para abastecer no coração da principal região agrícola do país e partir diretamente para seu destino.

Sobre a produção de óleo de soja, um terço tinha como destino a fabricação de biodiesel, mas a União Europeia, principal importador do combustível argentino, freiou recentemente suas compras. Ponton se orgulha de contar com uma indústria de alta tecnologia, inovadora e disposta a se renovar, que se choca com um política fiscal do governo que, segundo ele, prejudica a agricultura.

"Há um problema muito grave: o produtor paga um imposto às exportações que passou de 3,5% em 1990-2002 a 23,5% em 2002 e 35% hoje. Neste negócio, o que mais ganha é o Estado", lamenta.

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