Economia

Risco fiscal desafia otimismo com retomada mais rápida no Brasil

Âncora fiscal do país, o teto de gastos é obstáculo à continuidade da ajuda emergencial, que vem estimulando a retomada; alta do desemprego ainda é esperada

Vescovi: “Um mergulho no segundo trimestre, não tanto quanto se esperava, recuperação mais forte no terceiro trimestre e a partir daí uma recuperação mais lenta, mais gradual” (UM BRASIL/Reprodução)

Vescovi: “Um mergulho no segundo trimestre, não tanto quanto se esperava, recuperação mais forte no terceiro trimestre e a partir daí uma recuperação mais lenta, mais gradual” (UM BRASIL/Reprodução)

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Bloomberg

Publicado em 25 de agosto de 2020 às 14h23.

Última atualização em 25 de agosto de 2020 às 14h25.

Os sinais de retomada da economia brasileira têm se intensificado, mas são desafiados por ameaças que vão da restrição fiscal à extensão do auxílio emergencial ao desemprego elevado, além das incertezas sobre a evolução da pandemia no país e no exterior.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que indicadores mostram uma “retomada em V” da atividade após o Caged, divulgado na sexta-feira, mostrar a criação de 131.010 empregos em julho, bem acima do esperado.

A economista-chefe do Banco Santander, Ana Paula Vescovi, ex-secretária do Tesouro, não vê retomada econômica em V e recorre a um símbolo da matemática - a raiz quadrada - para explicar o seu cenário.

“Um mergulho no segundo trimestre, não tanto quanto se esperava, recuperação mais forte no terceiro trimestre e a partir daí uma recuperação mais lenta, mais gradual”, diz ela.

A restrição imposta pelo teto de gastos em meio à deterioração fiscal é um obstáculo à continuidade da ajuda emergencial que vem ajudando na retomada da economia, diz Marcelo Toledo, economista da Bradesco Asset Management.

Ele ainda vê como restrição a um maior crescimento o desemprego, que segue acima do visto na recessão entre 2014 e 2016.

Retomada em V de serviços é mais fraca que no varejo e indústria

Retomada em V de serviços é mais fraca que no varejo e indústria (Bloomberg/Divulgação)

O cenário é de recuperação muito lenta e heterogênea porque o Brasil não progrediu no controle do coronavírus e as pessoas devem manter uma poupança precaucional ainda elevada, diz Tatiana Pinheiro, economista-chefe do BNP Paribas Asset Management Brasil.

Para ela, a transferência de renda mais do que compensou a queda da massa salarial, mas há muito setores que não são ligados às necessidades básicas com desempenho inferior, como é o caso de serviços. O “risco positivo” ao cenário seria o surgimento de uma vacina.

Economistas vêm aliviando as projeções de recessão após surpresas positivas dos últimos meses nos dados da indústria e varejo. A projeção do mercado para a contração da economia este ano chegou a atingir 6,54% em junho e voltou para -5,46% na pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central na segunda-feira.

Setores como a agropecuária e mineração terão resultados “bem razoáveis” e segmentos como construção e investimentos cairão menos que o previsto, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Entretanto, os riscos fiscais e de mercado de trabalho permanecem e podem impedir uma recuperação de longo prazo.”

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