Economia

Risco da crise política é governo ficar sem capital para reformas

Michel Temer deve aprovar no Senado a PEC do teto dos gastos, mas a reforma da previdência pode ficar prejudicada

Governo Temer: Com a crise política, retomada do crescimento econômico fica mais difícil (Ricardo Moraes/Reuters)

Governo Temer: Com a crise política, retomada do crescimento econômico fica mais difícil (Ricardo Moraes/Reuters)

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Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de novembro de 2016 às 12h03.

Brasília - A crise política que culminou na saída de Geddel Vieira Lima do cargo de ministro da Secretaria de Governo acende um sinal de preocupação no mercado em relação à capacidade do governo de avançar nas reformas estruturais necessárias para a retomada do crescimento, segundo analistas.

Ainda que não deva ter dificuldades para aprovar no Senado a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do teto de gastos, cuja votação em primeiro turno está prevista para a próxima terça-feira, Michel Temer pode ficar sem capital político para fazer passar reformas delicadas, como a da Previdência, avaliam.

A apreensão decorre da percepção de que o episódio deve elevar a insatisfação popular contra Temer e ameaçar os ajustes econômicos no longo prazo. "Sempre que um caso como esse acontece, a avaliação de risco do mercado aumenta e limita a possibilidade de o governo entregar a economia arrumada até 2018", diz a economista Zeina Latif, da XP Investimentos.

Ainda que o capital político se comprometa, a melhor resposta para a crise é o governo tocar a agenda econômica sem concessões, não recuar com os Estados e fazer com que os governadores encontrem soluções para os problemas estruturais que eles construíram, diz.

"É difícil prever com certeza as implicações da crise política no futuro das reformas econômicas, mas, se essas propostas não andarem, vai ser trágico para o Brasil. Nessa hipótese, o risco país subirá e afetará o câmbio. Vamos ter um choque inflacionário, e a política de juros será comprometida. Sem mexer nos juros, não dá para sair da crise", diz Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV.

A avaliação dos economistas é que a crise coloca uma variável a mais de incerteza, em um momento em que o mercado reduz seu otimismo com a recuperação da economia. "O episódio deixa o governo mais frágil, e ele precisa garantir as reformas, para que o Brasil não vire o Rio de Janeiro", diz Marcel Balassiano, também da FGV.

Ontem, o mercado reagiu com nervosismo aos desdobramentos da crise. Durante o dia, a moeda americana chegou a bater em R$ 3,4638 e fechou em alta de 0,40%, a R$ 3,4074. O mercado de juros futuros acompanhou o movimento do dólar, e as taxas registraram alta, sobretudo nos contratos longos. O Ibovespa chegou a cair 1,34%, mas fechou em alta de 0,27%, aos 61.559,08 pontos.

Agenda. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reafirmou ontem ter segurança de que a PEC do teto de gastos será aprovada. O comentário foi enviado por e-mail ao Estado, após ser questionado sobre os impactos do episódio no cronograma de votação. "A reforma da Previdência será enviada ao Congresso normalmente para ser discutida e votada em 2017 como previsto", acrescentou.

Apesar da sinalização de confiança, há nos bastidores preocupação com a repercussão do caso. Diversos empresários e economistas entraram em contato com o Ministério da Fazenda para ouvir da própria equipe econômica a certeza de que o ajuste fiscal está assegurado.

A reta final do ano ainda reserva outras votações importantes, como a renegociação da dívida dos Estados, a reabertura do programa de repatriação e o Orçamento de 2017.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também minimizou o estrago. Além da PEC, ele citou outros projetos na pauta de votação até o fim deste ano, como a lei de licitações.  As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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